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O uso de drones no monitoramento de fauna marinha

Autores: Maria Eduarda Barbosa Brandão, Raphaela A. Duarte Silveira, Raphaela Alt e Douglas F. Peiró


Imagem aérea de um grupo de baleias nadando em um mar azul claro. Duas baleias grandes estão lado a lado, cercadas por vários golfinhos menores que nadam ao redor delas. A água está calma e é possível ver algumas ondas formadas pelos movimentos dos animais.

Interação entre baleias-jubarte e golfinhos-nariz-de-garrafa registrada por um drone, no sul de Ilhabela-SP. Fonte: foto cedida por © 2023 Rafael Mesquita.



OS DRONES E A CONSERVAÇÃO MARINHA, QUAL A RELAÇÃO?


Os ecossistemas marinhos, caracterizados por possuírem uma rica biodiversidade, apresentam desafios significativos no monitoramento da fauna. Isso ocorre devido à dificuldade em acessar áreas remotas e complexas do oceano. Nesse cenário, o drone, também conhecido como Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), se popularizou no século 21, desempenhando um papel eficiente nas ações de conservação da vida selvagem.


Além do seu uso recreativo, os drones são usados em pesquisas científicas, especialmente em áreas protegidas, por conta da sua capacidade de sensoriamento remoto de alta resolução. É surpreendente considerar a diversidade de utilidades que essa tecnologia versátil pode oferecer.



VANTAGENS


Monitorar a vida selvagem em seu habitat natural apresenta riscos. Diante disso, o uso de drones oferece vantagens significativas, entre elas a segurança pessoal do operador, que pode manter uma distância segura do animal.

Outro fator a ser considerado é o molestamento aos animais. Enquanto o monitoramento por aeronaves tradicionais, como aviões e helicópteros, pode interferir no comportamento natural dos animais, os drones causam pouca ou nenhuma perturbação ao alvo do estudo.


Uma terceira vantagem notável dos drones é a capacidade de adquirir dados, incluindo imagens e vídeos em alta resolução. O baixo custo operacional somado à facilidade no planejamento de voo torna os drones uma opção atrativa para o monitoramento de fauna, abrindo um leque de possibilidades para a pesquisa e a conservação da vida selvagem.


Imagem de uma variedade de equipamentos dispostos sobre uma superfície branca. No topo esquerdo, há um óculos de realidade virtual com interior vermelho. Ao lado, um par de binóculos grandes. Abaixo do óculos, um monitor ou dispositivo eletrônico retangular. No centro da imagem, um drone cinza com quatro hélices. À direita do drone, um controle remoto compacto. Na parte inferior, há seis baterias recarregáveis idênticas alinhadas em uma única fileira.

Principais equipamentos usados durante as atividades de campo de drone-monitoramento em ambiente natural: máscara de realidade virtua l- First Person View (FPV), drone com baterias extras (na imagem o done Mavic Zoom 2), binóculos reticulados e equipamento para medir as condições meteorológicas. Fonte: Barreto et al. 2021 (CC BY 4.0).



ECOLOGIA DO ANIMAL


Os drones possibilitam a obtenção de dados populacionais, incluindo densidade e abundância. Isso é possível devido à sua capacidade de cobrir vastas áreas em um curto espaço de tempo. Além disso, os drones são usados para estudar o comportamento desses animais e auxiliar na determinação de áreas que devem ser protegidas.


Outro aspecto relevante é o uso dos drones em estudos para avaliar a saúde e condição corporal dos cetáceos, através de técnicas como a coleta de amostras microbiológicas do borrifo desses animais por meio de uma placa de petri acoplada aos drones


Em tartarugas marinhas, os drones permitem o estabelecimento de padrões morfológicos para a determinação da espécie, e dependendo do caso do sexo, contribuindo para uma compreensão mais profunda da biologia dessas espécies e, consequentemente, para a sua conservação.


A imagem é o conjunto de três fotografias tiradas por drone. A primeira é possível observar um golfinho com um peixe preso em sua boca. A segunda imagem exibe um grupo de seis golfinhos próximos uns aos outros. A terceira imagem é de um tubarão-baleia submerso com um peixe branco na lateral de seu dorso.

