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Tartaruga-gigante: um dos maiores répteis do mundo

Autores: Maria Clara Silva Bicharra, Raphaela Alt Müller, Thais R. Semprebom, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró


Foto de uma tartaruga-de-couro adulta, realizando a confecção do ninho na areia de uma praia para realizar a postura de seus ovos. Ao fundo há a visão de uma bela praia, do oceano e da vegetação de restinga.

Tartaruga-de-couro realizando desova em uma praia. Fonte: Julia Travels/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



A tartaruga-de-couro é a maior espécie de tartaruga marinha que existe atualmente, ela é um dos maiores répteis do planeta!


Dentre as espécies de tartarugas, a tartaruga-de-couro é uma das que desperta maior curiosidade e encanto em boa parte das pessoas, especialmente por serem tão diferentes das outras tartarugas marinhas.



UM DOS MAIORES RÉPTEIS DO PLANETA


As tartarugas são animais que pertencem ao grupo dos quelônios, e as tartarugas marinhas são divididas em duas famílias distintas: Cheloniidae e Dermochelyidae. O primeiro grupo compreende seis das sete espécies existentes de tartarugas marinhas; já o segundo grupo, possui uma única espécie como membro, denominada Dermochelys coriacea, a tartaruga-de-couro.


A tartaruga-de-couro é uma espécie que distingue-se claramente dos representantes da família Cheloniidae, com características muito marcantes. Possuindo uma carapaça com sete quilhas longitudinais, longas nadadeiras dianteiras e a pele com textura coriácea, os adultos dessa espécie podem chegar a mais de 2 metros de comprimento e pesar em média de 400 a 600 kg. Já foi encontrado, porém, um indivíduo que pesava mais de 900 kg!


Seu casco tem coloração em tons de preto azulado, com uma quantidade variável de pequenas manchas brancas. Não possui escamas na pele ou placas em seu casco, como as demais espécies. O que recobre o casco e todo o corpo da tartaruga-de-couro é uma camada de pele mais grossa, a qual se assemelha muito à textura e aparência de um couro, e por essa razão a tartaruga recebe esse nome.


Foto de duas tartarugas de couro adultas realizando a confecção do ninho na areia de uma praia para realizar a postura de seus ovos.

Indivíduos da espécie Dermochelys coriacea (tartaruga-de-couro) desovando em uma praia. Fonte: Jordan Beard/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



As tartarugas-de-couro são animais migratórios, que passam a maior parte da sua vida em ambiente pelágico, no mar aberto, afastada muitos quilômetros da costa. Quando comparada às demais espécies, elas possuem uma distribuição geográfica muito mais ampla, podendo ser encontradas desde as águas tropicais do Atlântico Sul, nos oceanos Pacífico e Índico, até nas águas frias ao norte do Canadá e Noruega.



REPRODUÇÃO E ALIMENTAÇÃO


Apesar da ampla distribuição das tartarugas-de-couro, suas áreas de reprodução ocorrem somente em regiões tropicais do globo, as mais quentes. Globalmente, essa espécie desova principalmente na costa africana, na América Central e na América do Norte, e em alguns países que rodeiam o Oceano Índico. Aqui no Brasil, a tartaruga-de-couro tem uma área de desova regular muito específica, localizada no litoral do Espírito Santo, especialmente mais próximo à foz do Rio Doce.


Foto de aproximadamente 20 filhotes de tartaruga de couro dentro do ninho se movimentando para iniciar sua caminhada em direção ao mar, já com um dos um filhotes fora do ninho caminhando na areia em direção ao oceano.

Nascimento de filhotes de tartaruga-de-couro. Fonte: Elise Peterson/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).



A tartaruga-de-couro tem uma alimentação muito específica, isso porque elas se alimentam quase exclusivamente de zooplâncton gelatinoso, como águas-vivas e tunicados, podendo ingerir cerca de 600 águas-vivas por dia! E como essas tartarugas vivem grande parte da vida em alto mar, raramente elas chegam próximo da costa.


Algumas modificações na parte externa e na parte interna da boca dessas tartarugas auxiliam nessa alimentação tão específica. A parte frontal da boca tem um formato de “W”, e isso faz com que seu bico seja mais pontiagudo, assim, sua mandíbula é perfeitamente adaptada a uma dieta de animais gelatinosos e de corpo mole, pois facilita a captura de suas presas. Além disso, na parte interna do aparelho bucal, também há uma quantidade muito maior de papilas, as quais são estruturas que se assemelham muito com espinhos, e essas são responsáveis por reter o alimento.


Foto mostrando o aparelho bucal de uma tartaruga de couro,onde o animal está com a boca aberta e é possível ver tanto o formato em “W” da parte frontal da boca quanto as papilas em seu interior.

Cabeça de uma tartaruga-de-couro mostrando as papilas no interior da boca. Fonte: Internet Archive Book Images/Flickr (CC0).



TERMORREGULAÇÃO


As tartarugas-de-couro são uma das espécies mais estudadas entre as tartarugas marinhas. Algo que intriga muitos pesquisadores e é objeto de estudo de muitos cientistas é a capacidade de termorregulação desses animais. Mas os répteis não são animais ectotérmicos?


