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Ave que não voa? Iguana marinha? Descubra algumas das espécies que habitam as Ilhas Galápagos

Autores: Maria Eduarda Barbosa Brandão, Filipe Guilherme e Raphaela Alt Müller


Fotografia de um cormorão-de-Galápagos com asas abertas enquanto seca suas penas em uma rocha vulcânica, com o mar ao fundo.

O cormorão-de-Galápagos Phalacrocorax harrisi é uma ave que não consegue voar. Suas asas curtas desempenham um papel importante na natação. Fonte: Charles J. SharpeWikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



As Ilhas Galápagos, um arquipélago vulcânico localizado no Oceano Pacífico, formam um dos ecossistemas marinhos mais produtivos do mundo. Segundo a Galápagos Conservancy, aproximadamente 80% das aves terrestres, 97% dos répteis e mamíferos terrestres, e mais de 20% das espécies marinhas são encontradas exclusivamente nessas ilhas. Isso se deve ao resultado da influência simultânea de quatro correntes oceânicas, frias e quentes, somado ao isolamento geográfico da região. Nesse artigo vamos conhecer algumas espécies marinhas endêmicas que despertaram o interesse de Charles Darwin, em sua época.



CORMORÃO-DE-GALÁPAGOS: A AVE QUE NÃO VOA


O cormorão-de-Galápagos é o único de 40 espécies de cormorões que não consegue voar. A principal hipótese é que essa adaptação genética ocorreu devido a ausência de predadores naturais e a abundância de alimento, de modo que, após séculos de evolução, o cormorão-marinho de Galápagos tem apenas asas vestigiais, mas desenvolveu excelentes habilidades de natação para caçar os seus alimentos, como peixes costeiros, polvos, lulas e enguias. Em 2022, a Diretoria do Parque Nacional de Galápagos estimou apenas 2.085 indivíduos. A espécie é considerada vulnerável à extinção pela IUCN devido a ameaças potenciais de predadores como serpentes, corujas, falcões, ratos, gatos e tubarões.



UM LAGARTO MARINHO? SIM, EXISTE!

Fotografia de Iguanas marinhas descansando em uma praia de areia branca, cercada por manguezais, na Baía Tortuga, Ilha Santa Cruz, Galápagos. O céu está limpo e o mar azul está ao fundo.

Iguanas-marinhas Amblyrhynchus cristatus na Tortuga Bay, na Ilha de Santa Cruz. Esses animais possuem glândulas especiais no nariz que lhes permitem expelir o excesso de sal ingerido ao se alimentar no oceano. Fonte: Diego Delso/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



A iguana-marinha Amblyrhynchus cristatus é a única espécie de lagarto marinho do mundo. Ela raspa algas verdes das superfícies de rochas submersas usando seus característicos dentes de três pontas. A temporada reprodutiva das iguanas marinhas é de maio a julho e as fêmeas escavam ninhos nas praias arenosas. Seu sucesso em chocar e sobreviver é um importante indicador da saúde do ambiente marinho.


Uma peculiaridade desses animais é que as iguanas adultas alternam entre crescimento e encolhimento corporal ao longo da vida – uma adaptação aos ciclos de expansão e retração em Galápagos associados ao El Niño. Pesquisadores acreditam que a absorção óssea é responsável por grande parte dessa redução, com as iguanas literalmente digerindo parte de seus ossos para sobreviver.



PINGUINS-DAS-GALÁPAGOS

Fotografia de Grupo de pinguins de Galápagos em uma rocha vulcânica na costa de uma ilha. Alguns pinguins estão de pé, enquanto outros estão deitados ou se limpando. A cena é iluminada por luz suave, destacando o ambiente rochoso e a água ao redor.

A maior parte da população dos pinguins-de-galápagos se concentra nas ilhas Isabela e Fernandina. Fonte: Adavyd/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



Cientificamente conhecido como Spheniscus mendiculus, esses pinguins são endêmicos de Galápagos e considerados um dos menores pinguins do mundo. A população de cerca de 2000 indivíduos se concentra nas águas mais frias do arquipélago. Eles se reproduzem o ano todo, nidificam ao nível do mar em cavernas e se alimentam próximo à costa em profundidades rasas.


Apesar de a população atual ser relativamente estável, a espécie é classificada como Ameaçada pela IUCN devido ao pequeno tamanho populacional, alcance restrito e vulnerabilidade ao El Niño, que provoca variações na população.



LEÃO-MARINHO-DAS-GALÁPAGOS

Fotografia de Lobo-marinho de Galápagos descansando na beira da praia, parcialmente na água. O animal está voltado para o lado, com seu corpo brilhante e molhado contrastando com a areia e as ondas suaves ao fundo.

