Autores: Juliana De Lucca, Raphaela Alt Müller, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
Praia poluída de Punta Cana, na República Dominicana. Fonte: Dustan Woodhouse/Unsplash.
Ilha. Basta ler essa palavra para nos transportarmos para um cenário paradisíaco, de areia branca, coqueiros, rodeado por águas salgadas cristalinas.
Porém, infelizmente, as ações antrópicas (que são aquelas feitas por humanos) têm cada vez mais afetado essa paisagem. Grande parte das ilhas, habitadas por humanos ou não, tem enfrentado problemas ambientais gravíssimos como o aumento do nível do oceano, devido ao aquecimento global, e o acúmulo de lixo, principalmente plásticos.
Tão grave quanto o impacto negativo nas ilhas naturais existentes no mundo, a presença de quantidades exorbitantes de plástico no oceano é responsável pela formação das chamadas ilhas de plástico, amontoados de resíduos no meio do oceano descartados irregularmente há décadas.
ILHAS DE PLÁSTICO
Ilhas de plástico são regiões no meio do mar que concentram tanto, mas tanto plástico flutuante, que gera a impressão de como se ali existisse, de fato, uma ilha de terra firme debaixo de todo esse lixo.
Até o momento, existem cinco destas chamadas ilhas de plástico registradas na literatura científica: uma no Oceano Índico, duas no Oceano Pacífico e duas no Oceano Atlântico. Elas são formadas principalmente devido ao fluxo das correntes marítimas circulares, que carregam os resíduos e os aprisionam mais ou menos sempre no mesmo ponto. A quantidade de resíduos, e portanto, a dimensão das ilhas, aumentam exponencialmente a cada ano.
Uma das ilhas de plástico existentes no Oceano Pacífico é tão grande que já é chamada de “o 7º continente do globo terrestre”, atingindo mais de 80 mil toneladas de plástico acumulados, com locais com mais de 10m de profundidade, em uma extensão de mais de 1,6 milhão de metros quadrados (o equivalente à extensão da região nordeste do Brasil), levando-se até sete dias para atravessá-la a barco.
Por fim, pesquisas recentes mostram que as ilhas de plástico têm se tornado um ecossistema inédito, onde espécies, até então costeiras, fixam território. Muitos animais utilizam os plásticos para suas atividades diárias, como apoio para ninhos ou esconderijos. A criação de um novo ecossistema ou esses usos dos plásticos que, a princípio, podem parecer algo bom, em longo prazo podem causar um desequilíbrio ambiental de proporções ainda nem mesmo calculadas.
Plástico flutuante na água. Fonte: 7inchs/Pexels.
IMPACTOS AMBIENTAIS DO PLÁSTICO
O impacto ambiental causado pelo plástico no oceano é mundialmente conhecido: golfinhos presos a redes de pesca, tartarugas comendo sacolas plásticas e aves marinhas com bicos presos a tampas de garrafa são algumas das imagens amplamente divulgadas que rapidamente vêm à nossa mente e que refletem a catástrofe ambiental que o plástico causa diretamente aos animais marinhos e costeiros.
Filhote de albatroz descansando sobre uma rede de pesca. Fonte: NOAA Coral Reef Ecosystem Program/Flickr (CC BY 2.0).
Mais recentemente, um novo vilão apareceu nesta história: os microplásticos. Os microplásticos a princípio não parecem causar tanta comoção, pois, devido ao seu tamanho diminuto, não geram imagens tão impactantes. Porém, são partículas que apresentam toxicidade e sua presença no ambiente marinho é praticamente irreversível. O acúmulo dessas micropartículas na cadeia alimentar é tamanho que estudos recentes apontam que a maioria dos seres humanos já apresentam microplásticos dentro de seus corpos, inclusive sendo passado através do leite materno para bebês.
Microplásticos são formados a partir da degradação dos objetos plásticos maiores. Fonte: European Environmental Agency (EEA) (CC BY 4.0).
Em ambientes insulares, este cenário é agravado principalmente por dois motivos: costumam ser regiões com alta biodiversidade, portanto, um número maior de indivíduos podem ser afetado; são regiões que não costumam ser muito extensas, portanto, concentram muito lixo em pouco espaço.
Praia na Ilha de Bali, Indonésia, repleta de plástico. Fonte: Agung Parameswara/Z News Service/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).
O QUE É POSSÍVEL FAZER?
A primeira resposta a esta pergunta parece bastante simples: vamos retirar o plástico de lá! E já há muitas ONGs e equipes envolvidas de fato nesta ação, mas trata-se de um trabalho extremamente difícil e muito dispendioso financeiramente. Além disso, há vários outros problemas. Retirando-se o lixo dali, para onde encaminhá-lo, de forma que não retorne para o oceano? E os microplásticos, continuarão dispersos no ambiente aquático? Por último, talvez a mais desafiadora de todas as questões é: enquanto não houver conscientização e mudança de postura quanto aos padrões de consumo e descarte adequado de resíduos, o trabalho nunca terá fim. A solução está em não deixar este lixo ter este destino final.
Os resíduos no oceano são oriundos de diversos países, incluindo economias costeiras e especialmente grandes indústrias, entre elas a indústria pesqueira. Assim, rever os padrões de consumo atuais e promover o descarte adequado dos resíduos dependem de políticas públicas amplas, mas não se resumem apenas a isto. Ações locais, por menores que sejam, podem ajudar não somente na situação mais imediata, mas semeiam na população a educação ambiental que fortalece as decisões políticas a longo prazo.
Bibliografia
LIMA, L. O gigantesco 'mar de lixo' no Caribe com plástico, animais mortos e até corpos. BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41853621. Acesso em: 02 ago. 2023.
REDAÇÃO GALILEU. Microplásticos são encontrados em leite materno humano pela primeira vez. Revista Galileu.
https://revistagalileu.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2022/10/microplasticos-sao-encontrados-em-leite-materno-humano-pela-primeira-vez.html. Acesso em: 02 ago. 2023.
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