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Erosão costeira: protejam as praias arenosas

Autores: José Pedro Vieira Arruda Júnior, Nicholas Negreiros, Thais R. Semprebom, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró


Foto de uma praia com uma parte inferior arenosa e outra superior rochosa. Quatro pessoas estão andando pela parte rochosa que foi degradada aparentemente pelo avanço do mar. A parte arenosa é bastante curta e quase que totalmente coberta pelas ondas.

A erosão costeira causa a diminuição da largura da faixa de praia. Fonte: Muzzammil Mohabir/Pexels



Você já percebeu a grande quantidade de aterros em praias urbanas no Brasil? Ou até mesmo a grande quantidade de construções privadas e públicas que foram construídas ao longo da costa e que foram destruídas pelo mar? Essas observações estão bastante relacionadas a um evento conhecido como erosão costeira e que acontece em várias regiões do litoral brasileiro.



MAS QUAIS SÃO AS CAUSAS DA EROSÃO COSTEIRA?


Existem várias causas que levam à erosão costeira, e que podem ser divididas em naturais e antrópicas. Isso mesmo, a erosão pode acontecer de forma natural, mas pode ser intensificada por atividades humanas. No entanto, antes de falar sobre as suas causas, é importante que se entenda que as praias são formadas principalmente por sedimentos que chegam no mar por meio dos rios (suprimento fluvial). Esse sedimento é adicionado e perdido, ou seja, as ondas e as correntes trazem esse sedimento para a praia e, ao mesmo tempo, o retiram dela. Essa perda e ganho é chamada de balanço sedimentar.


Em ambientes praiais submetidos à erosão, o balanço sedimentar é negativo, ou seja, a praia mais perde sedimento do que ganha e faz com que a linha da costa recue, diminuindo a largura da faixa de praia.


Isso pode acontecer devido a várias causas naturais como:

  • Tempestades que intensificam a força das ondas e retiram grandes quantidades de sedimento da praia.

  • Aumento do nível do mar devido às marés de sizígia.

  • Fatores tectônicos (soerguimentos e subsidências).

  • Tipo de morfodinâmica praial, pois praias com alta energia têm mais tendência a erosão, enquanto praias com baixa energia tem menos propensão.


No entanto, essas causas naturais são intensificadas por atividades antrópicas, como:

  • A construção de casas que destroem fontes de sedimentos, como dunas e falésias.

  • A construção de barragens no interior do continente, que dificulta o transporte de sedimento até o mar.

  • A retirada de sedimento das praias por meio de mineração de areia e dragagens, que retiram fontes de sedimentos das praias.

  • A devastação de áreas vegetadas que retêm sedimentos e ajudam na fixação de dunas.


É por isso que a erosão costeira é um fenômeno que leva à preocupação de vários setores, desde a sociedade civil, que necessita do ambiente costeiro para sua subsistência, até a gestão pública em todas as suas instâncias. Isso acontece porque a erosão costeira tem várias consequências na fauna e na flora das praias e nas atividades turísticas que acontecem nesses ecossistemas.



QUAIS SÃO ESSAS CONSEQUÊNCIAS?


Com o recuo da linha da costa devido ao avanço do mar e ao balanço sedimentar negativo, as praias arenosas acabam perdendo área com a diminuição da sua largura e alteração das características físico-químicas das zonas praias, como temperatura e salinidade. Nesse caso, a reprodução das tartarugas marinhas é ameaçada devido a perda de áreas de desova.


Além disso, alguns animais de praias arenosas, como o caranguejo Ocypode quadrata, perdem suas tocas devido ao avanço do mar. Outros animais que ficam enterrados entre os grãos de areia são afetados negativamente pelas alterações físico-químicas no ambiente, ou seja, a estrutura da fauna que vive nas praias acaba se modificando, devido à perda de organismos e prevalência de outros mais resistentes às alterações.



Foto de um caranguejo fantasma em um ambiente de areia grossa. O animal possui uma coloração amarelada nos apêndices de locomoção e esbranquiçada nas quelas.

