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Evidências de que Minas Gerais já teve mar

Atualizado: 4 de ago. de 2023

Autores: Aline Pereira Costa, Lucas Rodrigues da Silva, Fernanda Cabral, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró


Desenho representativo da fauna existente no estado de Minas Gerais na época da Gondwana. O retângulo é composto por duas imagens. No lado esquerdo superior, tem um quadrado com o mapa de Minas Gerais, este mapa é verde com manchas marrons que representam a atual localidade do Grupo Bambuí. Compondo o restante do retângulo, tem a representação do fundo do mar com representação da água em verde e o fundo oceânico como granulações na cor marrom. Sobre esse fundo tem a representação da fauna. Acima e a direita pode observar três peixes, sobre a areia três trilobitas que lembram baratinhas sem a antena. Além disso, fixo sobre essa areia há animais de forma tubular na cor verde escuro (Corumbellas), e animais de formas tubulares, porém menores na cor verde claro (Cloudinas). Em roxo tem a representação de uma lagosta primitiva e também um animal semelhante à um caracol gigante com alguns tentáculos na parte ventral.

Representação do fundo do mar na época da Gondwana, evidenciando a fauna marinha existente na região onde atualmente está localizado o estado de Minas Gerais. Fonte: © 2021 Douglas Cabral/Instituto Bióicos.



O Estado brasileiro de Minas Gerais é conhecido pela beleza de suas montanhas e cachoeiras, mas ninguém imagina que Minas Gerais já teve mar. Isso mesmo! Embora distante da região litorânea, Minas Gerais já foi banhado por um braço de mar raso há 500 milhões de anos atrás.



A DESCOBERTA


Evidências fósseis de animais marinhos do gênero Cloudina e Corumbella foram encontradas em paredões no município de Januária, região norte de Minas Gerais. A presença desses fósseis são provas irrefutáveis que, no passado, um braço de mar raso com no máximo 10 metros de profundidade, cobria esta região.


De acordo com os pesquisadores responsáveis pelo estudo, a hipótese é que esse braço de mar cobria não apenas essa região do território brasileiro, conhecido por Grupo Bambuí, mas também as porções leste da América do Sul, oeste da África e sul da Antártida (quando estes continentes ainda estavam unidos). E esse braço estava entre esses três continentes e se ligava ao oceano.


Sabe-se que há pouco mais de 500 milhões de anos, os crátons (blocos rochosos que constituem a crosta continental) tinham uma formação diferente da que hoje conhecemos. A América do Sul, a África e a Antártida eram ligadas entre si, formando o que conhecemos por Gondwana, que reunia a maior porção de terras hoje situadas no Hemisfério Sul.


Para os pesquisadores, a presença desse mar raso que inundou trechos da Gondwana é baseada na distribuição geográfica das Cloudina que também já foram encontradas na Namíbia, Omã e Paraguai. Além disso, eles acreditam que esse braço de mar tenha derivado do antigo Oceano Clymene.


Os fósseis encontrados estavam incrustados em um paredão e em alguns afloramentos constituídos de rochas da Formação Sete Lagoas, que faz parte do Grupo Bambuí, este por sua vez é uma das áreas sedimentares mais estudadas da América do Sul. Assim, o Bambuí é uma formação sedimentar da bacia do São Francisco, que se estende por aproximadamente 300 mil km² e abrange os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Tocantins e Distrito Federal.


Parte do mapa do Brasil na cor branca e a direita na cor azul representação do Oceano Atlântico. Os estados da Bahia e Minas Gerais estão mais evidentes. Sobre a representação de Minas Gerais e Bahia há uma linha preta fazendo um limite, que passa pelo sul de MG e vai até norte da Ba, essa demarcação está na cor cinza claro e por cima desse limite, tem algumas manchas em marrom.

Distribuição do Grupo Bambuí e limite do Cráton de São Francisco. Fonte: © 2021 Douglas Cabral/Instituto Bióicos.



