Esponjas marinhas: pilares invisíveis dos ecossistemas marinhos
- Projeto Bióicos
- há 3 dias
- 6 min de leitura
Autores: Catarina Amazonas, Filipe Guilherme Ramos Costa Neves e Raphaela A. Duarte Silveira

Esponja marinha que vive em colônia, encontrada em Aruba. Fonte: Rob Schouten/Unsplash.
As esponjas marinhas são membros do Filo Porifera e parte da linhagem mais antiga de metazoários existentes, tendo surgido durante a era Neoproterozóica. Elas não possuem tecidos verdadeiros, sistema nervoso ou musculatura, e podem viver em colônias ou sozinhas. Possuem um corpo rico em poros e são sésseis, o que significa que não se movem.
Tratam-se de animais que vivem por muito tempo, com algumas espécies capazes de viver por mais de 2 mil anos, segundo estimativas de cientistas. As esponjas também são capazes de viver em ambientes com pouca disponibilidade de oxigênio, por conta do seu metabolismo eficiente e da sua capacidade de filtrar grandes volumes de água, o que maximiza a extração do oxigênio disponível.
Elas não dependem de estruturas de carbonato de cálcio, como é o caso dos corais, os quais são diretamente impactados pela redução do pH da água. Algumas espécies de esponja têm espículas de sílica, que são mais resistentes à acidificação. Além disso, elas têm a capacidade de regular o pH interno de suas células. No entanto, vale ressaltar que, embora as esponjas demonstrem certa adaptabilidade a mudanças externas, ainda devemos considerar os impactos a longo prazo da acidificação do oceano e do aquecimento global em seus ecossistemas, uma vez que a saúde do oceano é interdependente.
A sua aparência varia de espécie para espécie, podendo ser cilíndrica, esférica, de cor neutra, ou colorida. Podem ser grandes, atingindo até 2 metros, ou minúsculas, com apenas alguns poucos centímetros de altura.
Além das propriedades físicas, as espécies apresentam uma grande variação na distribuição vertical. As esponjas podem habitar profundidades diferentes, sendo encontradas em zonas fluviais e até em fossas abissais oceânicas.

Esponja marinha Aplysina aerophoba, conhecida como esponja amarela, encontrada em Aruba. Fonte: Rob Schouten/Unsplash.
IMPORTÂNCIA
As esponjas sobrevivem em uma diversidade de ambientes, e podem ser consideradas como bioindicadores da qualidade da água, visto que são sensíveis a poluentes químicos e a eutrofização (aumento de nutrientes na água). Dessa forma, alterações na comunidade das esponjas podem fornecer informações sobre as condições do ambiente marinho, refletindo a presença de contaminantes na água ou níveis elevados de nutrientes.
As esponjas também são uma parte essencial do ecossistema marinho pela sua alimentação por filtração, isto é, elas interferem na qualidade da água conforme filtram bactérias e partículas de detrito orgânico, processando fósforo, carbono e nitrogênio, os quais, por sua vez, servem de alimento para organismos maiores. Dessa forma, a filtragem de água é fundamental para a limpeza do ambiente marinho e para a nutrição de diversas outras espécies.
Além disso, as esponjas são fonte de alimento para peixes, tartarugas, moluscos, e estrelas-do-mar, e têm a capacidade de tornar o carbono biologicamente disponível através de um tipo de fezes (“pellets de detritos”), rico em carbono e nutrientes, do qual outros organismos podem se alimentar. Elas podem, inclusive, servir como refúgio e abrigo para algumas espécies de invertebrados de pequeno porte, ou como cobertura para caranguejos do gênero Dromia, os quais se aproveitam de pedaços da esponja para formar suas carapaças.
As esponjas também têm grande valor farmacológico e comercial. Na década de 30, em alguns países, indivíduos dos gêneros Spongia e Hippospongia eram usados como esponjas de banho. Hoje, no entanto, utilizam-se esponjas sintéticas. Segundo um estudo iniciado na década de 80 pelo National Cancer Institute (Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos), as esponjas marinhas são prolíficos produtores de compostos bioativos, como os policetídeos, por exemplo, que são conhecidos como fármacos importantes com funções antibióticas, imunossupressoras, anticolesterol e anticancerígenas. Em uma pesquisa realizada pelo NOAA Alaska Fisheries Science Center (Centro de Ciências Pesqueiras do Alasca NOAA), constatou-se que a esponja marinha Latrunculina austini contém extratos químicos que podem matar células cancerígenas do pâncreas e do ovário. Amostras dessa espécie haviam sido coletadas em 2005 e enviadas para o Henry Ford Cancer Institute (Instituto de Câncer Henry Ford), após a análise de uma das pesquisadoras, a qual afirmou que a esponja “tinha um cheiro forte, o que às vezes indica que contém uma substância química com potencial para desenvolvimento de medicamentos”.
Mais recentemente, em 2022, pesquisadores da USP (São Carlos) identificaram uma série de compostos bioativos em uma esponja marinha proveniente do arquipélago de Fernando de Noronha. Alguns destes compostos foram capazes de matar bactérias resistentes a antibióticos. Segundo o grupo de pesquisadores, essa descoberta abre um novo caminho para o desenvolvimento de novos fármacos.
Devido a sua tolerância a ambientes com baixo oxigênio, acredita-se que as esponjas marinhas sobreviverão ao aquecimento do oceano, e alguns estudos sugerem que elas possam ter desempenhado um papel fundamental na oxigenação do oceano, desde o seu surgimento, há mais de 635 milhões de anos.
Outra utilidade interessante das esponjas marinhas tem relação com a arquitetura, devido a espécie Tethya aurantium (Puffball laranja). Tal espécie possui estruturas internas adaptativas para evitar seu esmagamento. Apesar de serem estruturas mais finas que fios de cabelo, muitos engenheiros acreditam que elas podem ensinar formas para aumentar a resistência de projetos arquitetônicos.

