Autores: Raphaela Alt Müller, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
Baleia-jubarte no oceano. Fonte: fotógrafo desconhecido/Pixabay.
As baleias e os golfinhos pertencem à infraordem dos Cetáceos, mamíferos que estão totalmente adaptados ao meio aquático. No total, a infraordem possui aproximadamente 86 espécies, sendo elas divididas em dois grupos: os odontocetos (superfamília Odontoceti) e os misticetos (superfamília Mysticeti). No Brasil, 47 espécies de cetáceos já foram avistados em águas continentais e costeiras.
Os cetáceos estão distribuídos por todo o mundo. Algumas espécies podem ser encontradas apenas em rios, outras em regiões estuarinas e costeiras, mas a maioria das espécies são oceânicas, efetuando grandes deslocamentos diários e também sazonais.
CARACTERÍSTICAS DOS CETÁCEOS
O corpo possui uma forma hidrodinâmica, o que favorece seu deslocamento na água. Os membros anteriores são modificados em excelentes nadadeiras peitorais e os membros posteriores foram perdidos ao longo da evolução para o ambiente aquático. A cauda, adaptada em nadadeira, desempenha um papel importante na locomoção e a ausência ou escassez de pelos diminui o atrito com a água. Algumas espécies de baleias apresentam pelos na região da cabeça que, provavelmente, funcionam como pelos sensoriais. Eles possuem uma espessa camada de gordura que fornece um isolamento térmico, muito útil para se proteger da temperatura do oceano.
Respiração
As narinas se localizam no topo da cabeça, permitindo ao animal respirar sem colocar a cabeça inteira para fora da água. Nos Odontoceti, esse orifício respiratório é constituído de apenas uma abertura e nos Mysticeti são duas aberturas.
Golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) com seu orifício respiratório aberto. Fonte: derevv/Pixabay.
QUEM SÃO OS MYSTICETI?
Baleia-jubarte saltando nas águas do Parque Nacional dos Fiordes de Kenai, no Alasca, EUA. Fonte: fotógrafo desconhecido/Pixabay.
Os Mysticeti são popularmente conhecidos como baleias. Existem apenas 4 famílias na superfamília Mysticeti e aproximadamente 14 espécies. Dessas quatro famílias, duas ocorrem no Brasil: Balaenidae e a Balaenopteridae. As espécies mais conhecidas são a baleia-franca, baleia-azul e a baleia-jubarte.
As baleias possuem uma ampla distribuição geográfica, algumas podem ser encontradas em todo os oceanos, como as jubartes. Porém, todas elas realizam migrações sazonais entre áreas de alimentação e reprodução. Algumas espécies podem completar o ciclo de migração com deslocamentos que ultrapassam os 10 mil km.
São considerados animais de grande porte, tendo dentro da Balaenopteridae, a baleia-azul, considerada o maior animal do mundo. Pode alcançar até 33,6 metros de comprimento e pesar 150 toneladas.
Comparação de tamanho de um ser humano médio e uma baleia-jubarte. Fonte: Jjw/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).
Ao invés de utilizarem dentes na alimentação, como os golfinhos, os Mysticeti desenvolveram barbatanas, cerdas feitas de queratina (mesma proteína que temos nas nossas unhas e cabelos) que ficam presas na maxila. Estruturas filtradoras, essas cerdas podem ser bem finas em espécies que se alimentam de plâncton (organismos muito pequenos) e grossas nos que se alimentam de pequenos crustáceos e peixes.
Os animais desse grupo alimentam-se engolindo uma grande quantidade de água que, em seguida, é expelida, e os organismos que ficam retidos nos filamentos da barbatana são ingeridos com a ajuda da língua.
Baleia-jubarte de boca aberta, sendo possível ver as barbatanas usadas na alimentação. Fonte: bobwright/Pixabay.
São animais solitários, mas durante o período de acasalamento, os machos emitem sons para atrair as fêmeas, o famoso “canto das baleias”. Alguns estudos dizem que esses sons não são emitidos apenas na época de acasalamento, mas também quando estão feridas ou próximas à morte. Essas baleias se comunicam por ultrassom e, com uma audição bastante aguçada, conseguem ser ouvidas a centenas de quilômetros.
E OS ODONTOCETI, QUEM SÃO?
Grupo de golfinhos do gênero Delphinus nadando nas águas do Havaí, USA. Fonte: Jeremy Bishop/Pexels.
Dentro da superfamília Odontoceti são encontradas aproximadamente 72 espécies e os principais representantes desse grupo são os golfinhos, as orcas, os botos e as cachalotes. Esses animais são encontrados em quase todo o mundo, exceto nos pólos. Os Odontoceti têm como principal característica o aparecimento de dentes no final do período de lactação.
Eles possuem homodontia, ou seja, todos os seus dentes têm a mesma forma. Os dentes não são substituídos, diferente de nós, e são usados para capturar presas, mas não para mastigá-las. A dieta do grupo consiste basicamente de peixes, lulas, polvos e crustáceos. As orcas são predadores mais vorazes, podendo se alimentar de baleias, focas, leões-marinhos e de outros Odontoceti como os golfinhos e também filhotes de baleias Mysticeti.
