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Mar sem lixo: transformando resíduo em renda e conservação

Autores: Luane Rodrigues, Raphaela A. Duarte Silveira e Raphaela Alt Müller


Fotografia de dois pescadores, a direita na foto carregando sacos feitos de rede com resíduos retirados do mar. Ao lado algumas caixas de plásticos com resíduos, a esquerda um cachorro corre e ao fundo um barco grande azul e vermelho e um barco menor azul de cabeça para baixo.

Dois pescadores movimentando resíduos coletados em praia do Litoral de São Paulo. Fonte: Semil-SP.



O oceano é um grande ator quando falamos sobre a manutenção da vida no planeta. Seus serviços ambientais são fundamentais, como a regulação climática, recursos pesqueiros, biodiversidade e também o turismo. Mas sabemos que uma série de ameaças impacta este ambiente como a poluição, a pesca predatória e as mudanças climáticas. Uma série de ações é implementada para mitigar os impactos e promover a sustentabilidade. Foi assim que surgiu o programa Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) “Mar Sem Lixo” que envolve as comunidades pesqueiras do estado de São Paulo.



O QUE É O PSA MAR SEM LIXO?


O PSA é uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, implementada em 2022 pela Fundação Florestal vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), tendo como objetivo combater a poluição marinha por meio de incentivos aos pescadores artesanais para o recolhimento de resíduos que acabam sendo capturados em suas pescas.


A adesão ao programa pelos pescadores acontece de forma voluntária e eles recebem uma remuneração proporcional aos resíduos coletados, sendo o valor creditado em um cartão-alimentação e funcionando como um incentivo para incorporar a prática no dia a dia da comunidade pesqueira. Além da implementação do complemento de renda, o programa já realizou 723 atividades de educação ambiental envolvendo mais de 7 mil pessoas. Dentre essas atividades, 187 foram realizadas em período de defeso com o foco nas práticas sustentáveis.



Mapa feito através do MyMaps indicando as cidades de Cananéia, Itanhaém, Guarujá, Bertioga, São Sebastião e Ubatuba com marcadores vermelhos.

Mapa das cidades envolvidas no PSA Mar Sem Lixo. Fonte: © Luane Rodrigues 2025.



As atividades se iniciaram em Itanhaém, Ubatuba e Cananéia, tendo um grande sucesso, e em 2023 foram expandidas para as cidades de São Sebastião, Bertioga e Guarujá. Desde a sua criação, já houve a retirada de 48 toneladas de resíduos do mar, ilhas e manguezais, sendo o plástico o resíduo mais presente.


Um dos pescadores que participa do PSA, Alexandre dos Anjos, já atua há 36 anos em Itanhaém e relata que ao colaborar com o projeto, está contribuindo para a natureza por meio da limpeza do ambiente de trabalho e como retorno um complemento para a sua renda. A ação, além de melhorar a qualidade dos ambientes costeiros e marinhos, fortalece economicamente as comunidades.


Segundo dados divulgados pela Semil-SP em março de 2025, 81 dos 269 pescadores cadastrados participaram do programa em fevereiro, coletando um total de 10 toneladas de resíduos nas cidades atendidas pela ação.


Gráfico de barra empilhadas na horizontal com os seguintes dados:  Cananéia teve 6 pescadores e um total de 948 quilos de resíduos recolhidos. Bertioga teve 15 pescadores e 1074 quilos de resíduos recolhidos.  Guarujá teve 41 pescadores e 5674 quilos de resíduos recolhidos.  Itanhaém teve 4 pescadores e 345 quilos de resíduos recolhidos.  Ubatuba teve 8 pescadores e 818 quilos de resíduos recolhidos. São Sebastião teve 7 pescadores e 1005 quilos de resíduos recolhidos.

Gráfico representando a quantidade de resíduos removidos nas cidades em fevereiro de 2025. Fonte: adaptado de Semil-SP por © Luane Rodrigues 2025.



PROGRAMAS DE PAGAMENTO POR SERVIÇO AMBIENTAL MARINHO


O programa “Mar Sem Lixo” não é uma exclusividade quando falamos sobre o Pagamento por Serviços Ambientais. No território brasileiro existem iniciativas semelhantes desenvolvidas que visam preservar a biodiversidade e promover o uso sustentável dos recursos naturais. Temos como exemplo, a Matriz PSA Oceanos, uma parceria entre o Funbio, a Forest Trends e o Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas (GEF-Mar), que desde 2016 busca mapear as experiências de PSA em ambientes marinhos, traçando as oportunidades e desafios da implementação de programas com o foco no benefício da comunidade local e a mitigação de impactos para o meio ambiente.


No litoral de São Paulo, existe o PSA sob a liderança do Instituto do Mar, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que tem desenvolvido um programa com foco na conservação das raias e na gestão sustentável da pesca artesanal. Uma das bases para o desenvolvimento dessa ação é a participação ativa dos pescadores e a aplicação da ciência cidadã para o monitoramento dos impactos ambientais e socioeconômicos.


Fotografia de um pescador artesanal na Praia do Perequê, o destaque está para a sua embarcação nomeada Perseverante de tonalidade branca e azul com uma cabine e pequenas janelas. Ao lado da embarcação está o pescador com roupas sujas de areia fazendo sinal de joia.

Pescador na praia do Perequê no Guarujá, um dos maiores pontos de concentração de pescadores artesanais da região. Fonte: Luiz Coelho/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



A inclusão de diversas instituições como o Instituto Oceanográfico da USP, Instituto de Pesquisas Ambientais e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo auxiliou no sucesso do “Mar Sem lixo”. Isso porque o processo de implementação de um PSA encontra algumas lacunas a serem superadas, como definição clara dos serviços ambientais, identificar os beneficiários e criar um monitoramento eficaz. Vale ressaltar que ações como inclusão e participação das comunidades na tomada de decisão, realização de atividades em escolas e comunidades auxiliam na sensibilização ambiental e ampliam os impactos positivos dos programas.


O PSA “Mar Sem Lixo” é a integração entre conservação ambiental e inclusão social, nos últimos anos se mostrando uma solução promissora para o enfrentamento da poluição marinha e fortalecimento das comunidades costeiras. Ao alinhar com outras iniciativas no Brasil, podemos demonstrar que é possível haver um diálogo entre as pautas de preservação oceânica, desenvolvimento sustentável e inclusão dos povos tradicionais, de forma que possamos nos aproximar de um oceano mais limpo e com sua biodiversidade conservada.




Bibliografia


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