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Ouriços-do-mar: biologia e ecologia

Autores: Camila Santiago, Raphaela Alt Müller e Douglas F. Peiró



imagem de um ouriço-preto preso em um recife de coral. Ouriço na cor preta com vestígios brancos em seu corpo.

Ouriço-do-mar-preto Echinometra lucunter na praia de Toque-Toque-Grande. Foto subaquática tirada na Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte de nível Estadual, localizada em São Sebastião-SP. Fonte: Wikimedia Commons/João D’Andretta (CC BY-SA 4.0).



Os ouriços-do-mar são criaturas peculiares, seja pela sua forma de vida ou pela sua estrutura diferenciada e nada convencional, uma vez que, aparentemente, eles não possuem pernas ou nadadeiras. E onde fica a boca do ouriço-do-mar? Isso e muito mais você vai descobrir neste artigo.



OS OURIÇOS-DO-MAR


Os ouriços-do-mar são animais exclusivamente marinhos e pertencem ao filo Echinodermata (conhecido também como equinodermos), e à classe Echinoidea. Esse filo contém mais de 7 mil espécies, incluindo as estrelas-do-mar, pepino-do-mar, bolachas-da-praia, entre outros animais marinhos. Os equinodermos são conhecidos pelos seus espinhos em todo o corpo e pela forma radial.


imagem contendo diversos seres equinodermos, entre eles pepino-do-mar, (com o corpo mais alongado) estrela-do-mar, bolacha-do-mar, ouriço-do-mar (em formato radial).

Diversidade dos equinodermos e sua forma radial. Fonte: Wikimedia Commons/E. M. Grosse (CC0).



O corpo do ouriço-do-mar geralmente é esférico e sua principal característica é a presença de uma carapaça rígida, com espinhos, que atuam como forma de defesa, sendo que em algumas espécies os espinhos são venenosos. Esses espinhos são móveis e têm a capacidade de se regenerar. Embora pareça que os espinhos fazem parte do esqueleto do ouriço, seu esqueleto é interno e ele não possui cabeça. A aparência espinhosa desses animais os conferiu o nome de equinodermos (do grego, echinos = coberto de espinho; derma = pele).


Pela forma de seu corpo ser esférica, ele não possui lado de trás ou da frente, tampouco lado de cima ou de baixo. Ao invés disso, a superfície do seu corpo, onde encontra-se a boca, é conhecida como oral e a superfície oposta é conhecida como aboral.



FORMAS DE VIDA


Os ouriços vivem em contato com substratos, como as rochas e a areia e não nadam livremente pelo oceano, como os peixes. Por esta razão são chamados também de seres bentônicos (o termo “bento” é utilizado para denominar o fundo do mar em que se encontram os sedimentos).


Apesar de não nadar livremente, o ouriço-do-mar não é um animal séssil, ou seja, ele não fica fixo no fundo do mar, e se movimenta livremente. O problema é que a movimentação desses animais é lenta, conforme veremos adiante, por isso, geralmente, eles se alojam em buracos (locas-de-ouriços) e fendas, apontando todos os seus espinhos para fora como forma de proteção. Eles podem ser encontrados em diversos tipos de ambientes marinhos, tanto nos recifes mais rasos quanto em ambientes profundos, em sedimentos arenosos ou nos costões rochosos.



LOCOMOÇÃO


O ouriço-do-mar se locomove com o movimento de seus espinhos e dos chamados pés-ambulacrais. Na biologia, pé-ambulacral é o nome dado a um pequeno tubo com ventosa na ponta que é utilizado para a locomoção.


Ampliação de uma foto de um ouriço-do-mar com destaque em seus espinhos e nas ventosas presentes na ponta dos pés, que são utilizadas para locomoção.

Detalhes dos pés-ambulacrais de um ouriço-do-mar. Foto tirada em Sangenjo, Espanha. Fonte: Wikimedia Commons/Janek Pfeifer (CC BY-SA 3.0).