As imagens acima foram gravadas com drone e podem fornecer diferentes informações sobre as espécies. (a) Golfinho-de-dentes-rugosos, Steno bredanensis comendo um peixe, (b) grupo com seis indivíduos adultos de boto-cinza, Sotalia guianensis e (c) tubarão-baleia Rhincodon typus com uma rêmora comum associada, Remora sp. Fonte: Barreto et al. 2021 (CC BY 4.0).



FOTOGRAMETRIA


O estudo de fotogrametria é uma técnica de coleta de dados que usa fotografias e imagens para calcular o tamanho corporal do animal e analisar qualquer anormalidade morfológica e/ou comportamental. Essa técnica tem sido amplamente utilizada para estudar a biologia e o comportamento de espécies marinhas, bem como para monitorar populações, avaliar o crescimento, determinar a idade, medir o tamanho e estudar a ecologia dos animais marinhos em seu ambiente natural.


É possível estimar padrões morfométricos de cetáceos em vida livre devido à precisão e pela sua característica não invasiva. Para a análise desses dados são usados softwares especializados que permitem a medição precisa das características dos animais, como comprimento, largura, altura, circunferência e outras dimensões físicas. Para isso, a captura de imagens deve ser feita em ângulos e altitudes precisamente controladas, possíveis de serem feitas com drones.



LEGISLAÇÃO


Para o uso de drones de forma não recreativa, a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) exige um selo de Declaração ou Certificado de Conformidade. O drone também deve possuir uma Certidão de Cadastro que atenda aos seguintes critérios:


  • A aeronave deve ter até 25kg de Peso Máximo de Decolagem (PMD);

  • Os voos deverão ser realizados em altura máxima de 400 pés ou 120 metros;

  • E a aeronave deve ser mantida em VLOS (Visual Line of Sight), ou Linha de Visão pelo piloto remoto.


Para o monitoramento de mamíferos marinhos é obrigatória a Licença SISBIO (ICMBio), especialmente para o uso de drones em Unidades de Conservação (UCs), ou atenção ao Manual de Boas Práticas em Interação com Mamíferos Marinhos.



LIMITAÇÕES


Toda metodologia apresenta suas limitações, e com o uso de drones não seria diferente. Variáveis meteorológicas, como ventos muito fortes, neblina densa e mar agitado (conforme a escala beaufort para determinar o vento) devem ser cuidadosamente consideradas antes de iniciar qualquer ação de monitoramento.


Em condições ideais, os drones são ágeis e capazes de cobrir uma vasta área em um curto período de tempo. No entanto, é importante notar que a distância em que um drone pode voar a partir do ponto de partida é limitada, geralmente restrita a um raio de 3 km, especialmente em drones mais comuns, como o Mavic Zoom 2.


Além disso, não é recomendado ultrapassar essa distância devido à possível perda de sinal e a autonomia da bateria, que por enquanto é uma limitante nos voos. E convenhamos, ninguém quer correr o risco de perder um drone.


Em ambientes marinhos, a atenção deve ser ainda maior devido ao efeito corrosivo da maresia, que pode afetar a durabilidade do drone. No entanto, apesar desses fatores, o uso dos drones continua sendo uma opção vantajosa, de excelente custo-benefício. Eles têm demonstrado eficiência em diversas pesquisas, contribuindo de forma significativa na conservação dos ecossistemas marinhos e na preservação da biodiversidade que esses ambientes abrigam.




Bibliografia


APPRILL, A. et al. Extensive Core Microbiome in Drone-Captured Whale Blow Supports a Framework for Health Monitoring. mSystems, v. 2, n. 5, p. 119-217. 2017. DOI: 10.1128/mSystems.00119-17.


BARRETO, J. et al. Drone-Monitoring: Improving the Detectability of Threatened Marine Megafauna. Drones, v. 5, n. 14, 2021. DOI: https://doi.org/10.3390/drones5010014.


BARROS, L. S. C; LEUZINGER, M. D. O uso de drones como instrumento para a conservação da biodiversidade no Brasil. Revista de Direito Internacional, v. 16, n. 2, p. 140-149. 2019. DOI: https://core.ac.uk/download/pdf/245880556.pdf.


SILVA, I. O uso de drones na quantificação de tartarugas marinhas na APA Costa dos Corais - AL. 2023. 41 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) - Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2023.

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