Autores: José Pedro Vieira Arruda Júnior, Nicholas Negreiros, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró
O mero Epinephelus itajara em costão rochoso. Fonte: Albert kok (2009)/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).
MAS AFINAL, O QUE VOCÊ SABE SOBRE OS MEROS?
Os meros Epinephelus itajara são peixes da família Serranidae (garoupas, chernes e badejos) e são animais grandes, chegando a 250 centímetros de comprimento, com registros de indivíduos podendo atingir 455 kg e idade máxima de 37 anos. Imagine o tamanho desses animais e como são valiosos para o ambiente em que vivem!
Esses animais se distribuem em regiões tropicais e subtropicais em escala global. Infelizmente, o fato de um animal ser amplamente distribuído não significa que existam muitos indivíduos dessa espécie. O mero é um exemplo, pois é considerado uma espécie em situação Vulnerável (IUCN) devido a sua sobrepesca e pela degradação do seu habitat. Essas pressões sobre ambiente e sobre animal são fatores que influenciam na diminuição de indivíduos de sua população.
Como são encontrados em áreas costeiras e rasas com presença de ecossistemas ameaçados, como recife de arenito, recifes de corais e substrato rochoso e lamoso, a existência do mero se tornou ameaçada e começou a preocupar ambientalistas e cientistas do oceano. Além disso, os meros também podem ocupar ambientes estuarinos, o que preocupa mais ainda esses profissionais, já que é outro ambiente amplamente degradado pela perda da sua vegetação e poluição da água.
E QUAL A IMPORTÂNCIA DOS MEROS PARA OS ECOSSISTEMAS QUE HABITAM?
Além de ser considerado um animal que atrai a curiosidade de várias pessoas, os meros são importantes para o funcionamento do ambiente que habitam, pois são predadores de topo de cadeia que se alimentam de outros peixes e invertebrados (cefalópodes e crustáceos, por exemplo). Isso torna o ambiente equilibrado, pois as interações entre os animais, plantas e microorganismos não são comprometidas, de uma forma que a ausência do mero pode desregular toda a teia trófica que o ambiente sustenta.
O que pode acontecer devido a diminuição de meros é o aumento da quantidade de outros peixes carnívoros que se alimentam de peixes herbívoros e que por sua vez decrescem em quantidade, possibilitando o aumento de algas no ambiente. As algas podem alterar a fisionomia e a dinâmica do ambiente devido a ocupação de substratos utilizados para o recrutamento de novos indivíduos.
A ecologia alimentar dos meros é tão interessante que há registros de meros que se alimentaram de juvenis de tartaruga-de-pente Eretmochelys imbricata e raias!
Outra ameaça que os meros sofrem está relacionada a biologia reprodutiva de sua espécie que é bastante intrigante. Esses animais formam agregações reprodutivas durante a noite e liberam seus gametas sob a luz da lua cheia. Esses eventos acontecem durante o verão (janeiro e março) no hemisfério Sul e na mesma estação (julho a setembro) no hemisfério Norte. Infelizmente, durante esses eventos, os animais são capturados pela atividade pesqueira e impedidos de completarem a sua reprodução.
A agregação reprodutiva de meros pode conter até 100 indivíduos. Fonte: Geralde Carol (Florida, 2011)/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).
MAS O QUE PODEMOS FAZER PARA AJUDAR O REI DOS MARES?
Nós, seres humanos, podemos contribuir com a restauração das populações de meros. Não é uma tarefa fácil, pois precisa de muita paciência e investimento do poder público e privado. Podemos citar como exemplo o Projeto Meros do Brasil e a Associação Atevi, que tem se preocupado com a pesquisa e conservação destes animais.
Atualmente existem algumas medidas que podem auxiliar a conservação, como a proibição por lei da pesca do mero. Embora algumas pessoas não respeitem essa lei, a sua existência nos ajuda a chegar cada vez mais perto do objetivo de proteção e restauração das populações do mero.
Os meros foram alvos da sobrepesca, o que levou à proteção desses indivíduos atualmente. Fonte: Florida Keys Public Library (1958)/ Flickr (CC BY 2.0).
De acordo com a Portaria N° 13/2015 (MPA/MMA) protege os meros, estabelecendo a proibição da sua captura, transporte e comercialização em território nacional. A prática é considerada crime ambiental. Os infratores estarão sujeitos à detenção de um a três anos, multa, ou ambas as penas cumulativas (Lei nº 9.605 de 12/02/98 e Decreto nº 6.514 de 22/07/08). A moratória que proíbe a captura e venda existe desde 2002 com três prorrogações consecutivas.
Outra forma é por meio de educação ambiental e divulgação científica feitas pelas sociedades civis organizadas, universidades e institutos de conservação nas escolas e nas comunidades pesqueiras, numa abordagem de ‘’conhecer para conservar’’. A ciência cidadã também é utilizada pelos profissionais do Projeto Meros do Brasil.
Dessa forma, com a união de cientistas, poder público e privado e sociedade civil, as populações de mero poderão se recuperar e o rei dos mares, com seu corpo exuberante e magnífico, nos surpreenderá cada vez mais.
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Bibliografia
ARTERO, C. et al. Ontogenetic dietary and habitat shifts in goliath grouper Epinephelus itajara from French Guiana. Endangered Species Research, v. 27, n. 2, p. 155-168, 2015.
BUENO, L. S. et al. Evidence for spawning aggregations of the endangered Atlantic goliath grouper Epinephelus itajara in southern Brazil. Journal of fish biology, v. 89, n. 1, p. 876-889, 2016.
PROJETO MEROS DO BRASIL. Brasil, 2012. Disponível em: http://www.merosdobrasil.org/index.php?lang=pt. Acesso em: 05 out. 2020.
PUSACK, T. J.; GRAHAM, R. T. Threatened fishes of the world: Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822) (Epinephelidae, formerly Serranidae). Environmental biology of fishes, v. 86, n. 2, p. 293, 2009.
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