A datação destes fósseis do Período Ediacarano varia de 635 a 541 milhões de anos atrás e representa um ponto de virada na história da vida, implica em uma conectividade oceânica intracontinental com as porções internas do cráton Congo-São Francisco. E devido a essa posição central do cráton é que o Grupo Bambuí se tornou uma das peças mais importantes para compreender a paleogeografia da Gondwana.



EVIDÊNCIAS BIOLÓGICAS


Os Cloudina foram os primeiros fósseis com esqueleto de carbonato de cálcio registrados no Período Ediacarano. Esses animais costumam ser classificados cnidários e possuem formato tubular composto por sucessões de cones calcários. Seu habitat era o assoalho de mares pouco profundos, ricos em gás carbônico e em faixas onde a luz atravessa a água.


Considerado na paleontologia como fóssil-guia (registros fósseis que podem ser encontrados em várias partes do mundo, mas sua ocorrência se restringe à um período de tempo bem definido), os Cloudina são usados para datar e correlacionar camadas geológicas, pois suas carapaças são frágeis, o que as tornam pouco resistentes. Diante disso, esses animais não poderiam ser capazes de sobreviver a um transporte intenso e contínuo de águas correntes. Devido a essa característica é que Cloudina é considerado originário da localidade onde foi encontrado e, baseado nesse fato é que os pesquisadores reforçam a ideia de que um mar raso banhava os locais onde esses fósseis são encontrados.


Ilustração do fundo do mar no período Ediacarano em dois planos, acima representação da água em verde e abaixo na cor marrom claro a representação da areia. Fixo sobre essa areia há animais de forma tubular na cor verde escuro, enquanto mais proximo das laterais da imagem, também sobre esse fundo tem animais de formas tubulares, porém menores na cor verde claro.

Corumbella e Cloudina, gêneros da fauna Ediacarano. Fonte: © 2021 Douglas Cabral/Instituto Bióicos.



Além dessas evidências que reforçam a presença de um mar onde hoje é o Estado de Minas Gerais, nesta mesma região os pesquisadores também encontraram fragmentos de Corumbella werneri, uma espécie marinha de cnidários, constituídos de um pólipo primário e um pólipo secundário capazes de sintetizar carapaças mineralizadas.


O fato é que, atualmente, Minas Gerais está bem distante do mar, mas, no passado, o estado fazia parte do ambiente marinho. Essa descoberta da ciência torna-se importante para que possamos datar as unidades geológicas encontradas nessa região do Estado, compreender a biogeografia do nosso planeta e entender a evolução dos animais.




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Bibliografia


PIVETTA, M. O último litoral de Minas. Pesquisa Fapesp. 220 ed., 2014. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-ultimo-litoral-de-minas/. Acesso em 10 jan. 2021.


ROMANZOTI, N. Cientistas brasileiros descobrem que Minas Gerais já teve um mar. Hypescience. 2014. Disponível em: https://hypescience.com/minas-gerais-ja-teve-um-mar/. Acesso em 10 jan. 2021.


SANCHES, A. L. et al. As sucessões carbonáticas neoproterozóicas do Cráton do São Francisco e os depósitos de fosfato: correlações e fosfogênese. Revista Brasileira de Geociências, v. 37, n. 4 - suplemento, p. 182-194, 2007. Disponível em: https://www.google.com/url?q=http://www.ppegeo.igc.usp.br/index.php/rbg/article/view/9233/8712&sa=D&source=editors&ust=1613660882306000&usg=AOvVaw1sm7J5VrlyFbevYllX3S7R. Acesso em: 17 fev. 2021.


WARREN, L.V. et al. The puzzle assembled: Ediacaran guide fossil Cloudina reveals an old proto-Gondwana seaway. Geology, v. 42, n. 5, p. 391-394, 2014. Disponível em: https://pubs.geoscienceworld.org/gsa/geology/article-abstract/42/5/391/131506/The-puzzle-assembled-Ediacaran-guide-fossil?redirectedFrom=fulltext. Acesso em 12 out. 2020.








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