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Impactos das mudanças climáticas em recifes de coral ao longo do tempo: uma breve análise

Atualizado: 3 de jun. de 2022

Autores: Rudimar Risso de Oliveira Junior, Fernanda Cabral Jeronimo, Thais R. Semprebom, Aline Pereira Costa e Douglas F. Peiró



Fotografia aérea de um trecho da Grande Barreira de Corais Australiana em águas  que variam do azul-cristalino para o azul-turquesa. Um agrupamento de corais forma uma linha maior ao longo do mar, enquanto outros formam círculos sob a água.

Grande Barreira de Corais Australiana. Fonte: Pixabay.



Os oceanos são de fundamental importância para os seres vivos. Vão muito além de cobrir cerca de 71% da Terra: estabilizam a temperatura do globo, regulam a interação entre os gases na atmosfera, determinam o clima do planeta e abrigam uma gama de biodiversidade impressionante e imprescindível para o equilíbrio ecológico.



RECIFES DE CORAL: HABITAT E IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA


Os recifes de coral são essenciais nas águas marinhas pois oferecem habitat para diversas espécies, serviços ecossistêmicos e auxiliam no ciclo biogeoquímico. Estão restritos, em boa parte, às águas quentes e claras, sendo abundantes em regiões tropicais do Indo-Pacífico. No Brasil, os corais estão distribuídos em cerca de 3 mil km de litoral, do Maranhão até o Sul do estado da Bahia, representando, então, as únicas formações recifais do Atlântico Sul.

Em todo o globo, os ecossistemas de recifes de coral sofrem pressão de diversos fatores estressantes, principalmente de eventos originados das mudanças climáticas. Diante disso, eles estão entre os indivíduos mais sensíveis à acidificação dos oceanos, já que conforme o aumento do pH da água, a simbiose desempenhada pelos pólipos e microalgas são comprometidas. A acidificação das águas oceânicas, um dos problemas ocasionados pelo aumento da concentração de CO2 associada ao aumento da temperatura, influencia principalmente na calcificação, nutrição e desenvolvimento de vários organismos.



Fotografia do fundo do mar em azul/esverdeado com presença de estruturas semelhantes à galhos que na verdade são os corais. Acima desses corais é possível observar a presença de alguns peixes de cor preta.

Coral do gênero Acropora em processo de branqueamento na Ilha Heron, Grande Barreira de Coral. Fonte: J. Roff/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



COMO O AUMENTO DA TEMPERATURA AFETA AS ÁGUAS OCEÂNICAS?


Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado em 2018, acerca do aquecimento global, observa-se que o homem tem causado, como consequência de suas atividades, um aumento de 1,0 °C na temperatura global; e as avaliações mostram que provavelmente entre 2030 e 2052 o aumento da temperatura atinja 1,5 °C. Ainda no que se refere às águas, estima-se que o nível do mar subirá de 0,26 a 0,77 m e a temperatura aumentará em 1,5 °C, com o risco de ocasionar inundações e danos em ilhas, zonas costeiras baixas e deltas. Para a biodiversidade e os ecossistemas marinhos, com o aumento da temperatura em 1,5 °C, avalia-se uma alteração na amplitude das espécies, perda de serviços ecossistêmicos, como a pesca e aquicultura, e alto nível de acidificação dos oceanos.



PERDAS DRÁSTICAS NA BIODIVERSIDADE RECIFAL DEVIDO ÀS ALTERAÇÕES NO CLIMA


Cerca de 75% dos corais estão ameaçados. A previsão é que, para até 2050, mais de 90% dos indivíduos serão perdidos. Os branqueamentos iniciais foram pouco relatados na literatura, porém há indícios que datam desde antes da década de 1990.


No início de 1982, um branqueamento foi relatado na Grande Barreira de Coral Australiana, seguido em 1983 com observações no Mar de Java, Ilhas Tokelau, Polinésia Francesa, Ilhas Galápagos, Pacífico do Panamá, sudoeste do Oceano Índico, sul do Japão e no Caribe. Esse evento foi causado pelo fenômeno El Niño, que ocasiona aquecimento natural das águas do Oceano Pacífico tropical e influencia nas temperaturas em todo o globo, provocando mudanças nos padrões de vento, movimentos de massa de água e incidência solar.