Esponja marinha da espécie Tethya aurantium (Puffball laranja). Fonte: Ed Bierman/Wikimedia Commons (CC BY 2.0).
CONSERVAÇÃO
Por desempenharem um papel ecológico importante, a conservação das esponjas marinhas é crucial para a manutenção do oceano. No entanto, estes animais enfrentam grandes ameaças, como a pesca excessiva, a coleta para uso comercial e a poluição.
Para conservar as espécies, deve haver uma ampliação nas medidas de proteção dos habitats marinhos, além da regulamentação da coleta de esponjas e o avanço de pesquisas científicas sobre as mesmas, de modo que possamos entender melhor a importância ecológica de cada espécie e suas necessidades de preservação.
Além disso, devemos nos preocupar com a conscientização pública e a educação acerca destes animais que são tão pouco reconhecidos, embora exerçam funções cruciais na defesa de ecossistemas marinhos e na prática de serviços ecossistêmicos.

Esponja marinha do gênero Spongia, encontrada em Sfax, na Tunísia. Fonte: Nadhem Benmbarek/Unsplash.
CONCLUSÃO
As esponjas marinhas são de suma importância para o equilíbrio ecológico do oceano, desempenhando funções na limpeza e na oxigenação da água, na nutrição de organismos, entre muitas outras. Adicionalmente, possuem uma variedade de aplicações tanto na medicina, quanto na biotecnologia. São, portanto, espécies de grande valor econômico e científico.
Além do intuito de proteger a biodiversidade, a conservação das esponjas marinhas significa a continuidade dos benefícios que elas proporcionam à saúde humana e à sociedade como um todo. Nesse sentido, a educação ambiental é o primeiro passo para garantir a preservação destas espécies e o seu reconhecimento como verdadeiros pilares dos ecossistemas marinhos.
Bibliografia
AZEVEDO, J. Esponjas marinhas: tudo o que você precisa saber. ECycle, 2023. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/esponjas-marinhas/#:~:text=de%20divis%C3%A3o%20celular.-,Import%C3%A2ncia,processam%20carbono%2C%20nitrog%C3%AAnio%20e%20f%C3%B3sforo>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
CANCER-fighting green sponge brings more than just good luck. NOAA, Fisheries, 2022. Disponível em: <https://www.fisheries.noaa.gov/feature-story/cancer-fighting-green-sponge-brings-more-just-good-luck>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
ESTEVES, A. I.S.; COSTA, R. Esponjas marinhas: do mar à farmácia. Boletim de Biotecnologia, v. 2, n. 5, p. 31-34, 2014. Disponível em: <https://c016222.cdn.sapo.io/1/c016222/imgs/v1/8417951655dc1a0/kitdomar/content/files/biotecnologia_2-5_web.pdf#page=33>. Acesso em: 1 de jul. de 2024
GANNON, M. Sea sponges may be behind explosion of ocean life. Live Science, 2014. Disponível em: <https://www.livescience.com/44018-sea-sponges-oxygen-ocean-life.html>. Acesso em: 1 de ago. de 2024.
JERONIMO, F. C.; SILVEIRA, R. A. D.; SEMPREBOM, T. R.; PEREIRA, A.; PEIRÓ, D. F. Poríferos: simples, mas nem tanto. Projeto Bióicos, 2018. Disponível em: <https://www.bioicos.org.br/post/poriferos-simples-mas-nem-tanto>. Acesso em: 7 de ago. de 2024.
JULIÃO, A Novos compostos descobertos em esponja do mar têm efeito contra bactérias resistentes. Jornal da USP, São Paulo, 2022. Disponível em: <https://jornal.usp.br/ciencias/novos-compostos-descobertos-em-esponja-do-mar-tem-efeito-contra-bacterias-resistentes/>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
LEE, S. Adaptive tolerance to ocean acidification in the marine sponge: Chondrilla nucula. University of Mississippi, 2012. Disponível em: <https://egrove.olemiss.edu/etd/1333/>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
MESQUITA, J. L. Maior esponja do mundo, conheça. Mar Sem Fim, 2016. Disponível em: <https://marsemfim.com.br/maior-esponja-do-mundo-e-descoberta/>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
MICARONI, V. et al. Adaptive strategies of sponges to deoxygenated oceans. Global Change Biology, v. 28, n. 6, p. 1972-1989, 2022. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/gcb.16013>. Acesso em 1 de jul. de 2024.
PEREIRA, R. G. Esponjas-do-mar, o que são? Origem e importância para a vida marinha. Segredos do Mundo, 2021. Disponível em: <https://segredosdomundo.r7.com/esponjas-do-mar/>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
7 RAZÕES do porque as esponjas do mar são animais muito legais. Greenpeace Brasil, 2017. Disponível em: <https://www.greenpeace.org/brasil/blog/7-razoes-do-porque-as-esponjas-do-mar-sao-animais-muito-legais/>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.
SANTOS, V. S. Poríferos. Biologia Net, 2024. Disponível em: <https://www.biologianet.com/zoologia/poriferos.htm>. Acesso em: 1 de jul. de 2024.