Autores: Camila Santiago, Filipe Guilherme Ramos Costa Neves e Douglas F. Peiró

Medidor de corrente incrustada de mexilhões. Fonte: GLERL/Wikimedia Commons (CC0).
Pequenos organismos podem afetar diretamente a economia e os grandes negócios. Porém esse problema vai além do simples crescimento de cracas e algas. O que de fato são esses seres e como eles prejudicam o ser humano?
A bioincrustação marinha, ou biofouling, é, de fato, um processo complexo. Acontece quando organismos se estabelecem e crescem em superfícies submersas e desenvolvem comunidades muito diversas, muitas vezes em camadas ou estratos sobre esses substratos submersos.
Já os organismos invasores são espécies que foram introduzidas em ambientes fora da sua ocorrência natural e são ameaças para o meio ambiente. O rápido crescimento populacional e a falta de predadores naturais muitas vezes permitem que essas espécies se espalhem e causem impactos significativos, competindo com as espécies nativas por recursos essenciais, como alimento e espaço.
A CULPA É DO CABRAL?
Antes de entrarmos definitivamente no tema, é importante analisarmos a história das navegações. Com o início da exploração marítima e das grandes navegações globais que ocorreram a partir do século XV e ao longo dos séculos seguintes, o homem do velho continente ganhou o mundo.
As embarcações com cascos de madeira, amplamente utilizadas naquela época, transportavam uma variedade de organismos marinhos aderidos a seus cascos e outros componentes, permitindo que essas espécies viajassem grandes distâncias e se estabelecessem em novos habitats.
Esse processo, conhecido como bioinvasão, tornou-se especialmente difícil de entender os padrões naturais de distribuição das espécies, uma vez que a introdução humana alterou drasticamente esses padrões e criou novas comunidades biológicas em diferentes partes do mundo. Como resultado, a bioinvasão se tornou um importante campo de estudo e gestão, visando compreender e mitigar os impactos negativos das espécies invasoras nos ecossistemas marinhos e costeiros.
BIOINCRUSTAÇÃO
A dinâmica da incrustação de animais marinhos compõe um processo complexo que envolve a fixação e o crescimento de uma variedade de organismos vivos nas superfícies submersas, como cascos de navios e pilares de pontes.

Inúmeras cracas brancas e lapas fixadas sobre estrutura de rocha preta. Fonte: Wilson44691/Wikimedia Commons (CC0).
Apesar de as cracas serem os animais mais comuns associados a esse tema, a bioincrustação pode abrigar uma grande diversidade de organismos, tais como algas, moluscos, poliquetos e alguns outros invertebrados marinhos. Essa comunidade de organismos, conhecida como comunidade incrustante, pode ter impactos significativos nas estruturas submersas, afetando sua durabilidade, eficiência e até mesmo a biodiversidade local.
Além disso, a bioincrustação é um problema significativo para as atividades humanas, principalmente para as atividades de transporte marítimo. Isso porque esses pequenos seres se instalam nos cascos dos navios, afetando diretamente o desempenho da embarcação (hidrodinâmica) e aumentando o consumo de combustível devido ao aumento da resistência ao movimento.
ESPÉCIES MAIS COMUNS
Não são só as cracas que se instalam nos cascos de navios. Os cascos das embarcações podem conter incontáveis colônias de animais incrustantes. Estes organismos geralmente possuem hábito escavador, possuindo a habilidade de perfurar ou escavar superfícies sólidas, como madeira e metal, para se fixar.
Dentre os organismos, encontramos: crustáceos, como cracas e percebes, e moluscos, como mexilhões, lapas e bivalves. Eles utilizam suas estruturas especializadas, como exoesqueletos ou conchas, para fixar-se e alimentar-se, enquanto contribuem para a formação da comunidade incrustante.
As espécies mais comuns associadas à bioincrustação são: cirripédios (crustáceo), bivalves (moluscos), anêmonas (organismos com ventosas), briozoários (animais “musgo”), esponjas, algas, gastrópodes (caracóis e lesmas), além das próprias cracas.

