Autores: Lucas Rodrigues da Silva, Mariana P. Haueisen, Thais R. Semprebom e Douglas Peiró
Vista da Laguna de Itaipu, Niterói/RJ. Fonte: Lucas Rodrigues, 2019 ©.
ECOSSISTEMAS DA ZONA COSTEIRA BRASILEIRA
Por conta da longa extensão do Brasil e diferentes características de cada região da costa, a zona costeira brasileira contém habitats e ecossistemas distintos. Na região norte do país, os ecossistemas costeiros predominantes são estuários de rios (como do Rio Amazonas) e planícies lamosas. Na costa do nordeste, são predominantes os ecossistemas de dunas, estuários com manguezais, deltas-estuarinos de rios e recifes de franja. Já no sudeste-sul, encontramos estuários de rios, baías estuarinas e, especialmente, as lagunas costeiras. Costões rochosos e praias arenosas também são considerados ecossistemas costeiros que podem ser encontrados em toda a costa.
O QUE É UM ESTUÁRIO?
Estuários são ambientes de transição entre o rio e o mar. São encontrados próximos aos oceanos, ao redor de todo o planeta, podendo variar na origem, tamanho e tipo. Exemplos deste ecossistema são: lagunas, baías, lagoas e deltas. Os manguezais são ecossistemas associados diretamente com os estuários. Porém, todos eles vão compartilhar uma principal característica: mistura de água doce com água salgada, o que proporciona um ambiente rico em vida.
O QUE É UM DELTA ESTUARINO?
É chamado de delta o ambiente estuarino localizado na porção final de um rio (foz). A sua formação acontece com o acúmulo de sedimento (trazidos pelo rio durante todo o ano) em uma região geralmente próxima ao mar, onde o rio perde sua força e se ramifica. O nome delta está relacionado com o seu formato triangular, muito parecido com a letra grega delta (Δ). Um delta-estuarino é ligeiramente diferente: eles possuem áreas de depósitos sedimentares dentro e fora da desembocadura dos rios.
Representação de um delta. Na imagem, o Rio Nilo (coloração esverdeada) indo para o mar e, em destaque, sua desembocadura em formato de delta, uma região onde os sedimentos carregados ficam depositados. Fonte: Google Earth Pro, 2020.
LAGUNAS E LAGOAS COSTEIRAS
Lagunas são porções de água paralelas à região costeira, onde são protegidas por uma faixa de areia em forma de barreira (normalmente ocorre a presença do ecossistema de restinga), mais frequentemente encontradas na região sudeste e sul do Brasil. Possuem pouca movimentação e profundidade relativamente baixa.
Coleta de zooplâncton na maré vazante (água saindo da lagoa), realizada por alunos, professores e colaboradores da Faculdade Maria Thereza, na Lagoa de Itaipu, em Niterói/RJ. A coloração turva é característica da quantidade elevada de material orgânico (esgoto doméstico, ligação com outra lagoa) depositado na lagoa. Fonte: Lucas Rodrigues, 2019 ©.
As lagunas podem ser ligadas ao mar por canais ou até mesmo subterraneamente. A salinidade da água pode variar de acordo com a chuva (descarga de água doce), taxa de evaporação (aumento da salinidade) e depende do horário do dia, por conta da maré. Com uma maré enchente, a água do mar tende a entrar na laguna, fazendo com que a água se torne mais salgada. Já em uma maré vazante, a água da laguna tende a ir para o mar, tornando a água salobra. Unidos a este ecossistema, também devem-se considerar os lagos costeiros. Diferente das lagunas, os lagos costeiros tiveram seus canais de ligação com o mar fechados e, consequentemente, possuem uma salinidade baixa e biodiversidade própria.
RESTINGA
O nome “restinga” é dado para comunidades vegetais que se desenvolvem sob influência do mar em cordões arenosos, praias e dunas de nosso litoral. As restingas são um exemplo de ecossistema costeiro extremamente frágil da Mata Atlântica, com vegetação majoritariamente rasteira.
Agrupam diversas comunidades vegetais (arbustos, subarbustos, árvores) e conseguem suportar condições adversas: além de ventos intensos e luz solar direta, o solo é instável, com pouca capacidade de reter água, pobre em nutrientes e extremamente salgado. Apesar de ser um ecossistema frágil, esta vegetação proporciona um ambiente de extrema importância para a preservação de rios, (atuando contra processos erosivos na margem), disponibilidade de alimento, abrigo e local para nidificação para fauna local e migratória.
Restinga de Itaipu, Niterói/RJ. Fonte: Lucas Rodrigues, 2019 ©.
PRINCIPAIS AMEAÇAS
Restingas, lagunas e lagoas podem ter um problema em comum: a especulação imobiliária. Construções acabam se tornando atraentes por estarem próximas ao mar, como mostra a primeira imagem, onde é notável o contraste dos barcos de pesca artesanal e prédios residenciais. Isso torna as pesquisas nesses ambientes de extrema necessidade, pois com elas, podemos indicar a importância desses ecossistemas, na preservação de espécies endêmicas, suas relações ecológicas e reduzir, com o auxílio dos resultados desses estudos, possíveis construções que podem impactar de grande forma esses locais.
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