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Armadilhas no mar: a morte incidental de animais marinhos

Atualizado: 7 de set. de 2020

Autores: Lucas Garcia Martins, Andreliza Roberta Terciotti de Oliveira, Andrea Bezerra Magalhães, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró


Foto de seis filhotes de tartarugas-marinhas na praia, indo em direção ao mar, com areia sobre seus corpos.

Tartarugas marinhas recém-nascidas. Fonte: Skeeze/Pixabay (Domínio público)



Ao olhar para a imagem acima, provavelmente vocês imaginam que essas tartaruguinhas estão caminhando para um paraíso azul onde viverão uma vida feliz junto dos outros animais, certo? Porém, vamos explorar melhor este assunto!

Na terra ou no mar os animais lutam pela sobrevivência, sobretudo para passar seus genes adiante, ou seja, manter-se geneticamente vivos. Entretanto, nós humanos estamos dificultando a vida desses animais quando descartamos plásticos ou equipamentos de pesca de forma inadequada, pois esse lixo acaba chegando ao mar.


No caso das tartarugas marinhas, desde seu nascimento até sua chegada ao mar, encontram diversos desafios para sobreviver. Até atingirem a fase adulta, elas podem encontrar contratempos, dentre os quais podemos citar predadores e o lixo. Aquelas redes de pesca e petrechos “esquecidos” no mar acabam sendo também grandes armadilhas desse lar. Por isso, ouvimos com frequência que as situações que mais colocam os animais marinhos em risco são nossas próprias atitudes.



PESCA FANTASMA


Você sabia que por ano, no Brasil, aproximadamente 25 milhões de animais que compõem a fauna marinha sofrem impacto com a “pesca fantasma”?


A pesca fantasma é considerada aquela em que a rede de emalhe (tipo de pesca passiva, ou seja, os peixes se prendem na malha devido ao seu próprio movimento), rede de arrasto ou petrechos de pesca (varas, linhas, anzóis, espinhéis) são descartados no oceano e permanecem circulando por anos nas águas oceânicas ou presos em rochas. Esses objetos se tornam verdadeiras armadilhas para os animais marinhos, incluindo aves que mergulham para pescar.

De acordo com a ONG World Animal Protection (Proteção Animal Mundial), cerca de 640 mil toneladas de equipamentos são encontrados no oceano a cada ano e estima-se que 580 kg de redes de pesca sejam abandonadas por dia no Brasil.

Tartarugas e outros animais de grande porte estão sujeitos a enroscar-se nesses materiais, onde os emalhes acabam gerando sufocamento, e consequentemente encalhe ou a mortalidade por afogamento. Quando conseguem escapar, os animais carregam enormes ferimentos e lesões pelos seus corpos.


Foto de uma tartaruga flutuando no oceano, de cabeça para baixo, presa numa rede de pesca, morta.

Embora pareça chocante, é importante ver de maneira concreta o quão danosos são os impactos desse “descuido” que é a pesca fantasma. Resultado de pesca fantasma: tartaruga marinha morta, emalhada em rede. Fonte: Salvatore Barbera/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0)



É cada vez mais frequente o relato de Instituições e ONGs que trabalham com resgate e reabilitação de animais marinhos, sobre encalhes devido à interação com a poluição, resíduos sólidos e restos de materiais de pesca.

Na imagem abaixo, vemos uma tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) que foi encontrada com fratura exposta na nadadeira, já necrosada e que precisou ser amputada. De acordo com a professora Andrea Bezerra Magalhães, eEla não resistiu à cirurgia e morreu no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Após a necropsia, o animal foi taxidermizado e está conservado no Museu de Zoologia da instituição. São evidentes as marcas deixadas pela rede de pesca na nadadeira e no pescoço do animal. Mais do que as marcas externas, o laudo de necropsia revelou extensas áreas de necrose tecidual nas outras três nadadeiras, resultado do esforço do animal para se livrar da armadilha.



Composição de quatro fotos de uma tartaruga marinha taxidermizada. Em sentido horário a primeira foto mostra uma grande cicatriz no pescoço da tartaruga. A segunda, vista de cima mostra o animal por inteiro em que lhe falta uma das nadadeiras da frente. A terceira mostra frotalmente rosto e as marcas da amputação da nadadeira. A quarta foto exibe, vista de cima a nadadeira frontal com cicatrizes bem marcadas.

Tartaruga taxidermizada vítima de rede, com marcas no pescoço e nadadeira. Fonte: Andrea Bezerra Magalhães, 2019.



Contudo, é possível que esses animais saiam com vida ao se prenderem incidentemente em redes de pesca ou em espinhéis em atividade. Essa possibilidade cresce quando os pescadores trabalham atentos e dentro da lei.