Crânio de uma orca (Orcinus orca) com a dentição típica dos Odontoceti. Fonte: User BS Thurner Hof/Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0).
Além de serem conhecidos pelos seus dentes, os odontocetos possuem um complexo sistema de ecolocalização utilizado na navegação, captura de alimentos e socialização. A ecolocalização permite detectar a posição e a distância de objetos ou animais pela emissão de ondas ultrassônicas e do tempo gasto para essas ondas serem emitidas, refletidas no alvo e voltarem ao animal sobre a forma de eco. Eles emitem o som pela cavidade nasal e recebem os ecos pela mandíbula, passando para o ouvido interno que manda a mensagem para o cérebro onde ocorre o reconhecimento do eco, tudo isso em milésimos de segundos. Além disso, o melão direciona as ondas sonoras, altera o comprimento e frequência delas, ou seja, ele controla a intensidade do som emitido pelo animal.
Sistema de ecolocalização dos Odontoceti e as partes da cabeça que participam desse processo. Fonte: adaptado de Achat1999/Wikipedia (CC-BY-SA-4.0).
Com este completo sistema de ecolocalização, os golfinhos desenvolveram uma “riqueza linguística”. Alguns estudos defendem que a comunicação dos golfinhos vai mais além e que têm sons específicos para avisar sobre o perigo ou que existe comida, e que por vezes são realmente complexos. Além disso, sabe-se que quando se encontram, utilizam um determinado vocabulário, como se cumprimentassem uns aos outros.
Popularmente chamamos as orcas de baleias-orcas, mas cientificamente as orcas são mais próximas evolutivamente dos golfinhos. As orcas estão dentro da superfamília dos odontocetos, animais com dentes e não com barbatanas. Outro animal que confundimos com baleias é o cachalote. Ele é considerado o maior cetáceo com dentes, ou seja, um Odontoceti também.
AMEAÇAS
Das 47 espécies encontradas no Brasil, 8 espécies de Cetáceos estão criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável à extinção, segundo a Portaria Nº - 444, de 17 de dezembro de 2014 publicada pelo Ministério do Meio Ambiente. Em 1º de agosto de 2019 foi aprovado o Plano de Ação Nacional para Conservação de Cetáceos Marinhos Ameaçados de Extinção (PAN Cetáceos Marinhos). Esse Plano vai contemplar 7 táxons ameaçados de extinção, tendo como objetivo geral a melhorar o estado de conservação de cetáceos marinhos, mitigando os impactos antrópicos e minimizando as ameaças, como a atividade pesqueira, redução de resíduos nos ambientes marinhos como o canudo e distúrbios sonoros.
A preservação dos cetáceos encontrados na nossa costa e a conservação do ambiente marinho é de extrema necessidade, para manutenção do equilíbrio que estes animais prestam para as cadeias tróficas e para saúde dos oceanos.
Escute este artigo também pelo nosso Podcast. Clique aqui!
Bibliografia
Conselho Editorial do WoRMS (2020). Registro Mundial de Espécies Marinhas. Disponível em: http://www.marinespecies.org no VLIZ. Acesso em 21/04/2020.
FOER, J. O Cérebro dos golfinhos. National Geographic Portugal. Disponível em: https://nationalgeographic.sapo.pt/natureza/grandes-reportagens/445-como-pensam-os-golfinhos. Acesso em: 12/04/2020
FLORES, P. A., PRADO, J. H. & PRETTO, D. J. CETÁCEOS NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BALEIA FRANCA. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/plano-de-manejo/7_cetaceos_apa_da_baleia_franca.pdf. Acesso em: 11/04/2020.
LABCMA. Adaptações ao ambiente aquático. Disponível em: http://sotalia.com.br/index.php/inicio/14-portugues/educativo/fique-por-dentro/64-adaptacoes-ao-ambiente-aquatico. Acesso em: 17/04/2020.
PERRIN, W. F. World Cetacea Database. 2020. Disponível em: http://www.marinespecies.org/cetacea/. Acesso em: 16/04/2020.
RAMOS, G. D. OS ANIMAIS E A PSIQUE - VOLUME 1: baleia, carneiro, cavalo, elefante, lobo, onça, urso. Volume 1 de Os animais e a psique. P. 257. Summus Editorial. 2005.
RYABOV, V. A. The study of acoustic signals and the supposed spoken language of the dolphins, St. Petersburg Polytechnical University Journal: Physics and Mathematics, Volume 2, Issue 3, Pages 231-239. 2016. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2405722316301177. Acesso em: 14/04/2020.
SILVA, T. C. Mamíferos do Brasil. Disponível em: https://mamiferosmarinhosb.wixsite.com/mamiferos-marinhos. Acesso em: 11/04/2020.
Comentarios