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Cracas: competindo por espaço

Autores: Lívia Serezani Munhoz, Filipe Guilherme Neves, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró


Ilustração de um costão rochoso com a presença de duas espécies diferentes de cracas. Na região superior há a espécie Chthalamus, que apresenta poucos indivíduos de cor laranja e, na parte inferior, indivíduos de Balanus de cor rosa e com uma quantidade maior de representantes.

Representação da distribuição espacial das cracas Chthamalus stellatus e Semibalanus balanoides em um costão rochoso. Fonte: © 2024 Lívia Serezani Munhoz.



O costão rochoso é um ambiente afetado por características, como: a força das marés, a dessecação, a força mecânica das ondas, entre outros. Mesmo assim, diversas espécies habitam esse ambiente, como as cracas, um grupo de crustáceos sésseis. Neste artigo iremos relacionar os conceitos de nicho ecológico e relação ecológica de competição entre duas espécies de cracas que coabitam o costão rochoso do litoral escocês.



NICHO ECOLÓGICO E RELAÇÕES ECOLÓGICAS


O nicho ecológico pode ser definido como um conjunto de diversas variáveis ambientais que permitem a sobrevivência da espécie no ambiente, como função no ambiente, habitat, adaptação a fatores limitantes (tais como temperatura, umidade, pH) e necessidades reprodutivas. Logo, as espécies possuem nichos diferentes, isto é, ambientes que estão dentro de seus limites de sobrevivência conforme as variáveis acima. Porém, nem sempre a espécie ocupa todo o seu nicho, elas podem ser limitadas por meio de relações ecológicas.


As relações ecológicas estão presentes em todos os ecossistemas, podendo ser interespecíficas (entre indivíduos de espécies diferentes) ou intraespecíficas (entre indivíduos de uma mesma espécie). Dentre diversos tipos de relações ecológicas, temos a competição, que se caracteriza na disputa entre dois ou mais indivíduos por um mesmo recurso (alimento, espaço, abrigo, entre outros), podendo limitar a ocupação de espécies em diversos ambientes.


Uma vez que a relação ecológica de competição pode ser um fator limitante para a ocupância do nicho, chamamos de nicho fundamental o ambiente que se adequa às características essenciais para a espécie e poderia ser ocupado e nicho realizado o ambiente que essa espécie consegue ocupar (considerando os limites impostos pelas relações ecológicas).


Joseph Connell, em 1961, estudou a relação de competição por espaço no costão rochoso entre duas espécies de cracas no litoral da Escócia. Utilizaremos esse estudo para exemplificar como a competição pode limitar a ocupação do nicho ecológico.



O ESTUDO DE JOSEPH CONNELL


Joseph observou duas espécies de cracas que ocorrem no costão rochoso no litoral da Escócia. Uma das espécies era Chthamalus stellatus, que ocorre predominantemente na região superior do costão, e a outra era Semibalanus balanoides, uma espécie maior que ocorre predominantemente na região inferior do costão.


a fotografia apresenta cracas da espécie Chthamalus Stellatus de coloração bege fixadas em rocha.

Representantes de Chthamalus stellatus, fotografados próximo à costa superior, em Lundy Island, no Reino Unido. Fonte: Michael Maggs/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



a imagem é uma fotografia de cracas da espécie Balanus Balanoide de coloração branca fixadas em um pedaço de rocha.

Representantes de Semibalanus balanoides incrustadas em uma concha de molusco bivalve. Fonte: Daniel J. Drew/Wikimedia Commons (CC0).



COMPETIÇÃO ENTRE Chthamalus E Semibalanus


Após diversas pesquisas, Connell chegou a conclusão de um claro exemplo de competição interespecífica. Inicialmente, ele percebeu que os níveis de maré afetavam o crescimento de Semibalanus balanoides, uma espécie aparentemente sensível às altas temperaturas e com baixo desenvolvimento nos ambientes mais dessecados (onde a maré alta não alcançava). Enquanto isso, Chthamalus parecia lidar bem com o ambiente seco.


Ilustração de um costão rochoso com a presença de duas espécies distintas de cracas. Na região superior do costão rochoso há a espécie Chthamalus de cor laranja, com poucos indivíduos. Na região inferior, há a espécie Balanus de cor rosa e com maior quantidade de indivíduos. Há duas linhas paralelas e horizontais na ilustração. A linha inferior indica o nível da maré baixa e a linha superior, o nível da maré alta.

