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Bycatch: ameaça invisível à biodiversidade marinha

Autores: Maria Eduarda Barbosa Brandão, Filipe Guilherme Ramos Costa Neves e Raphaela A. Duarte Silveira


A captura incidental é uma prática muito comum em navios pesqueiros. Fonte: Robert Fisher/Flickr (CC BY-ND 2.0 DEED).



Em um mundo onde mais de 3 bilhões de pessoas têm sua fonte de renda proveniente do oceano, a prática da pesca é essencial. No entanto, há uma consequência que desafia os métodos tradicionais de pesca e ameaça a biodiversidade marinha: o bycatch, a captura não intencional de espécies não-alvo. Este fenômeno, muitas vezes invisível ao consumidor final, carrega implicações sérias para os ecossistemas marinhos e à economia das comunidades costeiras. Nesse artigo vamos entender melhor sobre esse tema, seus desafios e o que pode ser feito para mitigar o seu impacto.



ENTENDENDO O BYCATCH


As redes de pesca, embora projetadas para capturar espécies específicas de alto valor, frequentemente capturam uma variedade de outros animais marinhos como consequência secundária. Bycatch é o termo usado para descrever esse fenômeno, que inclui a captura de tartarugas, golfinhos, arraias, tubarões, e numerosas outras espécies que não são o alvo da pesca. Estas capturas acidentais não são apenas uma ameaça à biodiversidade, elas representam um sério desperdício de recursos vitais em um ecossistema que já está muito afetado pelo ser humano.



EFEITO CASCATA: OS IMPACTOS DO BYCATCH


Os impactos do bycatch são profundos e variados. Ecologicamente, a remoção não intencional de espécies-chave pode desestabilizar cadeias alimentares inteiras, levando a desequilíbrios que afetam a saúde do oceano. Espécies predadoras e peixes de grande porte, muitas vezes vítimas dessas práticas, são essenciais para a manutenção do equilíbrio ecológico. Do ponto de vista socioeconômico, o bycatch pode reduzir drasticamente as populações de peixes que sustentam comunidades pesqueiras, acarretando e contribuindo para a pobreza, além de diminuir a segurança alimentar em áreas que dependem da pesca para sua sobrevivência.



AS RAÍZES DO PROBLEMA: POR QUE O BYCATCH PERSISTE?


O bycatch é frequentemente resultado de técnicas de pesca não seletivas, como a pesca de arrasto ou de cerco, onde grandes redes são usadas para capturar qualquer coisa em seu caminho. A falta de regulamentação adequada em muitas regiões do mundo e a busca incessante por lucro também contribuem para a persistência desta prática. Além disso, mudanças ambientais, como as alterações de temperatura do oceano causadas pelas mudanças climáticas, podem alterar o comportamento das espécies e aumentar a probabilidade de bycatch.


O afogamento de animais, como tartarugas-marinhas, é comum no bycatch. Por isso, é crucial adotar redes de pesca mais sustentáveis. Fonte: Salvatore Barbera/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).



COMO REDUZIR O BYCATCH?


Felizmente, a comunidade global está reconhecendo e enfrentando esse desafio. Novas tecnologias, como redes com tamanhos de malha seletivos e dispositivos de exclusão que permitem que espécies não-alvo escapem, estão sendo desenvolvidas e implementadas. Além disso, iniciativas como programas de observadores a bordo ajudam a garantir que as leis e regulamentos sejam seguidos, enquanto campanhas de conscientização aumentam a pressão pública sobre as indústrias pesqueiras para adotar práticas mais sustentáveis.


Dispositivos de exclusão de tartarugas (TEDs), por exemplo, são projetados para permitir que tartarugas-marinhas escapem das redes de arrasto enquanto ainda capturam camarões. Redes de cerco modificadas e anzóis circulares são outras inovações que têm mostrado reduzir significativamente o bycatch de espécies não-alvo. Além disso, técnicas de pesca que utilizam sons ou luzes para repelir espécies não-alvo também estão sendo exploradas.


A modificação das redes de pesca e o uso de anzóis circulares, como ilustrado na imagem, contribuem significativamente para a redução do bycatch. Fonte: Michal Klajban/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



POLÍTICAS E REGULAMENTAÇÕES


A implementação de políticas e regulamentos eficazes é crucial. As organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), promovem diretrizes para a pesca sustentável que incluem a redução do bycatch. A certificação de pescas sustentáveis, como o selo do Marine Stewardship Council (MSC), também incentiva práticas de pesca que minimizem o impacto ambiental. Muitos países estão adotando regulamentos mais rigorosos e implementando áreas marinhas protegidas onde a pesca é restrita ou proibida para permitir a recuperação das populações de espécies afetadas pelo bycatch.



CONSCIENTIZAÇÃO E EDUCAÇÃO


A conscientização da população sobre o bycatch é fundamental para promover mudanças. Campanhas educativas podem informar os consumidores sobre a importância de escolher produtos do mar que são retirados de forma sustentável. A pressão do consumidor pode motivar mudanças nas práticas de pesca e no comportamento das indústrias. Programas educativos para pescadores também são essenciais para ensinar métodos de pesca que minimizem o bycatch e promovam a sustentabilidade.



A POSSIBILIDADE DE UM FUTURO SUSTENTÁVEL


A batalha contra o bycatch não é apenas sobre a proteção da vida marinha, é também sobre garantir um futuro em que o oceano se mantém como uma fonte vital de alimento e emprego para as gerações futuras. Com o comprometimento contínuo de governos, indústrias e consumidores, e um investimento crescente em pesquisa e desenvolvimento, podemos redirecionar o curso de nossas práticas pesqueiras para um futuro mais sustentável e menos prejudicial para o mundo marinho.


Através da colaboração e da inovação, o desafio do bycatch pode ser enfrentado, protegendo nossos preciosos ecossistemas marinhos para as gerações futuras. A preservação do oceano depende de nossa capacidade de pescar de maneira sustentável, garantindo que a riqueza dos mares continue a sustentar a vida no planeta.




Bibliografia


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