top of page

Dragagem x erosão costeira: como e por que acontece

Autores: Fernanda Cabral Jerônimo, Nicholas Negreiros, Thais R. Semprebom, Aline Pereira Costa e Douglas F. Peiró



Fotografia de um maquinário flutuante especializado em atuar no fundo do mar, retirando areia, chamado draga. O maquinário, que lembra um barco, porém muito mais complexo, está flutuando no oceano e, ao fundo, está o céu azul, com poucas nuvens.

O maquinário flutuante responsável por remover a areia do fundo chama-se draga. Fonte: paulbr75/Pixabay.



DRAGA… O QUE?


Dragagem é o ato de escavar ou modificar o fundo de cursos d’água (rios, canais ou praias) com o auxílio de maquinários chamados de dragas, um tipo de embarcação dotada de equipamentos especializados em mover uma grande quantidade de sedimentos ou rochas. Além disso, a draga pode armazenar o sedimento para, posteriormente, descartá-los em outro lugar.


A foto superior mostra uma draga fora de atividade, com destaque para o braço robótico com garras na ponta, responsável por pegar e deslocar o sedimento do fundo. A foto inferior mostra o despejo de sedimentos que saem de um cano localizado na própria draga e são despejados em um local diferente da coleta. Nessa foto, o despejo ocorre na água.

(A) Draga fora de funcionamento, evidenciando a garra que coleta os sedimentos e (B) descarte de sedimentos. Fonte: (A) Pxhere (CC0) e (B) USFWS/Pixnio (CC0).



A dragagem é um método que pode ser utilizado para vários fins, dependendo do objetivo:

  • Dragagem de implantação ou ampliação: visa criar ou aprofundar bacias e canais.

  • Dragagem de manutenção: utilizada para manter a profundidade pretendida a partir da remoção de sedimentos assoreados naturalmente.

  • Dragagem de controle ambiental: o objetivo é a remoção de sedimentos e materiais contaminados do fundo, além da recuperação fisiográfica em caso de um impacto ocorrido anteriormente.


Porém, essa grande movimentação de sedimentos pode refletir no entorno do ambiente onde é realizada, como reportam os moradores da Praia do Góes, localizada no município do Guarujá/SP, e da Ponta da Praia, localizada em Santos/SP, que relacionam a dragagem feita no Porto de Santos com a progressiva erosão da praia.



MAS COMO ISSO ACONTECE?


Para entendermos como a dragagem pode estar relacionada com a erosão costeira, precisamos compreender a complexidade e a dinâmica do ambiente de praias. Você pode ler mais sobre a estrutura e dinâmica de praias arenosas e também sobre sua biodiversidade nos nossos artigos da revista.


Além de todos os outros fatores ambientais que atuam em praias arenosas, as ondas são um fator essencial quanto à dissipação de energia e à movimentação de sedimentos. As ondas são capazes de carrear e realocar sedimentos trazidos junto a elas, o que molda a feição praial.


Elas são formadas a partir da transferência da energia do vento à superfície oceânica, gerando pequenas ondulações chamadas de ondas capilares, que vão aumentando de tamanho proporcionalmente à velocidade e duração do vento.


É importante destacar que a velocidade das ondas é diretamente proporcional à profundidade, devido ao baixo atrito da água com o fundo. Ou seja, quanto maior a profundidade, maior é a velocidade da onda. É exatamente por esse motivo que as ondas quebram na praia: conforme a onda se aproxima da costa, a profundidade diminui e o atrito com o fundo aumenta, o que freia as ondas, causando sua quebra e dissipação de energia na área de arrebentação, o chamado espraiamento.


Esquema demonstrando como as ondas se formam até a sua quebra na costa. A imagem representa um "corte lateral" do ambiente de praia arenosa, nuvens no céu, areia com guarda-sol e chinelos indicando a praia e, mais a direita, o fundo do mar. Na porção mais profunda, à direita, um símbolo de ventania indica a transferencia de energia do vento para a superfície do mar, criando leves ondulações. Embaixo da água, setas circulares indicam o movimento individual das moléculas de água. Conforme a profundidade diminui, as setas circulares de movimento de inclinam, indicando o maior atrito com o fundo, assim como o aumento das ondulações. Finalmente, à esquerda e mais perto da praia, o atrito é cada vez maior, o que causa a quebra das ondas na areia da praia.

Esquema demonstrando como se formam as ondas na praia. Fonte: © 2020 Fernanda Cabral.



