O papel da ecotoxicologia na avaliação de impactos ambientais

Autores: Jessica Nunes, Raphaela Alt Müller e Douglas F. Peiró

Impactos à fauna marinha gerados pelo derramamento de petróleo. Fonte: Globovisión/Flickr (CC BY-NC 4.0).

Os ecossistemas costeiros sofrem com a intensificação dos impactos ambientais. A exemplo, tem-se os incidentes de plataformas petrolíferas, manchas de óleo pelos litorais ocasionadas pelo derramamento de petróleo e descargas de águas fluviais poluídas que aumentam a dispersão de contaminantes no mar, entre outros. Portanto, torna-se necessário avaliar as consequências desses eventos ao longo do litoral e no oceano. A ecotoxicologia é uma das principais ferramentas utilizadas na avaliação dos impactos antrópicos em ambientes costeiros.

O QUE É ECOTOXICOLOGIA?

A palavra “Eco” vem do grego oikos e significa “meio ambiente". Por sua vez, “toxicologia”, no grego toxikon, possui significado relacionado a “veneno”. A interseção entre as duas áreas de estudo, ecologia e toxicologia, cria a disciplina ecotoxicologia. Esta ciência investiga os efeitos prejudiciais de substâncias tóxicas sobre os ecossistemas, considerando não apenas os efeitos nos organismos individuais, mas também nas comunidades e nos processos ecológicos como um todo. A ecotoxicologia analisa como os poluentes químicos liberados no meio ambiente afetam os organismos vivos e os ecossistemas em que vivem, contribuindo assim para uma compreensão mais completa dos impactos da poluição no meio ambiente.

De maneira geral, a ecotoxicologia utiliza organismos testes para as análises dos efeitos adversos em laboratório. Organismos tais como pequenos crustáceos, o peixe-paulistinha Danio rerio e microalgas fazem parte dos bioensaios que avaliam os possíveis impactos dos contaminantes na biota aquática.

BIOENSAIOS

Os testes experimentais com metodologias específicas e realizados em laboratório são denominados bioensaios. Nos bioensaios, os organismos são submetidos à exposição a um contaminante, o que possibilita a verificação de danos causados por esse. Logo, a partir desses ensaios de toxicidade, há a possibilidade de estimar a extensão dos impactos do contaminante no ambiente e na saúde ambiental.

Além disso, esses ensaios são regulados por normas nacionais e internacionais quanto à utilização desses organismos em testes de toxicidade. A bioética se faz necessária para redirecionar os estudos científicos utilizando animais em experimentos. No ambiente marinho, bioensaios utilizam uma espécie de crustáceo copépodo, Nitocra sp., com a finalidade de avaliar prováveis impactos negativos em ambientes costeiros.

Criação de peixe-paulistinha para utilização em bioensaios. Fonte: Karol007/WikimediaCommons (CC BY-SA 3.0 DEED).

O PEQUENO CRUSTÁCEO

A Nitocra sp. é um copépodo, ou seja, faz parte de um grupo de crustáceos da meiofauna de ambientes estuarinos. Os copépodos constituem uma parte importante da cadeia alimentar marinha, uma vez que servem de alimento para peixes, camarões e até baleias. Além disso, estes animais se alimentam do fitoplâncton. Por esse detalhe, fazem uma ponte entre os organismos produtores e os predadores.

Foto da Nitocra hibernica, espécie nativa da Eurásia com ocorrência no mar negro e cáspio. Fonte: U.S. Geological Survey. (CC0).

Por ser um organismo sensível a mudanças no ambiente marinho, esse pequeno crustáceo é utilizado nos ensaios de toxicidade. Além disso possui relevância ecológica, representatividade na fauna planctônica, um ciclo de vida de curta duração e sensibilidade a diversos contaminantes. Todas essas características, qualificam-o como ótimo candidato para indicar a extensão de impactos antrópicos no meio ambiente. A presença deste organismo indica um ambiente equilibrado, enquanto sua ausência sugere o oposto, isso devido à sua sensibilidade e propensão a morrer facilmente.

Dado o contexto, a avaliação ecotoxicológica é de extrema importância no controle, regulamentação e classificação das substâncias tóxicas quanto a seu potencial de risco ambiental. Ademais, os bioensaios por utilizarem, na maior parte, animais vivos em experimentação, precisam seguir as normas e regulamentações dos comitês de ética.

Bibliografia

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