Animais ectotérmicos são aqueles que não possuem a capacidade de regular sua temperatura corporal sozinhos, e dependem da temperatura do ambiente para fazer sua termorregulação. Portanto, em ambientes com temperaturas baixas, esses animais diminuem seu metabolismo e podem até entrar em hibernação. Já os animais endotérmicos são aqueles que conseguem regular sua temperatura interna de forma independente, ou seja, eles são capazes de realizar a termorregulação de acordo com sua necessidade e não dependem da variação da temperatura ambiente. No caso das tartarugas-de-couro, mesmo sendo répteis, elas possuem uma termorregulação diferenciada, e são capazes de manter a temperatura corporal elevada em águas frias, usando um conjunto único de adaptações fisiológicas e comportamentais que lhes permite regular sua taxa de perda e ganho de calor.


Essas adaptações incluem grande tamanho corporal, mudanças na atividade de natação e no fluxo sanguíneo e uma espessa camada de gordura. Por serem animais enormes, acredita-se que seu tamanho desempenha um papel fundamental na regulação da temperatura. Isso porque as tartarugas-de-couro possuem uma área de superfície pequena em relação ao seu volume corporal. Dessa forma, a temperatura central da tartaruga muda em um ritmo muito mais lento, ou seja, em ambientes frios ela perde calor mais devagar. Além disso, elas têm uma camada de gordura muito espessa, o que também ajuda a conservar sua temperatura corporal.


Imagem de uma tartaruga de couro na praia mostrando de forma próxima e os detalhes da cabeça e rosto do animal.

Imagem de uma tartaruga-de-couro na praia. Fonte: Rabon David, U.S. Fish and Wildlife Service/Wikimedia Commons (CC0).



Um estudo mostrou que as tartarugas-de-couro, quando expostas a águas frias (16 °C), se tornavam muito mais ativas, sendo registradas de 29 a 36 braçadas por minuto. E quando os animais eram expostos a temperaturas um pouco mais elevadas (22°C) essa taxa caía consideravelmente, para 2 a 8 braçadas por minuto. Então foi constatado que em temperaturas menores as tartarugas ficam mais ativas e sua temperatura corporal aumenta, ficando mais quente em relação ao ambiente; e em temperaturas maiores, elas ficam menos ativas e sua temperatura corporal quase se igualava à do ambiente externo. Isso demonstra que esses animais também usam o movimento corporal (que gera calor metabólico) para regular sua temperatura de acordo com o ambiente ao qual está exposta.


Porém, a termorregulação nesses animais ainda é um assunto que ainda gera muitas discussões entre os pesquisadores e que é muito estudado, não havendo um consenso para responder de fato a essa pergunta.



A tartaruga-de-couro é um dos animais mais fascinantes da natureza. Sendo tão diferentes das outras espécies de tartarugas marinhas, com um ciclo de vida tão complexo e com características únicas, desde uma alimentação especializada até suas adaptações para regular sua temperatura corporal, ela é um dos maiores répteis viventes, e encanta diversas pessoas no mundo todo.




Bibliografia


BOSTROM, L. B. et al. Behaviour and Physiology: The Thermal Strategy of Leatherback Turtles. Plos One, v. 5, n. 11, 2010. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0013925. Acesso em: 29 de jul. 2023.


CASEY, J. P. et al. Behavioral and metabolic contributions to thermoregulation in freely swimming leatherback turtles at high latitudes. Journal of Experimental Biology, v. 217, n. 13, p. 2331–2337, 2014. Disponível em: https://journals.biologists.com/jeb/article/217/13/2331/12279/Behavioral-and-metabolic-contributions-to. Acesso em: 27 de jul. 2023.


LEATHERBACK Sea Turtle. National Geographic, 2010. Disponível em: https://www.nationalgeographic.com/animals/reptiles/facts/leatherback-sea-turtle. Acesso em: 29 de jul. 2023


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REIS, E. C.; GOLDBERG, D. W. Biologia, ecologia e conservação de tartarugas marinhas. In: Reis, E. C. Curbelo-Fernandez, M. P. Editoras. Mamíferos, quelônios e aves: caracterização ambiental regional da Bacia de Campos, Atlântico Sudoeste. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 7. p. 63-89. 2017. Disponível em: http://www.projetotamar.org.br/publicacoes_html/pdf/2017/2017_Biologia_Ecologia_e_conservacao_de_tartarugas_marinhas.pdf Acesso em: 30 de jul. 2023


REIS, E. C.; GOLDBERG, D. W. Pesquisa e conservação de tartarugas marinhas no Brasil e as recentes contribuições da telemetria e da genética. In: Reis, E. C. Curbelo-Fernandez, M. P. Editoras. Mamíferos, quelônios e aves: caracterização ambiental regional da Bacia de Campos, Atlântico Sudoeste. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 7, p. 91–120. 2017. Disponível em: https://www.tamar.org.br/publicacoes_html/pdf/2017/2017_Pesquisa_e_conversacao_de_tartarugas_marinhas_no_Brasil_e_as_recentes_contribuicoes_da_telemetria_e_da_genetica.pdf Acesso em: 30 de jul. 2023.











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