15 de dez de 20174 min

Polvo: um animal, sete maravilhas

Atualizado: 7 de set de 2020

Autores: Laís Neves, Julia R. Salmazo, Thais R. Semprebom, Regiane Dall’Aqua e Douglas F. Peiró

Pequeno polvo abrigado em uma concha. Fonte: Nick Hobgood/WikimediaCommons (CC BY-SA 3.0).

OS POLVOS E SUAS INCRÍVEIS HABILIDADES

Os polvos são as criaturas marinhas mais impressionantes e habilidosas já encontradas. Costumam se abrigar em fendas nas rochas ou construir sua própria toca, com pequenas conchas e cascalhos que encontram no mar. Pertencem à classe Cephalopoda (cephalo = cabeça; poda = pés) e à ordem Octopoda (octo = oito; poda= pés), que indicam as principais características desses animais: ter oito pés, que estão ligados à cabeça, ao redor de sua boca. Eles também não possuem esqueleto, por isso fazem parte do filo Mollusca (molluscus = mole).

Desenho esquemático mostrando a morfologia externa do polvo. Fonte: modificado de Karlis Kalviškis/WikimediaCommons (CC BY-SA 4.0).

Os polvos utilizam seus braços para se locomover e capturar suas presas, pois são animais predadores e se alimentam principalmente de pequenos peixes, crustáceos e outros invertebrados. Seus braços são dotados de uma série de ventosas muito sensíveis ao toque. Cada ventosa possui pequenos quimiorreceptores que conseguem captar moléculas minúsculas do ambiente marinho e levar a informação até seus gânglios cerebrais. Dessa forma, é como se o animal sentisse o gosto dos objetos e locais que toca.

Além disso, os polvos têm a capacidade de autotomia dos seus membros, ou seja, conseguem “soltar” seus braços quando se sentem ameaçados, distraindo o predador enquanto fogem, semelhante ao que as lagartixas fazem com suas caudas. O local logo se regenera e o molusco volta a ter um novo braço. Incrível, não é mesmo? Mas não para por aí!

Os polvos possuem um incrível raciocínio lógico, grau de consciência e são capazes de traçar planos. Mergulhadores observaram um polvo carregando pequenas pedras até a sua toca e construindo uma espécie de barreira. Posteriormente, o animal saiu para caçar e voltou com um pequeno caranguejo, o qual ficou aprisionado no interior da toca, visto que as pedras bloquearam a saída do crustáceo, impedindo sua fuga. O polvo, então, pôde devorar o animal com mais calma e segurança, pois estava protegido em seu abrigo, sem chances da comida ir embora. Muito esperto!

Polvo exibindo as ventosas de seus braços. Ao centro dos braços, abaixo da cabeça encontra-se sua boca. Fonte: damn_unique/Flickr (CC BY-SA 2.0).

Outro truque fantástico para despistar predadores é a sua capacidade de liberar uma densa nuvem de tinta preta na água. A coloração enegrecida da tinta se dá por moléculas de melanina (o mesmo pigmento que dá cor à nossa pele, olhos e cabelos, mas em concentrações diferentes da tinta do polvo), que são produzidas por glândulas e armazenadas em um saco no corpo do molusco. Quando ameaçado, ele libera a tinta e nada para o lado oposto de onde a liberou, para que o predador não veja a sua fuga. A tinta funciona como um anestésico para seus predadores, impedindo que eles rastreiem seu cheiro.

Os polvos costumam ser solitários durante a vida e só procuram um parceiro em época de reprodução. A fêmea libera hormônios na água para atrair o macho. O macho possui um dos seus braços modificados, chamado hectocótilo, que serve apenas para reprodução. Os rituais de acasalamento costumam ter marcantes mudanças de cores dos indivíduos, para sinalizar a outros machos que a fêmea já encontrou um parceiro. Após o acasalamento, a fêmea deposita cerca de 150 mil ovos em uma toca e os protege por cerca de dois meses. Esse comportamento é chamado de “cuidado parental”. Durante esse período, ela não sai para se alimentar e morre de fome logo depois que os ovos eclodem.

Mamãe polvo cuidando de seus ovos. Durante esse período, ela não se alimenta e morre logo após os ovos eclodirem. Fonte: Christianreno/WikimediaCommons (CC BY-SA 4.0).

MAS, E A FAMOSA CAMUFLAGEM?

De todos os atributos que os polvos possuem, o mais incrível é a sua capacidade de se camuflar nos diferentes ambientes aquáticos. Esses animais utilizam a camuflagem para fugir de predadores, caçar suas presas, comunicar-se entre si (espantar outros polvos ou atrair fêmeas) e até mesmo indicar perigo, como é o caso do polvo-de-anéis-azuis, que possui círculos bem marcados de cor azulada em todo o seu corpo, indicando seu poderoso veneno.

A pele dos polvos é coberta por células especiais, com pigmentos de vários tipos, como cromatóforos e iridiócitos que, quando trabalham em conjunto, conseguem produzir uma camuflagem perfeitamente igual ao ambiente onde os animais precisam se esconder e de forma extremamente rápida. O curioso das células cromatóforas é que elas não mudam de cor, pois cada uma já possui uma cor específica. O que ocorre é uma expansão dos cromatóforos da cor desejada, enquanto os demais se contraem, resultando na camuflagem ideal.

Ao centro, é possível reconhecer o polvo camuflando-se nas pedras marinhas. Fonte: Gord Webster/Flickr (CC BY-SA 2.0).
 

Outro caso incrivelmente curioso é o polvo-imitador da Indonésia. Esse molusco possui uma coloração mais característica, com o corpo todo listrado em preto e branco, porém tem a habilidade de imitar o comportamento (como nado e movimentos) de diversos outros animais, como a cobra-do-mar, o peixe-leão e o peixe linguado. Esse animal ainda consegue nadar na coluna d’água, coisa rara entre os Octopoda! Esse talento o ajuda a amedrontar e confundir possíveis predadores.

Está para nascer outro animal com tantos atributos assim!

Polvo-de-anéis-azuis. Embora pequeno, esse animal tem veneno suficiente para paralisar até 10 homens. Fonte: pen_ash/Pixabay (Domínio Público).

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Bibliografia

BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. McGraw-Hill, 2005.


 
MAGALHÃES-SANT’ANA, M. Consciência animal: para além dos vertebrados. Jornal de Ciências Cognitivas, v. 11, mar. 2009. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/307167210_Consciencia_animal_para_alem_dos_vertebrados>. Acesso em: 18 nov. 2017.


 
RIBEIRO-COSTA, C. S.; ROCHA, R. M. Invertebrados: manual de aulas práticas. Ribeirão Preto: Holos, 2002. 226 p.

RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005. 1145 p.

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