Devido à grande importância das ondas no ambiente costeiro, qualquer alteração que prejudique o seu curso pode gerar grandes consequências às praias.



EFEITOS DA DRAGAGEM NO AMBIENTE COSTEIRO


Dragar um ambiente pode gerar diversos impactos de diferentes magnitudes, que vão desde alteração da turbidez da água até danos severos à comunidade bentônica. No entanto, as alterações mais sentidas pela população que vive no litoral vêm da erosão costeira causada por atividades de dragagem.


A erosão é um fenômeno natural, resultante de um balanço sedimentar negativo, responsável por diminuir a extensão da faixa de areia de uma praia. É exatamente por esse motivo que o equilíbrio do ambiente praial não é estático: existem épocas em que sedimentos são depositados em maior quantidade, assim como existem épocas em que a erosão pode prevalecer. No entanto, esse processo pode ser acelerado por ações antrópicas.


A dragagem é muito comum em portos de todo o mundo pois visa a aprofundar corpos d’água para receber navios maiores ou simplesmente realizar a manutenção da profundidade já existente. Porém, a modificação da topografia do fundo pode alterar drasticamente a velocidade das ondas e até mesmo o perfil morfodinâmico da praia já que, ao aumentar a profundidade, a velocidade da onda também aumenta, conferindo mais energia ao sistema praial. Dessa forma, a escavação de sedimentos pelas ondas é muito mais intensa, erodindo a praia.


Essa erosão pode se tornar ainda mais grave quando os sedimentos dragados são descartados fora do ambiente original. Isso inibe o abastecimento sedimentar natural da praia e da circulação litorânea, responsável por deslocar os sedimentos para demais localidades.


Erosão na praia do Góes ao longo dos anos. Fonte: Quarenternary Environmental Geosciences (CC BY-NC-SA 4.0).



Felizmente a dragagem não se limita a más consequências. Essa atividade também pode remover sedimentos contaminados do fundo e realocá-los para um descarte seguro. Além disso, a dragagem pode corrigir qualquer impacto significativo que já tenha ocorrido no fundo de um corpo d’água, recuperando e protegendo o ambiente.


Dessa forma, é imprescindível que haja planejamento e gerenciamento de qualquer obra a ser executada em uma zona costeira como a praia, para que não ocorra nenhuma perturbação ao ambiente e à população.




Bibliografia


OLIVEIRA, E. C. Erosão costeira na Ponta da Praia, Santos-SP, e as modificações antrópicas nos sistemas marinho e estuarino da região. Santos: p. 236-246, 2017. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/321368704_EROSAO_COSTEIRA_NA_PONTA_DA_PRAIA_SANTOS-SP_E_AS_MODIFICACOES_ANTROPICAS_NOS_SISTEMAS_MARINHO_E_ESTUARINO_DA_REGIAO. Acesso em: 01 out. 2020.


SIMÕES, M. H. Sistematização dos aspectos ambientais de dragagens portuárias marítimas no Brasil. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia, Sistematização dos Aspectos Ambientais de Dragagens Portuárias Marítimas no Brasil, São Paulo, 141 f. 2009. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3147/tde-21122009-160107/publico/MarioHenriqueSimoes09.pdf. Acesso em: 01 out. 2020.


SOUZA, C. R. G. et al. MONITORAMENTO PRAIAL ANTES E DURANTE AS OBRAS DE DRAGAGEM DO PORTO DE SANTOS, SÃO PAULO (BRASIL). In: CONGRESSO IBEROAMERICANO DE GESTIÓN INTEGRADA DE ÁREAS LITORALES, 1., 2012, Cádiz. Monitoramento praial antes e durante as obras de dragagem do porto de Santos, São Paulo (Brasil). Cádiz: p. 1-11, 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/303299539_Monitoramento_Praial_antes_e_durante_as_obras_de_dragagem_do_Porto_de_Santos_Sao_Paulo_Brasil. Acesso em: 02 out. 2020.


VENANCIO, K. K. Evolução hidromorfodinâmica da região da Ponta da Praia em Santos – SP, no período entre 2009 e 2017. Dissertação (Mestrado) - Curso de Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 148 f. 2018. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/331424/1/Venancio_KellyKawai_M.pdf. Acesso em: 30 set. 2020.





502 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Faça parte!

Contribua com o Projeto Bióicos para a continuidade de nossas produções voluntárias, como: Revista, Poscast, Youtube e Instagram

Assine a lista e receba as novidades!

Obrigado pelo envio! Verifique seu e-mail e marque-nos como contato seguro!

bottom of page