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A vida secreta dos tubarões: alguns predadores não convencionais

Atualizado: 7 de set. de 2020

Autores: Nicholas Negreiros, Mariana P. Haueisen, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró



Fotografia onde podemos ver a silhueta de um tubarão-leopardo nadando com alguns peixes em volta. No segundo plano a superfície com tons de azul e verde iluminada pela luz do sol.

Tubarão leopardo, uma das criaturas mais incríveis do oceano mas que passa despercebida pelo terror que carrega em seu nome. Fonte: victoria white2010/Flickr (CC BY 2.0).



Os tubarões são peixes cartilaginosos (possuem esqueleto composto por cartilagem, em vez de ossos) e fazem parte da classe dos elasmobrânquios. São essencialmente carnívoros e sua dieta vai de organismos do plâncton até focas e tartarugas, variando de acordo com a espécie.


Existem tubarões que não passam de 60 cm e outras que chegam a 12 metros de comprimento, com comportamentos variados. A morfologia desses animais os coloca entre os melhores caçadores do planeta, já que seu corpo fusiforme e seus sentidos são o conjunto perfeito para uma caça bem sucedida. Contam com um olfato extremamente apurado, excelente audição para detecção de sons de baixa frequência, além de possuírem um órgão sensorial chamado linha lateral, que detecta movimentos sutis e mudanças na pressão da água ao seu redor. Apresentam também um outro órgão formado por eletrorreceptores chamado ampola de Lorenzini, que detecta a curto alcance pequenos sinais elétricos que as presas emitem.


Com formas e hábitos muito diferenciados entre si, tubarões podem ser vivíparos, ovíparos ou ovovivíparos, podendo ocorrer, em algumas espécies, até mesmo o canibalismo entre embriões ainda dentro da barriga da mãe. Dentre esses comportamentos diferenciados, temos alguns que se destacam por suas peculiaridades e curiosidades. Vamos falar um pouco sobre algumas?



TUBARÃO DE CHIFRE


Com 8 espécies conhecidas e facilmente reconhecido pela boca pequena com dentes molariformes (semelhantes aos dentes molares nos mamíferos) na região posterior da arcada dentária, os indivíduos do gênero Heterodontus (ordem: Heretodontiformes) vivem no Oceano Pacífico em até 100 metros de profundidade, em águas acima de 21 ºC. São seres com hábitos noturnos que nadam lentamente pelo fundo e por dentro de cavernas rochosas, procurando pelo seu principal alimento: invertebrados bentônicos (organismos que vivem no substrato em um ambiente aquático).



A imagem mostra um tubarão de chifre de coloração acinzentada e marrom com algumas pintas pretas. Ele está no fundo do oceano e ao seu redor há algumas algas.

Heterodontus francisci - Tubarão de chifre. Fonte: Cymothoa exigua/ Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).



São animais ovíparos e, talvez, sua maior peculiaridade seja exatamente essa: os ovos têm um formato como um parafuso, em espiral. Eles eclodem depois de cinco meses e os filhotes nascem com aproximadamente 14 cm.



Foto do ovo de um tubarão-de-chifre mostrando o seu formato em espiral

Ovo em espiral de um tubarão de chifre. Fonte: Devra/wikimedia commons (CC BY 2.0).



TUBARÃO WOBBEGONG


Pertencente à ordem Orectolobiformes, o Wobbegong possui esse nome por causa da sua aparência: significa “barba desgrenhada” na linguagem dos aborígenes australianos. Eles vivem em ambientes costeiros em meio a rochas e recifes de corais. Com pelo menos 12 espécies conhecidas também como tubarões-tapete, já foram documentados indivíduos que chegam aos três metros de comprimento e também existem aqueles que não passam de pouco mais de um metro.


Mas por que um tubarão dessas dimensões vive escondido em meios às rochas?


Isso acontece porque são predadores de emboscada. Dependem de sua camuflagem e ficam imóveis em meio ao fundo rochoso esperando as presas chegarem perto o suficiente, até que não tenham chance de escapar de seu bote, que tem uma velocidade incrível.



Foto de um tubarão wobbegang repousando no fundo do oceano. Seu corpo é achatado, o que o deixou popularmente conhecido como tubarão tapete, com saliências ramificadas nas extremidades, que ajudam na sua camuflagem.

Wobbegong repousando no fundo do oceano. Na foto podemos ver como funciona sua camuflagem. Fonte: John Hanson/wikimedia commons (CC BY-SA 2.0)



TUBARÃO CHARUTO


Esse curioso tubarão que não passa de 40 cm pertence à ordem Squaliformes e possui marcas bem características. Alimentam-se principalmente de lulas (algumas maiores que eles), mas também tiram pequenos pedaços de animais muito maiores, como baleias e outros grandes mamíferos. Devido ao formato de sua boca e de seus dentes eles conseguem morder esses animais, deixando pequenas “crateras” por onde passa.


