top of page

O coral-sol: um astro invasor

Atualizado: 4 de fev. de 2022

Autores: José Pedro Vieira Arruda Júnior, Nicholas Negreiros, Thais R. Semprebom, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró


Imagem de indivíduos de coral-sol agregados em um substrato no mar. Da esquerda para a direita, há cerca de 80 indivíduos com os pólipos para fora ou não.

O coral-sol é uma espécie exótica invasora que ameaça a biodiversidade marinha brasileira (Ilha da Âncora, Búzios). Fonte: Maraguary/Wikimedia Commons (CC0).



A intensificação do trânsito marítimo, desde as grandes navegações, permitiu que organismos fossem transferidos para áreas que não sejam de sua ocorrência natural. Esses organismos são chamados de espécies exóticas e podem causar grandes problemas ecológicos e econômicos no ambiente em que são encontrados, como é o caso do coral-sol (Tubastraea spp.).



O QUE SABEMOS SOBRE O CORAL-SOL?


Coral-sol é o nome comum para espécies animais do gênero Tubastraea, originários do Indo-Pacífico e que chegaram ao Brasil por volta dos anos 1980, em incrustações de plataformas petrolíferas no Rio de Janeiro. No Brasil, são encontradas duas espécies, T. tagusensis, de cor amarelada, e T. coccinea, de cor alaranjada (entre outras características morfológicas que as distinguem), tanto em ambientes naturais da costa brasileira como também em plataformas petrolíferas, navios e bóias. Esses organismos estão se dispersando na costa do Brasil, mas principalmente nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, e mais recentemente em outras áreas do Nordeste, como Pernambuco e Ceará.



MAS COMO ESSAS ESPÉCIES CONSEGUIRAM SE ESTABELECER NO BRASIL?


Quando uma espécie consegue ser uma boa competidora por espaço, ela pode exercer influência ao longo de uma área e ter vantagem na competição com outros organismos que não sejam de sua espécie (competição interespecífica). Além disso, uma maior área de influência possibilita que a espécie exótica tenha maior disponibilidade de recursos para crescer e se reproduzir. A ausência de predadores naturais também intensifica a área de influência desses organismos. Todas essas características podem favorecer a espécie de tal forma que ela se torne invasora no local.


O coral-sol possui características que o torna um excelente competidor por espaço e por recursos. Por exemplo, não precisa de zooxantelas (microalgas) para realizar fotossíntese e, por isso, não branqueiam como os corais zooxantelados. Além disso, possui altas taxas de reprodução (sexuada e assexuada), principalmente em águas quentes, onde o seu metabolismo é acelerado.


A reprodução desse organismo acontece por meio da dispersão de uma larva pelágica (plânula) que, devido à capacidade de natação e de dispersão, consegue se estabelecer como pólipos em áreas distantes da sua área de liberação. Além disso, esses organismos produzem substâncias químicas que impedem o assentamento (estabelecimento da larva em um substrato) das suas larvas próximas da área de liberação (alelopatia), obrigando essas larvas a buscarem áreas distantes da influência desses compostos químicos. Assim, o coral-sol consegue aumentar a sua área de distribuição no Brasil.



Imagem retratando diferentes fases do ciclo de vida do coral-sol. Na seção (A), região superior esquerda, é evidenciado o coral-sol adulto de cor amarelada e com pólipos para fora. Na seção (B), região superior direita, duas formas de embrião alaranjados são colocadas, a primeira à esquerda com forma circular e com bordas irregulares, e a segunda à direita com forma circular. Na seção(C), região inferior esquerda, duas larvas de coral-sol são evidenciadas, a de baixo tem forma oval, de menor tamanho e cor amarelada, e a de cima é oval, de cor amarelado, de maior tamanho. Na seção (D), larvas maduras e amareladas de coral-sol são evidenciadas, a de cima de maior volume e a de baixo com menor volume e mais achatada.

O coral-sol (A) e seus estágios iniciais de desenvolvimento como embrião (B), larva evidenciando seu poro oral (C) e larva madura (D). Fonte: adaptado de Luz et al. (2020) (CC BY 4.0).



QUAIS SÃO OS PREJUÍZOS ECONÔMICOS E ECOLÓGICOS DA INVASÃO DO CORAL-SOL?


Na Bahia, o coral-sol compete com o coral-cérebro (Mussismilia braziliensis), que é a espécie mais encontrada nos recifes e chapeirões de Abrolhos. Como o primeiro se reproduz e cresce mais rápido, o segundo sucumbe a esse excelente competidor. Assim, as estruturas que conhecemos dos chapeirões nos recifes da Bahia estão ameaçadas. Além disso, esponjas e algas, que também compõem e formam recifes no Brasil, vão sendo sufocadas pelo coral-sol à medida que estes crescem e acabam homogeneizando os recifes.