Representação da distribuição espacial das cracas Chthamalus stellatus e Semibalanus balanoides em um costão rochoso, com indicação de níveis de maré alta e baixa. Fonte: © 2024 Lívia Serezani Munhoz.



Em outros períodos do ano, fora das épocas de reprodução de Semibalanus, Connell percebeu que larvas de Chthamalus conseguiam se fixar na região inferior do costão. Esses indivíduos conseguiam se desenvolver, porém com a chegada do período de reprodução de Semibalanus, seu crescimento bruto e rápido era capaz de excluir todos os indivíduos de Chthamalus que se fixaram naquela região.



CONCLUSÃO


Joseph Connell concluiu então que Chthamalus possui um nicho fundamental bem mais amplo que o seu nicho realizado. Portanto, essa espécie poderia sobreviver tanto na parte superior (onde realmente vive) quanto nas regiões mais inferiores do costão rochoso. Semibalanus habita todo o seu nicho fundamental, uma vez que a espécie não consegue sobreviver na região superior do costão por não se adaptar ao ressecamento. Uma vez que Semibalanus ocupa a região inferior do costão, esta espécie impede o desenvolvimento da espécie Chthamalus, sendo este um exemplo claro de competição interespecífica por espaço. As espécies coabitam o mesmo costão rochoso, porém a presença de uma impede a expansão da outra.


Ilustração de um costão rochoso com a presença de duas espécies distintas de cracas. Na região superior do costão rochoso há a espécie Chthamalus de cor laranja, com poucos indivíduos. Na região inferior, há a espécie Balanus de cor rosa e com maior quantidade de indivíduos. Há duas linhas paralelas e horizontais na ilustração. A linha inferior indica o nível da maré baixa e a linha superior, o nível da maré alta. Há setas verticais na imagem, sendo duas setas laranjas indicando o nicho fundamental e duas setas rosas indicando o nicho realizado de cada uma das duas espécies de cracas.

Representação da distribuição espacial das cracas Chthamalus stellatus e Semibalanus balanoides em um costão rochoso. As setas indicam o nicho fundamental e o nicho realizado de cada uma das espécies. Setas na cor laranja demonstram para Chthamalus stellatus enquanto as setas em rosa, para Semibalanus balanoides. Fonte: © 2024 Lívia Serezani Munhoz.



A competição é um tipo de interação muito importante para o funcionamento do ecossistema, contribuindo para evitar uma superpopulação de algumas espécies e regulando a sua densidade populacional. No exemplo dado no texto temos as condições de nicho fundamental (com a variável ambiental de umidade) controlando o crescimento populacional de Semibalanus balanoides. Enquanto isso Chthamalus stellatus, que possui um nicho fundamental maior, tem seu controle populacional por meio da competição por espaço com a espécie Semibalanus balanoides. Através desse exemplo, podemos notar também a importância da conservação das espécies, uma vez que se Semibalanus fosse extinta daquele ambiente, o crescimento exacerbado de Chthamalus poderia causar um grande desequilíbrio ambiental.




Bibliografia


BEGON, M.; TOWNSEND, C. R. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. Artmed editora, 2023.


CHERVENKA, T. S.; DUARTE SILVEIRA, R. A.; MULLER, R. A.; PEIRÓ, D. F. Simbiose entre organismos marinhos. Instituto Bióicos. Disponível em: https://www.bioicos.org.br/post/simbiose-entre-organismos-marinhos. Acesso em: 21 de fev. de 2025.


CONNELL, J. H. A influência da competição interespecífica e outros fatores na distribuição da craca Chthamalus stellatus. Ecologia, v. 42, n. 4, p. 710-723, 1961. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/1933500>. Acesso em: 22 de maio de 2024.


SALMAZO, J., SEMPREBOM, T. R.; DALL’AQUA, R., PEIRÓ, D. F. Costões rochosos: muito mais que um amontoado de rochas. Revista Biologia Marinha de Divulgação Científica, v. 1, n. 1, p.30-34, 2018.


TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. Artmed Editora, 2009.

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