Autores: Lívia Serezani Munhoz, Filipe Guilherme Ramos Costa Neves, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró
Temperatura da superfície do oceano a partir de observações infravermelhas - julho de 1984, variam conforme as cores sendo vermelho mais quente, seguido por laranja, amarelo, verde e azul com águas mais frias. Fonte: NASA/WikimediaCommons (Domínio Público).
Existem eventos climáticos por todo o planeta Terra. Chamamos de fenômenos climáticos-oceânicos eventos que ocorrem naturalmente (sem interferência humana) tanto na atmosfera quanto no oceano. Dentre esses fenômenos, podemos citar o El Niño e a La Niña, que ocorrem no sul do Oceano Pacífico e afetam diretamente a América do Sul, Oceania e sul-asático. E, indiretamente, afetam todo o clima global, também influenciando a economia de alguns países. Esses fenômenos ocorrem devido às alterações na força dos ventos alísios.
Para entender os impactos gerados, devemos compreender como estes fenômenos ocorrem.
CONDIÇÕES NORMAIS DO SUL DO PACÍFICO
Em condições normais, ou seja, sem a presença do El Niño ou La Niña, a temperatura das águas do sul do Oceano Pacífico são reguladas através de correntes frias e ventos.
Quanto mais próximas da linha do Equador, as águas tendem a ser mais quentes, algo que ocorre naturalmente devido à incidência de luz solar. Mesmo próximas à linha do Equador, essas águas normalmente são frias, porque recebem a corrente de Humboldt (corrente que se inicia próximo à Antártica e segue pelo norte do Pacífico, sendo considerada uma das mais frias do planeta). A água fria é mais densa que a água quente, sendo assim, a água quente fica na superfície, enquanto a fria fica na profundidade. Naturalmente, a força dos ventos alísios (deslocamento de massas de ar que ocorrem nos trópicos em direção ao equador) “empurram” a água quente da superfície na direção oeste, uma vez que a água superficial (quente) é levada pelos ventos alísios, ocorre a ressurgência da água fria.
Representação da atividade da corrente de Humboldt e dos ventos alísios em condições normais. (A) Corrente de Humboldt, (B) ventos alísios, (C) águas da superfície (quentes) são empurradas para oeste pelos ventos alísios e (D) ressurgência de águas frias. Fonte: © 2023 Lívia Serezani Munhoz.
EL NIÑO
No ano em que o El Niño ocorre, por alguma razão ainda desconhecida, os ventos alísios ficam enfraquecidos e não conseguem empurrar a água quente da superfície. Assim, a água fria trazida pela corrente de Humboldt permanece nas profundezas e pouca água quente chega à Oceania.
Representação da atividade da corrente de Humboldt e dos ventos alísios em ano de El Niño. (A) Corrente de Humboldt, (B) ventos alísios enfraquecidos, (C) Oceania recebe pouca ou nenhuma água quente e (D) água quente permanece na superfície, acima das águas frias. Fonte: © 2023 Lívia Serezani Munhoz.
Essa anomalia causa impactos climáticos diretamente na América do Sul e Oceania e, indiretamente em todo o mundo.
Esquema da atividade da corrente de Humboldt e dos ventos alísios em condições normais e em ano de El Niño dentro do oceano. (A) Corrente de Humboldt, (B) ventos alísios, (C) águas da superfície (quentes) são empurradas para oeste pelos ventos alísios, (D) ressurgência de águas frias, (F) ventos alísios enfraquecidos, (G) água fria com maior densidade permanece na profundidade, (H) água quente permanece na superfície, acima das águas frias. Fonte: © 2023 Lívia Serezani Munhoz.
LA NIÑA
O fenômeno La Niña acontece quando os ventos alísios, por algum motivo, ficam mais fortes, uma quantidade maior de massa de águas superficiais (quentes) são carregadas à oeste causando um superaquecimento do sudeste da Ásia e leste da Oceania e, por sua vez um super resfriamento do oeste da América do Sul.
Representação da atividade da corrente de Humboldt e dos ventos alísios em ano de La Niña. (A) Corrente de Humboldt, (B) ventos alísios mais fortes, (C) Oceania recebe mais água quente e fica superaquecida, (D) ressurgência de águas frias, tornando as águas muito geladas. Fonte: © 2023 Lívia Serezani Munhoz.
IMPACTOS DE EL NIÑO E LA NIÑA
No El Niño as águas que costumam ser frias no litoral do Peru, Chile e Equador ficam aquecidas, prejudicando diretamente a pesca na região. Isso porque em condições normais, com a ressurgência das águas frias no litoral desses países, a matéria orgânica do fundo do oceano emerge contribuindo para a reprodução de plâncton atraindo muitos peixes, contribuindo para a pesca e economia local. Além disso, a ausência de águas quentes que evaporam no sudoeste do Pacífico tornam a Oceania pouco úmida e favorece a seca.
No entanto, no ano de La Niña, a pesca é muito favorecida e na Oceania ocorrem muitas enchentes. Outras regiões do mundo também acabam sendo afetadas devido ao El Niño, como: aumento de chuvas no sudeste dos EUA, zonas de secas no Sudeste asiático, centro da África e Nordeste brasileiro, além de chuvas tropicais no centro do Pacífico.
Impactos climáticos causados ao redor do planeta no ano de El Niño nos meses de Dezembro a Fevereiro. Fonte: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos El Niño Oscilação Sul.
Impactos climáticos causados ao redor do planeta no ano de La Niña nos meses de Dezembro a Fevereiro. Fonte: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos El Niño Oscilação Sul.
CONCLUSÃO
É importante entender como os eventos climáticos podem afetar todo o ambiente terrestre, qualquer alteração natural ou antrópica pode causar um efeito cascata e prejudicar os ritmos de todo o planeta. Como cidadãos, devemos estar atentos e lutar pela causa climática, preservando nossa biodiversidade e as condições necessárias para esta continuar existindo.
Bibliografia
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