Então, de forma simples e resumida, para movimentar-se o ouriço estende seus pés-ambulacrais, as ventosas se fixam na superfície e quando o animal contrai os pés, acontece sua movimentação. Seus movimentos acontecem de forma muito lenta, por isso raramente conseguem fugir de algum predador.



REPRODUÇÃO


Os ouriços não possuem dimorfismo sexual, isto é, não há diferença externa na anatomia entre o macho e a fêmea, não sendo possível a diferenciação a olho nu, pois não há qualquer característica física que os diferenciam externamente.


A reprodução dos ouriços acontece de maneira externa, com os espermatozóides e os óvulos sendo liberados na água. Os espermatozóides são atraídos pela composição química dos óvulos da mesma espécie, tornando possível a fecundação na água. Após a fecundação, os embriões se desenvolvem no plâncton, iniciando a fase de larva, que é totalmente diferente do adulto. A larva se desenvolve até a fase de metamorfose, quando então ela começa a se transformar em ouriço na forma como os conhecemos.


Existem algumas espécies de ouriços que, durante a fase larval, se desenvolvem entre os espinhos da fêmea. Esse comportamento é conhecido como “brooding”. Há uma espécie encontrada no Brasil chamada Cassidulus mitis em que a fêmea mantém os embriões entre os seus espinhos desde a fecundação até a passagem pela metamorfose. Quando os espinhos do pequeno ouriço se formam, eles saem dos espinhos da mãe e passam a viver livremente no sedimento do mar.



ALIMENTAÇÃO


Os ouriços-do-mar se alimentam principalmente de algas marinhas que ficam fixas no fundo do mar ou que estão à deriva. Algumas espécies se alimentam de detritos e animais incrustados, como esponjas, restos orgânicos de detritos e de outros animais.


A boca dos ouriços está localizada na região que fica em contato com o substrato e possui um sistema de mandíbulas e músculos que são usados para a alimentação. Esse conjunto de mandíbulas e músculos são conhecidos como lanterna-de-Aristóteles.


Superfície oral de um ouriço-do-mar mostrando dentes, espinhos e pés ambulacrais. Podemos ver a boca no centro do corpo, circundada por 5 dentes. Já na parte de fora da boca, vemos diversas hastes que são os pés ambulacrais, com ventosas nas pontas, e espinhos, que não possuem nada nas pontas.

Superfície oral de Strongylocentrotus purpuratus mostrando dentes da lanterna de Aristóteles, espinhos e pés ambulacrais. Fonte: Wikimedia Commons/Wilson44691 (CC0).



PREDADORES E PAPEL ECOLÓGICO


Por serem animais com a movimentação lenta, os ouriços-do-mar costumam ser predados por lontras, estrelas-do-mar, crustáceos e polvos. Esses animais possuem adaptações evolutivas que os permitem se alimentar dos ouriços mesmo com seus espinhos.


Como muitos animais se alimentam do ouriço-do-mar, a diminuição de sua população pode afetar as populações dos animais que os predam. Como exemplo, caso os ouriços-do-mar sumissem, as lontras correriam risco de extinção, já que eles são sua fonte principal de alimento.


A presença do ouriço-do-mar é importante para controlar a abundância das algas, auxiliando no crescimento de corais e no processo de reciclagem dos detritos, já que algumas espécies de ouriço se alimentam dos compostos orgânicos presentes na água. Porém, a presença excessiva desses animais pode acarretar a eliminação das algas do ecossistema bem como causar erosões, comprometendo os recifes, além da formação dos ‘desertos de ouriços’, com a área toda dominada por algas calcárias.


A abundância ou a falta do ouriço pode modificar a dinâmica de um ecossistema inteiro, causando um desequilíbrio ecológico. O ouriço-do-mar é considerado uma espécie-chave e o equilíbrio das interações predador-presa é essencial para a manutenção do ecossistema em que ele vive.




Bibliografia


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