Dessa forma, a biodiversidade dos recifes brasileiros reduz drasticamente, já que espécies que antes habitavam ali acabam desaparecendo pela falta de recursos e condições para se estabelecer. O coral-sol pode transformar ambientes recifais e afetar negativamente atividades econômicas, como a pesca local e o ecoturismo subaquático.



O QUE PODE SER FEITO PARA CONTROLAR AS POPULAÇÕES DE CORAL-SOL NO BRASIL?


É importante sempre que haja a união da sociedade, da academia e de instituições públicas e privadas na luta contra espécies exóticas para a construção de um plano de ação adequado à realidade de cada região.


O plano de ação segue protocolos compostos pelo diagnóstico e monitoramento, onde são conhecidas as características biológicas e ecológicas desses organismos, além de sua distribuição no Brasil. Depois, são compiladas formas de controle e manejo que já existem, juntamente com projetos desenvolvidos pelo Poder Público e Privado no Brasil:


  • Controle químico, com substâncias específicas para as espécies e não cumulativas, ou seja, que não se acumulam nos organismos marinhos.

  • Controle físico, com a remoção mecânica.

  • Controle biológico, que acontecem por meio da introdução de parasitos específicos da espécie, predadores e/ou melhores competidores. No entanto, esse controle não é tão bem aceito, pois pode introduzir outras espécies exóticas.

  • Financiamento de pesquisas em Universidades Públicas e Instituições Privadas para desenvolvimento de planos de ações para o manejo do coral-sol em diversas regiões do país e para a sensibilização e educação ambiental em comunidades tradicionais que estão sendo afetadas negativamente pela presença do coral (ex.: Projeto Coral Sol e outros projetos desenvolvidos).


Imagem de dois mergulhadores em uma embarcação.Ao fundo, o continente indica ser um ambiente costeiro. A embarcação parece ser de grande porte.

O mergulho é a principal forma de acesso às colônias de coral-sol para sua remoção (Mergulhadores Felinto Perry, Dezembro de 2013) Fonte: Marinha do Brasil/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0)



Assim, embora as espécies de coral-sol causem problemas ecológicos e econômicos na costa brasileira, existem diversas instituições que atuam no controle e manejo dessas espécies em conjunto para que possamos suprimir essa invasão, principalmente em áreas marinhas protegidas que são centros da biodiversidade marinha brasileira.




Escute este artigo também pelo nosso Podcast. Clique aqui!




Bibliografia


Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA). Controle e monitoramento Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-Sol (Tubastraea spp.) no Brasil, 2018. E-book. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/esectamoios/images/stories/2019-08-02-Plano-Nacional-de-Prevencao-Controle-e-Monitoramento-do-Coral-sol-Tubastraea-spp-no-Brasil.pdf. Acesso em: 20 Jun. 2020.


LUZ, B. L. P et al. Life‐history traits of Tubastraea coccinea: Reproduction, development, and larval competence. Ecology and Evolution, v. 10, p. 6223–6238, 2020. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1002/ece3.6346. Acesso em: 20 Jun. 2020.


MIRANDA, R. J. et al. Coral invasor Tubastraea spp. em recifes de corais e substratos artificiais na Baía de Todos os Santos (BA). 2012. Trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Oceanografia, Associação Brasileira de Oceanografia, 2012, Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/285839929_Coral_invasor_Tubastraea_spp_em_recifes_de_corais_e_substratos_artificiais_na_Baia_de_Todos_os_Santos_BA. Acesso em: 20 Jun. 2020.


OIGMAN-PSZCZOL, S. et al. O controle da invasão do coral-sol no Brasil não é uma causa perdida. Ciência e Cultura, v. 69, n. 1, p. 56-59, 2017. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252017000100019. Acesso em: 20 Jun. 2020.


OLIVEIRA, A. C. B. O invasor coral sol e mudanças climáticas: efeitos da temperatura na dispersão pelágica e competição interespecífica. 2012. Tese (Doutorado em Biologia Comparada) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2012. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59139/tde-18022020-222423/pt-br.ph. Acesso em: 20 Jun. 2020

4.038 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Faça parte!

Contribua com o Projeto Bióicos para a continuidade de nossas produções voluntárias, como: Revista, Poscast, Youtube e Instagram

Participe da vaquinha virtual via PIX

Chave Pix CNPJ: 29.093.477/0001-40
Responsável: prof. Dr. Douglas F. Peiró

Assine a lista e receba as novidades!

Obrigado pelo envio! Verifique seu e-mail e marque-nos como contato seguro!

bottom of page