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Peixe-napoleão: o gigante dos mares ameaçado de extinção

Atualizado: 2 de jun. de 2023

Autores: Raphaela Alt Müller, Fernanda Cabral Jeronimo, Aline Pereira Costa, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró



Fotografia do peixe-napoleão. O peixe está lateralizado na foto com todo o comprimento do corpo em evidência. Aparenta estar parado no fundo do aquário. Em segundo plano, encontra-se pedras no fundo e peixes nadando acima.

Peixe-napoleão, Cheilinus undulatus, também conhecido como bodião, no aquário Oceanopolis, em Brest, na França. Fonte: Thesupermat/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



O peixe-napoleão, conhecido também por bodião, é o maior membro vivo da família Labridae. Esta espécie, Cheilinus undulatus, pode chegar a mais de 2 metros de comprimento e pesar 190 quilos.

Apesar de possuir uma protuberância na cabeça (característica que deu o nome popular, por fazer referência ao francês Napoleão Bonaparte), esse gigante possui uma beleza espetacular, com escamas em formato de diamante, coloração que varia entre verde, azul e amarela, e linhas pretas diagonais marcantes que parecem cílios atrás dos olhos.



Fotografia do peixe-napoleão. O peixe encontra-se lateralizado, com somente a parte da cabeça e brânquias aparecendo. Ele está com a boca entreaberta e percebe-se uma textura no corpo com várias linhas e pontos. Próximo ao olho, encontra-se duas linhas escuras laterais em direção à cauda. Em segundo plano está o azul do oceano.

Peixe-napoleão nadando nas águas do Mar Vermelho no Oceano Índico. Note as linhas próximas aos olhos. Fonte: Gustavo Gerdel/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



VIDA LONGA, REPRODUÇÃO TARDIA


Estes peixes podem chegar a viver mais de 30 anos e são encontrados nas águas tropicais no Oceano Pacífico. Durante algumas épocas do ano, realizam pequenas agregações reprodutivas, onde indivíduos adultos se juntam em dezenas a centenas de peixes em um mesmo local para se reproduzirem.


Após ocorrer a fecundação, os ovos são liberados na água para, depois de um tempo, eclodir a forma larval. Esta larva vai para as áreas arenosas rasas adjacentes a lagoas de recifes de corais para que ocorra o crescimento. Os indivíduos adultos são comumente encontrados em profundidades de até 100 metros.



Fotografia do peixe-napoleão. O animal encontra-se de forma frontal na imagem. A cabeça está bem evidente, com sulcos no rosto e na testa. De forma menos evidente, aparecem as escamas em diamante no corpo.

Peixe-napoleão nadando nas águas da Polinésia na Oceania. Fonte: com modificações de Ollografik/Flickr (CC BY-ND 2.0).



Os indivíduos jovens são hermafroditas protogínicos, ou seja, eles nascem com o sexo feminino e em algum momento da vida podem sofrem uma mudança para o sexo masculino. É uma das formas de hermafroditismo mais comum entre os peixes, onde cerca de 75% das espécies possuem este comportamento (conheça mais sobre a determinação sexual em espécies marinhas). Eles amadurecem como fêmea com cerca de 5 anos de idade e alguns indivíduos mudam para machos adultos com cerca de 9 anos de idade. Isso acontece quando o macho dominante morre ou é removido do “harém”, então a fêmea maior começa a cortejar os outros peixes e se torna o novo macho dominante.



O RISCO DE EXTINÇÃO


Os peixes desta espécie possuem um grande valor cultural em países banhados pelo Oceano Pacífico, e estão entre os mais apreciados no comércio de exportação de peixes vivos dos recifes de corais. São capturados durante a fase juvenil diretamente para venda ou para crescerem em aquários de restaurantes e mercados sendo vendidos como refeição. A demanda do comércio é alta e, como na maioria das vezes eles são capturados antes da idade reprodutiva, o número de populações têm diminuído drasticamente.


A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), organização que divulga o estado de preservação das espécies, mudou em 2004 a classificação do peixe-napoleão de vulnerável para ameaçado de extinção. O órgão regulamentador do comércio transfronteiriço de espécies selvagens, o CITES (Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestre Ameaçadas de Extinção), também em 2004, determinou regulamentações mais rígidas para proteger os peixes da pesca excessiva. A maioria dos países já baniram a comercialização, porém, a Indonésia, onde são encontrados cerca de um quinto do habitat desta espécie, permite a exportação de dois mil peixes por ano.



O EFEITO CADEIA


O peixe-napoleão se alimenta de uma grande variedade de invertebrados e peixes ósseos, e é um dos cinco predadores das estrelas-do-mar-coroa-de-espinhos Acanthaster planci, uma espécie conhecida por devastar os recifes de corais se suas populações não estiverem sob controle.



Fotografia da Estrela-do-mar-coroa-de-espinhos. A estrela-do-mar encontra-se apoiada em uma rocha dentro d'água. Distribuído pelo corpo estão incontáveis espinhos. Em segundo plano, temos um peixe nadando, rochas e água.

Estrela-do-mar-coroa-de-espinhos Acanthaster planci. Perceba a quantidade de espinhos presentes neste animal. Só existem cinco predadores capazes de comer esta estrela, e o peixe-napoleão é um deles. Fonte: Kris Mikael Krister/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).



Populações crescentes de indivíduos destas estrelas-do-mar ser alimentam de grandes áreas de coral. Este aumento da população pode ocorrer naturalmente, mas também pode ser causado por atividades humanas como a sobrepesca de muitos dos seus predadores, como o peixe-napoleão. Além dos danos causados por esta estrela-do-mar, o despejo de esgoto no mar também prejudica os recifes de corais.


O peixe-napoleão como predador de Acanthaster planci é significativamente importante para proteger o recife de coral da predação excessiva da estrela-do-mar. Os recifes de corais são de extrema importância para o meio ambiente e a morte destes indivíduos trazem danos drásticos para todo ecossistema marinho, pois eles ajudam a preservar por volta de 25% das espécies marinhas.


A diminuição das espécies marinhas devido aos impactos humanos no ecossistema marinho, como a poluição por microplástico, vazamento de petróleo e a poluição sonora podem ocasionar a morte dos oceanos, e por consequência, a nossa.




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