A espécie Zalophus wollebaeki é endêmica de Galápagos e é considerada ameaçada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Fonte: Diego Delso/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



Com uma população de cerca de 50.000 indivíduos, os leões-marinhos de Galápago são frequentemente encontrados esparramados nas docas, nos bancos ou descansando em praias ou costas rochosas por todas as ilhas. A sua alimentação é majoritariamente composta de peixes que caçam em longas viagens de forrageamento. Embora pareça carismático, principalmente ao encontrá-lo em um mergulho, é preciso lembrar que é um animal selvagem e pode apresentar um comportamento imprevisível.



EVENTOS CLIMÁTICOS


Eventos climáticos extremos como El Niño-Oscilação Sul (ENOS) e La Niña impactam a biodiversidade das Ilhas Galápagos, afetando ecossistemas marinhos e terrestres. Durante El Niño, o aquecimento das águas do Pacífico reduz a produtividade marinha, prejudicando a cadeia alimentar. O evento de 2015-2016 trouxe consequências graves para espécies como o pinguim-de-Galápagos Spheniscus mendiculus e a iguana-marinha Amblyrhynchus cristatus, com quedas populacionais de até 77% nos pinguins e de 30% a 50% nas iguanas. Cientistas alertam que a recuperação dessas populações pode levar décadas.


Já o fenômeno La Niña, com o resfriamento das águas, favorece os ecossistemas marinhos, melhorando a disponibilidade de alimentos e auxiliando a recuperação de espécies como pinguins e leões-marinhos. Porém, nas terras, a redução das chuvas causa secas severas, afetando a vegetação e espécies dependentes de água doce. A fauna terrestre, como os tentilhões de Darwin, enfrenta dificuldades pela escassez de recursos alimentares. Esses fenômenos climáticos extremos destacam a vulnerabilidade das Galápagos, amplificada pelas mudanças climáticas globais.



ESPÉCIES INVASORAS


As espécies invasoras representam uma grande ameaça à biodiversidade das Ilhas Galápagos, incluindo os ecossistemas marinhos. Introduzidas por atividades humanas, elas competem com as espécies nativas por recursos e alteram habitats essenciais. Invasores como algas e invertebrados podem sufocar corais, prejudicando a fauna local, incluindo espécies endêmicas que dependem desses habitats. Além disso, predadores invasores podem reduzir populações de espécies marinhas nativas, comprometendo o equilíbrio ecológico.


Desde 2012, o número de espécies não-nativas identificadas nas Galápagos passou de 5 para 53, incluindo a alga Caulerpa racemosa e o tunicado Botrylloides niger. Essas espécies competem diretamente com as nativas por espaço e recursos, colocando em risco a biodiversidade da região. O monitoramento e a pesquisa têm sido fundamentais para controlar essas invasões, prevenindo impactos irreversíveis ao ecossistema marinho.


Outras espécies, como a alga Caulerpa chemnitzia e o hidróide Pennaria disticha, causam grande impacto nos recifes de corais, competindo por espaço e nutrientes. Eventos climáticos, como o El Niño, agravam a proliferação dessas espécies invasoras, tornando o ecossistema marinho ainda mais vulnerável. O monitoramento contínuo e o uso de técnicas como transectos são essenciais para medir o avanço dessas algas e orientar políticas de conservação eficazes.


Além das invasões marinhas, espécies terrestres também influenciam o equilíbrio ecológico de Galápagos. Um estudo sobre a introdução de formigas invasoras na Ilha Floreana identificou 14 espécies, sendo que 10 são invasoras. Entre elas, a Solenopsis geminata tem se expandido rapidamente, competindo por alimentos com as formigas nativas e afetando o ecossistema como um todo. Outro exemplo é a Monomorium destructor, cuja introdução resultou na restrição de outras espécies a áreas limitadas, exacerbando o impacto sobre as espécies que dependem das mesmas fontes de alimento.



IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE DE GALÁPAGOS


A biodiversidade das Ilhas Galápagos é um tesouro natural de grande importância para a ciência e a conservação global. Com espécies endêmicas que desempenham papéis cruciais no equilíbrio ecológico, as ilhas funcionam como um "laboratório natural", onde a evolução em isolamento oferece descobertas impressionantes, como as de Charles Darwin. Esse ecossistema é essencial para a pesquisa sobre adaptação e resiliência, além de manter a saúde do oceano e o clima. No entanto, sua vulnerabilidade frente às mudanças climáticas e à invasão de espécies destaca a urgência de preservá-lo, tanto para proteger o ecossistema local quanto para o equilíbrio ambiental global.



Bibliografia


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