PROJETOS DE CONSERVAÇÃO


O Projeto Tamar há mais de 30 anos desenvolve um trabalho importante com os pescadores. Praticamente em todas as regiões onde existem sede do Tamar, principalmente os pescadores “caiçaras” tornaram-se colaboradores essenciais para a proteção das tartarugas marinhas e de outros animais considerados “fauna acompanhante”.

Além de auxiliarem na retirada desses animais, quando literalmente “caem na rede”, eles entram em contato com as bases do Tamar, possibilitando registrar os dados desses animais, por meio da coleta de material biológico, medidas, análise do estado geral dos animais e anilhamento.

Com orientações dos pesquisadores, os pescadores adequaram seus horários de pesca aos períodos que as tartarugas estão menos ativas. Com isso, acabam pescando mais peixes e as tartarugas caindo menos em suas redes. Também informaram-se quanto a características das redes de emalhe, como dimensão, malha, profundidade e espécies-alvo, fatores que ajudaram na diminuição de interação das redes com as tartarugas.

Foram também desenvolvidas novas medidas para a pesca com espinhel. Pesquisadores do Projeto Tamar, após diversos estudos e testes, projetaram um anzol diferenciado, com formato circular, mais achatado, que tornou-se de uso obrigatório pela Portaria Interministerial 74/2017 para embarcações nacionais e estrangeiras arrendadas, e empregaram o uso de um desenganchador de anzol.

Quando os animais tentam roubar as iscas, o anzol não passa mais pela garganta, apenas enroscam nas cavidades bucais, podendo ser retirados sem machucar os animais. Essas medidas propiciam a redução de captura incidental e a mortalidade de tartarugas.



A: Anzol achatado, defendido pelo Projeto Tamar. B: Anzol comum, usado antigamente. Fonte: adaptada de Projeto Tamar ©



Diversas ONGs espalhadas pelo Brasil monitoram as praias a fim de encontrar animais encalhados ou carcaças. Na maioria das vezes, os animais encalhados ainda com vida ganham uma chance de sobreviver. O rápido resgate, seguido do pronto atendimento realizado por veterinários especializados, possibilita a volta de muitos animais ao seu habitat natural.


O que podemos fazer, mesmo não sendo biólogos ou veterinários?


Podemos auxiliar na manutenção do ambiente marinho, ou seja, não deixar lixo nas praias. Dessa maneira, atuamos como preservadores da natureza, consequentemente, da vida de muitos animais marinhos e sobretudo promovemos que um maior número de filhotes chegue ao mar.

Ao deparar-se com equipamentos de pesca à deriva no mar ou em praias, você pode cooperar com a Campanha “Pesca fantasma”, informando sobre a localidade desses materiais no Mapa de Pesca Fantasma, ajudando a estabelecer quais locais precisam de maiores cuidados.



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Bibliografia


Braile, F. Trabalho social com pescadores salva tartarugas marinhas. Meio Ambiente-Instituto Oceanográfico, ano 41, ed. 117. Disponível em: http://www.usp.br/aun/antigo/exibir?id=2488&ed=338&f=27. Acesso 01 mai. 2019.


Gomes, B.M.; Alvarenga, F.S.; Ottoni, G.; Fernandes, J.S.; Giffoni, B.B.; Fonseca, V.; Almeida, B.A.D.L.; Becker, J.H. CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE EMALHE E INTERAÇÃO COM AS TARTARUGAS MARINHAS EM UBATUBA – SP. Disponível em http://www.projetotamar.org.br/publicacoes_html/pdf/2010/2010_Caracterizacao_da_pesca_de_emalhe.pdf. Acesso 05 mai. 2019.


ICMBio. Anzol criado pelo Tamar salva tartarugas durante pesca. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/834-anzol-criado-pelo-tamar-salva-tartarugas-durante-pesca. Acesso 16 mai. 2019.


ICMBio. Monitoramento da Pesca e sua Interação com Tartarugas Marinhas. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/centrotamar/monitoramento-da-pesca-e-sua-interacao-com-tartarugas. Acesso 01 mai. 2019.


Impacto ambiental. Anzol defendido pelo Projeto Tamar passa ser obrigatório por lei. Disponível em: http://www.impactounesp.com.br/2018/11/anzol-defendido-pelo-projeto-tamar.html. Acesso 10 mai. 2019.



Projeto Tamar. Interação com a pesca. Disponível em: https://www.tamar.org.br/interna.php?cod=73. Acesso 08 mai. 2019.


Projeto Tamar. Norma para proteção de tartarugas marinhas na pesca oceânica. Disponível em: https://tamar.org.br/noticia1.php?cod=598. Acesso 14 mai. 2019.


WAP. Campanha ”Pesca Fantasma”: combate aos equipamentos de pesca abandonados. Disponível em: https://www.worldanimalprotection.org.br/nosso-trabalho/animais-silvestres/campanha-pesca-fantasma-combate-aos-equipamentos-de-pesca. Acesso 16 mai. 2019.



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