O caranguejo-fantasma, Ocypode quadrata, é um dos animais afetados pelas consequências da erosão. Fonte: SPD (South Frigate Bay beach, 2010)/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).



Outra consequência negativa é a salinização dos aquíferos por meio da entrada de água salina pelo solo. Isso dificulta a captação de água pelas plantas que sofrem pelo estresse causado pela alta salinidade. Além disso, com o avanço do mar, ocorre a diminuição da distância entre a influência do spray salino e da comunidade vegetal que existe na praia. As gotas de água salina que caem nas folhas das plantas intensifica o estresse salino nessas vegetações e pode comprometer o crescimento das plantas dessa comunidade.


Com relação às atividades econômicas como o turismo, moradias construídas de forma ilegal são uma das principais causadas do processo de erosão das praias. Isso faz com que os governos gastem grandes quantidades de dinheiro para a reconstrução das praias, por meio de aterros, o que muitas vezes traz mais consequências negativas para a vida marinha que ali reside.



O QUE PODE SER FEITO PARA CONTROLAR A EROSÃO MARINHA NA ZONA COSTEIRA?


Atualmente o que se pode fazer é propor medidas mitigadoras, que impeçam as causas antrópicas da erosão costeira. Muitos se utilizam dos aterros para isso, uma medida que não é 100% eficaz e pode trazer inúmeras consequências quando é mal conduzida, como a alteração das comunidades biológicas que ali vivem, alteração da morfodinâmica praial, revolvimento de poluentes, entre outros.



Foto de uma praia com muitas pessoas na faixa de areia e ao fundo prédios, casas e carros em grandes quantidades. Na parte inferior da foto, há uma vegetação litorânea remanescente.

A construção de aterros é uma das principais formas de conter a erosão, mas traz consequências negativas para a fauna e flora locais. Fonte: Rodrigo Soldon (Rio de Janeiro, 2009)/Wikimedia Commons (CC BY 2.0).



Como as beira-mares de cidades litorâneas são áreas de turismo e lazer e se situam em praias, a reconstrução dessas áreas e o desenvolvimento de atividades mitigadoras é parte da gestão integrada da zona costeira (GIZC), que tem como objetivo uma melhor gestão de regiões costeiras por meio de evidências científicas que melhorem as atividades que acontecem nessas áreas. A GIZC permite que se desenvolvam projetos mais adequados à realidade oceanográfica do local, ou seja, que se baseiam na força das correntes, ventos, regimes de marés, características sedimentares do local, biologia e ecologia dos animais, plantas e micro-organismos que existem ali.


Para isso, é importante que estudos voltados para a engenharia costeira sejam incentivados pelo poder público, para que medidas baseadas em investigações científicas e mais conclusivas sejam feitas. Além disso, um projeto de planejamento urbano adequado nas cidades que possuem zona costeira impede a proliferação de construções (muitas vezes sem licença ambiental) nesses ambientes.


Dessa forma, a erosão costeira pode sim ser controlada e as praias arenosas que existem na zona costeira podem continuar existindo e promovendo vários serviços ecossistêmicos para as comunidades que ali vivem.




Bibliografia


MUEHE, D. Aspectos gerais da erosão costeira no Brasil. Mercator-Revista de Geografia da UFC, v. 4, n. 7, p. 97-110, 2005.


SOUZA, C. R. G. A erosão costeira e os desafios da gestão costeira no Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada-Journal of Integrated Coastal Zone Management, v. 9, n. 1, p. 17-37, 2009.


SOUZA, C.R.G. Praias arenosas oceânicas do estado de São Paulo (Brasil): síntese dos conhecimentos sobre morfodinâmica, sedimentologia, transporte costeiro e erosão costeira. Revista do Departamento de Geografia, p. 308-371, 2012.


OLIVEIRA, P. H. G. O. Erosão Costeira. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.io.usp.br/index.php/infraestrutura/museu-oceanografico/50-portugues/publicacoes/series-divulgacao/gestao-costeira/823-erosao-costeira.html. Acesso em: 22 de ago. de 2020.







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