São animais que possuem bioluminescência e hábitos noturnos, durante o dia vivem em profundidades de mais de 1000 m e ao anoitecer retornam à superfície para se alimentar.



À esquerda temos uma foto frontal de um tubarão charuto mostrando seu formato cilíndrico e seus olhos grandes adaptados para o escuro. À direita, uma baleia morta com cicatrizes arredondadas deixadas por mordidas do tubarão charuto.

Vista frontal de um tubarão charuto e cicatrizes deixadas pelas mordidas em uma Baleia-bicuda-de-gray. Fontes: U.S. National Oceanic and Atmospheric Administration/wikimedia commons (CC BY-SA 3.0); Avenue/wikimedia commons (Domínio público).



TUBARÃO ANJO


Com o corpo achatado e nadadeiras peitorais grandes e largas, é fácil identificar esse tubarão, que alcança no máximo um metro e meio de comprimento. Sendo os únicos representantes da ordem Squatina, existem 16 espécies conhecidas desse animal e pelo menos três são encontradas aqui no Brasil.


Sendo outro caçador de emboscada que se destaca em sua especialidade, ele passa horas enterrado na areia esperando que a próxima presa se aproxime para que sua velocidade e suas poderosas mandíbulas entrem em ação. A dieta se resume a peixes, moluscos e crustáceos.



Foto de um tubarão-anjo visto de cima, repousando na areia no fundo do mar. A imagem mostra seu corpo achatado e suas grandes e largas nadadeiras.

Squatina japonica, uma espécie de tubarão-anjo repousando na areia; Fonte: Ryo Sato/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).



MAS AFINAL DE CONTAS, QUANTAS ESPÉCIES DE TUBARÕES EXISTEM NO MAR?


A quantidade de espécies de tubarões, assim como a diversidade da vida marinha, é imensa. Temos por volta de 450 espécies conhecidas e cada uma delas apresenta muitas curiosidades para aprendermos sobre.


Nossa visão é sempre voltada para os grandões, como o imponente tubarão-branco, o tubarão-tigre, ou o tubarão-cabeça-chata pela fama que ganharam ao longo dos anos como predadores de seres humanos graças a alguns filmes que os colocam como monstros, mas na realidade os encontros são acidentais e muito raros.


Vale muito a pena lembrar da importância de cada espécie para o equilíbrio do ecossistema marinho, seja um tubarão-gato de 60 cm ou um tubarão-baleia com seus colossais dez metros.



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Bibliografia


FAO. Identification guide to common sharks and rays of the Caribbean. Roma, Itália: Edoardo Mostarda (fao, Rome), 2016. 80 p. Disponível em: <http://www.fao.org/3/a-i5691e.pdf>. Acesso em: 04 fev. 2020.


LARGACHA, A. A.; BERNARDES B. R.; GONZALES M. M. B.; Captura incidental de tubarão-charuto (Isistus brasiliensis) (Squaliformes, Squalidae) da pesca atuneira no sudeste e sul do Brasil. Santos-sp: 2010. 4 p. Disponível em: <https://sites.unisanta.br/simposiobiomar/2010/trabalhosap/111.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2020.


LINNAEUS (1758). Squatina squatina Angelshark. 2014. Disponível em: <https://www.fishbase.se/Summary/SpeciesSummary.php?id=736&lang=portuguese_po>. Acesso em: 10 fev. 2020.


NSW, Industry & Investment. Wobbegong Sharks (Orectolobus spp.). Nova Gales do Sul: 2010. 4 p. Disponível em: <https://www.dpi.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0009/375966/Wobbegong-Sharks.pdf>. Acesso em: 06 fev. 2020.


POSCAI, Aline Mayara. Estudo comparativo da morfologia dos nervos da linha lateral e ampolas de Lorenzini de Rhizopionodon lalandii (Muller & Helne 1839) (tubarão-frango) e Prionace glauca (Linnaeus, 1758) (tubarão-azul) (Elasmobranchii: Carcharhinidae). 2016. 71 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina Veterinária, Cirurgia, Usp, São Paulo, 2016. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10132/tde-21032017-155039/pt-br.php>. Acesso em: 05 fev. 2020.


SERÉT, Bernard. Antic, for the purpose of the fishery observers and biologists Identification guide of the main shark and ray species of the eastern tropical Atlantic. Marselha, França: 2006. 76 p. Disponível em: <https://cites.unia.es/cites/file.php/1/files/id_east_trop_atlantic_eng.pdf>. Acesso em: 04 fev. 2020.



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