Autores: Talita Sant’Ana Chervenka, Raphaela A. Duarte Silveira, Raphaela Alt Müller e Douglas F. Peiró
Afloramento de corais na antiga cidade de Palmyra, em um oásis perto da atual cidade de Tadmor, Síria. Fonte: Kydd Pollock/WikimediaCommons (CC BY 2.0).
Todos os seres vivos possuem interações com outras espécies. Algumas dessas interações são mais específicas como a simbiose, que é derivado da palavra grega sym, que significa “junto”, e bios, que significa “vida”. São diferentes organismos vivendo juntos, cada qual com seu comportamento, genética e morfologia únicos, podendo ou não haver benefícios entre eles.
TIPOS DE SIMBIOSE
O mutualismo ocorre quando os dois organismos se beneficiam da presença um do outro, como por exemplo o peixe-palhaço e a anêmona. Nessa simbiose o peixe-palhaço recebe a proteção da anêmona contra predadores, pois em seus tentáculos há toxinas que agridem os animais que tentam predar o peixe-palhaço, e as anêmonas, em troca, se alimentam dos restos de alimentos que o peixe-palhaço ingere.
Peixe-palhaço e anêmona-do-mar. Fonte: Triniti14045/WikimediaCommons (CC BY-SA 4.0).
O comensalismo ocorre quando um dos organismos se beneficia e o outro não é beneficiado nem afetado, como por exemplo as cracas e as baleias. As cracas são crustáceos que se fixam na pele da baleia e se alimentam dos restos de alimento presos no substrato. A baleia não recebe nenhum tipo de benefício e a presença das cracas não a afetam.
Baleia-jubarte, Megaptera novaeangliae, com várias cracas na pele. Fonte: Annette Teng/WikimediaCommons (CC BY 3.0).
O parasitismo ocorre quando um organismo é beneficiado e o outro é prejudicado, como por exemplo os isópodes e os peixes. Os isópodes são pequenos crustáceos que se alimentam do próprio tecido de peixes. Já o peixe é prejudicado pela presença dos isópodes, pois seus tecidos são ingeridos por eles, ou então os isópodes obstruem a passagem de água ou alimento pela boca do peixe.
Um isópode dentro da boca de um peixe. Fonte: Marco Vinci/WikimediaCommons (CC BY-SA 3.0).
O amensalismo ocorre quando um organismo prejudica o desenvolvimento ou crescimento de outras, como por exemplo os dinoflagelados e o ecossistema em sua volta. Quando os dinoflagelados crescem muito em número, eles liberam toxinas na água afetando todos os organismos em seu ambiente, como exemplo o fenômeno conhecido como maré vermelha.
Maré vermelha causada por dinoflagelados na Califórnia. Fonte: Alejandro Diaz/WikimediaCommons (CC0).
Além desses tipos, a simbiose varia com o nível de dependência, dividida em simbiose obrigatória e simbiose facultativa, e a associação física entre os organismos, que é dividida em endossimbiose e ectossimbiose.
A simbiose obrigatória ocorre quando a sobrevivência de um organismo depende da presença do outro, como por exemplo os corais e as zooxantelas . As zooxantelas são microalgas que atuam como fontes nutricionais para os corais, sendo imprescindíveis para sua sobrevivência.
A simbiose facultativa ocorre quando a sobrevivência de um organismo não depende da presença do outro, mas ambos se beneficiam, como por exemplo o caranguejo-eremita e as anêmonas. Os caranguejos-eremita recebem proteção das anêmonas, por seus tentáculos terem substâncias urticantes para os potenciais predadores, e as anêmonas recebem os restos dos alimentos processados pelo caranguejo-eremita.
Caranguejo-eremita Calcinus laevimanus e anêmona-do-mar Calliactis na simbiose facultativa. Fonte: Inglória de Brocken/WikimediaCommons (CC BY-SA 3.0).
A endossimbiose ocorre quando um organismo vive dentro do corpo do outro, como por exemplo as microalgas intracelulares que residem dentro das células dos corais, fornecendo nutrientes para a sobrevivência do coral. Outro exemplo é uma bactéria extracelular que reside entre as células do coral.
A ectossimbiose ocorre quando um organismo reside fora do corpo do outro, mas está em constante contato com a pele, como por exemplo as bactérias na pele de um peixe. Outro exemplo é o peixe limpador que remove parasitas e tecidos mortos da pele de outro animal.
Peixe Novaculichthys taeniourus sendo limpo por dois peixes menores da espécie Labroides phthirophagus, demonstrando a ectossimbiose. Fonte: Inglória de Brocken/WikimediaCommons (CC BY-SA 3.0).
FATORES DE ESTRESSE
As relações simbióticas dependem de alguns fatores para que os organismos consigam se adaptar e sobreviver. Sendo os fatores, a duração dessa relação, a frequência em que ela ocorre, e o nível de estresse que a simbiose causa nos próprios organismos.
O estresse pode ter origem em uma variedade de fatores, os quais podem ser agrupados em três principais áreas. Primeiramente, temos o estresse decorrente das condições oceânicas, influenciado por elementos como temperatura, nutrientes, pressão, oxigenação, salinidade, luminosidade e pH. Em seguida, surge o estresse relacionado aos organismos marinhos, resultado de seu ciclo de vida, processos de envelhecimento, interações com patógenos, predadores e reprodução. Por fim, há outros estresses, como a poluição sonora, presença de toxinas, variações na temperatura e atividades associadas ao desenvolvimento costeiro.
Além desses fatores, a própria simbiose pode ser um fator de estresse, como por exemplo a transmissão de microrganismos que agem como simbiontes. Esses microrganismos podem ser transferidos para outro animal por meio da transmissão vertical (em que é passado dos pais para os filhotes) e a horizontal (em que é adquirido através do ambiente ao redor do organismo). Os microrganismos passam por fatores estressantes como a mudança de pH e as alterações do hospedeiro, como a nutrição, resposta do sistema imunológico e habitat para sobreviverem. Além do sistema imunológico do próprio hospedeiro que precisa se adaptar com o novo simbionte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível observar que existem diferentes formas de interações entre os organismos marinhos, como os exemplos o mutualismo, comensalismo, parasitismo, amensalismo, ectossimbiose e endossimbiose. Os organismos simbióticos também passam pelo estresse que podem prejudicá-los, seja por fatores externos ou pela própria interação entre si. Para saber ainda mais sobre as interações simbióticas e como elas ocorrem no mar, leia nosso outro artigo sobre o assunto “Interações simbióticas e como elas ocorrem no mar”.
Bibliografia
APPRILL, A. The role of symbioses in the adaptation and stress responses of marine organisms. Annual Review of Marine Science, v. 12, p. 291-314, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1146/annurev-marine-010419-010641. Acesso em: 07 mar. 2024.
PINHEIRO, J. et al. Filo Dinoflagellata. Open Science Research IV, v. 4, 2022. Disponível em: https://downloads.editoracientifica.com.br/articles/220408628.pdf. Acesso em: 09 abr. 2024.
TIRICHINE, L.; PIGANEAU, G. Algal symbiotic relationships in freshwater and marine environments. Frontiers in Plant Science, v. 14, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fpls.2023.1155759. Acesso em: 07 mar. 2024.
ความคิดเห็น