1. Pollicipes pollicipes (cirripédios), 2. Dreissena polymorpha (bivalves) , 3. anêmonas, 4. musgos, 5. Aplysina aerophoba (esponja) 6. Cladophora glomerata (algas), 7. Recluzia sp. (caracol marinho), 8. lesma marinha e 9. cracas.
Fonte: 1. Gauthier/Wikimedia Commons (CC 3.0); 2. Holger Krisp/Wikimedia Commons (CC 4.0); 3. Jbsfsax/Wikimedia Commons (CC 4.0); 5. Yoruno/Wikimedia Commons (CC 3.0); 6. W.carter/Wikimedia Commons (CC0); 7. Denis Riek/Wikimedia Commons (CC 4.0); 8. Jan Joseph George/Wikimedia Commons (CC 4.0); 9. Partonez/Wikimedia Commons (CC 4.0).
IMPACTOS AMBIENTAIS
Apesar da bioincrustação ser um processo natural, ela pode causar uma série de transtornos e prejuízos para as atividades marítimas. O termo em inglês utilizado para incrustação de organismos marinhos, “fouling”, também traz consigo o significado de sujeira, demonstrando a percepção negativa associada a esse fenômeno. Os custos globais causados pela prevenção da bioincrustação são enormes, porém essenciais, pois se não houver esse trabalho de prevenção, o prejuízo será maior do que o gasto despendido para inibir a ação desses bioinvasores. Os tipos de prejuízos estão diretamente relacionados ao tipo de estrutura em questão.
Como já mencionado, nos cascos de navios, a bioincrustação pode aumentar a resistência ao movimento, aumentando os custos operacionais, e a emissão de gás carbônico na atmosfera, contribuindo para o aumento do efeito estufa. Em estruturas como tubulações e equipamentos industriais, a incrustação pode reduzir a eficiência do fluxo de líquidos e comprometer a integridade dos materiais.
Em instalações fixas, como plataformas de exploração de petróleo, piers, docas e outras estruturas marítimas, a incrustação pode estimular a corrosão das estruturas, já que os organismos incrustantes retêm a umidade e substâncias que podem acelerar o processo de corrosão de materiais metálicos.
Portanto, compreender e gerenciar a bioincrustação é fundamental para mitigar esses impactos e garantir o funcionamento eficiente e seguro das estruturas submersas e relacionadas ao mar, bem como preservar o próprio meio ambiente.
FORMAS DE COMBATE
O problema do homem com a bioincrustação não é de hoje. O método de combate mais comum utilizado antigamente era pintar os cascos das embarcações com tintas anti-incrustantes, conhecidas como TBT (tributil estanho). O problema é que o TBT é um poluente e, além dos bioinvasores, pode causar danos à fauna e à flora marítima. Por isso, em 1990 o Comitê de Proteção ao Ambiente Marinho da Organização Marítima Internacional (IMO) resolveu regulamentar e controlar o uso de TBT.
Outra opção a ser utilizada são tintas à base de Teflon. Esse tipo de tinta não possui substâncias poluentes para matar os bioinvasores, mas possuem uma base com características físicas antiaderentes. Ou seja, o casco fica tão liso que as espécies não conseguem se fixar.
Por fim, um método natural também é utilizado. Muitas substâncias produzidas por organismos marinhos sésseis (que vivem fixadas em algo), como algas, corais ou esponjas, muitas vezes possuem propriedades químicas que ajudam a prevenir o crescimento de epibiontes, ou seja, organismos que crescem sobre suas superfícies. Essas substâncias naturais podem atuar como agentes anti-incrustantes e têm sido exploradas como fonte de inspiração para o desenvolvimento de tintas e revestimentos anti-incrustantes mais sustentáveis e eficazes.
Em resumo, a bioincrustação é geralmente vista como o crescimento indesejável de uma comunidade de organismos sésseis sobre substratos feitos pelo homem. No entanto, entendê-la é crucial para o desenvolvimento das indústrias e para a conservação dos ecossistemas marinhos. Em algumas situações, o seu crescimento é até desejável, mas isso já é assunto para um outro artigo!
Bibliografia
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TRINDRADE, L. F. Pesquisa sobre bioincrustação alerta sobre danos causados ao meio ambiente e aumento do efeito estufa. Marinha do Brasil, 2023. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/agenciadenoticias/pesquisa-sobre-bioincrustacao-alerta-sobre-danos-causados-ao-meio-ambiente-e. Acesso em: 25 maio 2024.
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