As altas temperaturas e grande quantidade de luz resultaram no branqueamento dos corais. Um dos eventos mais noticiados foi o de 1998, associado também ao El Niño. Neste evento, cerca de 16% de todos os corais do mundo se perderam.


Um forte El Niño no Oceano Pacífico que se dissipou na primavera no início de 2016 levou a algumas das mais altas temperaturas oceânicas globais já registradas, e foi substituído por condições fracas de La Niña perto do final do ano. A temperatura média global terrestre e da superfície do oceano para janeiro-dezembro de 2016 foi de 1,0 °C acima da média do século 20.


Muitos dos oceanos do mundo também tiveram condições mais quentes do que a média durante 2017, com vários locais no oeste, centro e sudeste do Oceano Pacífico, Oceano Índico e Oceano Atlântico. No geral, a temperatura global da superfície do mar em 2017 foi 0,91 °C acima da média do século 20. Cerca de 89% da Grande Barreira de Corais Australiana, com uma extensão de aproximadamente 2700 km, tem sofrido por consequência do branqueamento entre 2016 e 2017.



Ilustração gráfica representado em um quadrado. Na lateral esquerda tem a numeração do 0 ao 1,5 iniciando no sentido de baixo para cima, esses números são a representação da escala de temperatura em graus Celsius. Na base do gráfico representa os anos, da esquerda para a direita os anos representados são: 1880, 1900, 1920,1940, 1960, 1980, 2000 e 2020. Lateralmente na direita, representação da escala de temperatura em Fahrenheit, com a numeração do 0 a 3 iniciado de baixo para cima. No centro da imagem existe duas linhas, uma vermelha e outra azul, que analisam o aumento da temperatura na biosfera. A linha vermelha mostra o aumento da temperatura em ambiente terrestre, enquanto a linha azul demonstra o aumento da temperatura em ambiente marinho.

O gráfico analisa o aumento da temperatura em ambiente terrestre (linha vermelha) e em ambiente marinho (linha azul) entre 1880 e 2020, comparando até mesmo a Era Pré-Industrial com o século atual. Os resultados mostram que o oceano absorve cerca de 90% do calor retido na atmosfera, ocasionando os impactos do aumento da temperatura global, acidificação das águas oceânicas e branqueamento de corais, por exemplo. Fonte: Efbrazil/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).



Em 2017, o Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO divulgou que aproximadamente 21 dos 29 recifes do Patrimônio Mundial sofreram estresse térmico, causando alguns dos piores branqueamentos já observados em locais como a Grande Barreira de Coral, Papahānaumokuākea, Lagoas da Nova Caledônia e Atol de Aldabra. A análise prevê que todos os 29 locais do Patrimônio Mundial contendo corais deixarão de existir como ecossistemas funcionais de recifes até o final deste século, em um cenário atual.



QUAIS AS ALTERNATIVAS PARA REVERTER A ATUAL SITUAÇÃO?


Quando os corais sofrem, todo o restante da biodiversidade marinha sofre também. Atualmente, grupos têm se levantado para tentar reverter a crítica situação causada pelas mudanças do clima. Como exemplo disso, temos a ONG The Nature Conservancy, que busca uma interação mais saudável entre humanos e meio ambiente. Ainda, a Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla em inglês), uma coligação entre 44 países baixos e insulares fundada em 1990, compartilha preocupações sobre os oceanos e ilhas. No Brasil, instituições como o Projeto Coral Vivo atua com pesquisas e acompanhamento de políticas públicas para sensibilizar e informar a população quanto à preservação e conservação dos ecossistemas recifais e os serviços ecossistêmicos desempenhados por eles.



O QUE PODEMOS CONCLUIR COM ISSO?


Quando os corais sofrem, todo o restante da biodiversidade marinha é afetada. Os seres humanos também são afetados, já que esses organismos oferecem uma gama de serviços ecossistêmicos, como fonte de pesca e turismo - numa escala regional, - e a regulação do clima - numa escala global. Sendo assim, além do suporte às ONGs já existentes e outras políticas governamentais, é necessário que, antes de tudo, a mente individual de cada ser humano tome consciência de seus atos.




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Bibliografia

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