1 de mai de 20205 min
Atualizado: 6 de mai de 2022
Autores: Fernanda Cabral Jeronimo, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
O hábito de retirar conchas da praia é comum e pode ser prejudicial ao ecossistema marinho. Fonte: Julia Roman/Pixabay (CC0)
Como não pensar em conchas quando se fala de praia? Como não se encantar com as diversas formas e cores que possuem? Querer levar um pedacinho de um lugar para casa pode parecer uma boa lembrança, porém traz consequências a longo prazo para o ecossistema.
QUAL A IMPORTÂNCIA DAS CONCHAS E DO QUE SÃO FEITAS?
As conchas estão presentes na maioria dos moluscos marinhos externamente, como nas ostras, ou internamente, como nas lulas; e possuem a função de sustentar e proteger esses animais, que possuem o corpo mole.
Tomaremos como exemplo o mexilhão Mytilus edulis. Desde a fase larval até a fase adulta, a alimentação permite ao organismo retirar do mar substâncias essenciais para sua formação e desenvolvimento. Uma dessas importantes substâncias é o carbonato de cálcio que, ao ser gradativamente secretado e liberado pelo manto (tecido epidérmico), forma a concha do mexilhão.
Esquema mostrando a anatomia do mexilhão. Fonte: adaptado de OpenClipart-Vectors/Pixabay (CC0)
Com a morte de animais como o mexilhão, sua concha se deposita no fundo do mar é decomposta por alguns microrganismos e progressivamente degradada, disponibilizando novamente o cálcio no meio ambiente para ser utilizado por outros animais ou formações calcárias, e até mesmo compor parte do sedimento das praias.
Essa sequência é chamada de ciclo do cálcio, um ciclo biogeoquímico de extrema importância aos ecossistemas, pois possibilita a reciclagem de elementos químicos no meio ambiente.
A CONSEQUÊNCIA DA RETIRADA DE CONCHAS
Mesmo após a morte do animal, as conchas ainda podem ser facilmente encontradas na praia de forma íntegra. Isso acontece porque o carbonato de cálcio confere rigidez e resistência à estrutura, podendo preservar suas formas e cores, que chamam a atenção principalmente dos turistas. Muitas vezes, os visitantes optam por levar o material como forma de lembrança, seja in natura ou em artesanatos. No entanto, a retirada em grande escala pode gerar grandes impactos ao ambiente marinho que é especialmente sensível, como a queda da disponibilidade de cálcio. Essa alteração impacta até mesmo os moluscos que não fabricam as próprias conchas.
As muitas espécies de ermitões, crustáceos pertencentes à Ordem Decapoda, utilizam conchas desocupadas de gastrópodes para se proteger, criando para si um microambiente úmido. Conforme seu crescimento, a concha ocupada torna-se pequena demais para abrigar o ermitão, exigindo que seja substituída por uma concha maior.
Se não há conchas disponíveis no ambiente, essa troca não será possível, o que deixa o animal vulnerável em seu próprio habitat, ameaçando sua sobrevivência. Dessa forma, aumentam as disputas entre as espécies por abrigos calcários e isso pode ter um alto custo, como exemplificado na imagem abaixo, onde um ermitão depende da interação com o lixo para se abrigar, utilizando uma lata de metal no lugar da concha.
Caranguejo ermitão terrestre Coenobita brevimanus utilizando uma lata para se abrigar. Fonte: Naturalselections/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0)
A CONSEQUÊNCIA DO EXCESSO NÃO NATURAL DE CONCHAS
Tratando-se de conchas e reciclagem de nutrientes, não só a diminuição do estoque calcário causa impactos ecossistêmicos. Em circunstâncias específicas, como na maricultura, o descarte excessivo de conchas também causa sérios danos ambientais.
O cultivo de organismos marinhos, ou maricultura, é uma atividade amplamente praticada no Brasil. Nossos ricos litorais possibilitam o cultivo em larga escala em fazendas marinhas, importante para gerar rendas principais ou alternativas, assim como alimentação para a comunidade local.
O estado de Santa Catarina é um dos maiores produtores de ostras e mariscos do Brasil, responsável por 95% da produção nacional. Tamanha atividade gera uma grande quantidade de resíduos, que são descartados massivamente e de forma não natural na etapa de limpeza dos organismos para a venda ou posterior ao consumo, como as conchas.
Cultivo de ostras durante a maré baixa. Fonte: 1957725/Pixabay (CC0)
A consequência do descarte inadequado de toneladas de conchas nas praias é a eutrofização, que consiste no grande aporte de substâncias orgânicas nas águas. Esse excesso de cálcio despejado no ambiente não é absorvido de forma natural e causa o assoreamento, que é o acúmulo de sedimentos no ambiente marinho. Tamanhos impactos alteram profundamente a qualidade da água e prejudicam o funcionamento de todo o ecossistema.
ENTÃO, QUAL A MELHOR FORMA DE LEVAR RECORDAÇÕES DO AMBIENTE E PRESERVÁ-LO AO MESMO TEMPO?
Levando em conta a origem antrópica desses impactos, a educação ambiental torna-se uma das principais ferramentas para a conscientização da população e resolução de problemas ambientais. A troca de informações e a adoção de ações conscientes permitem que os seres humanos desenvolvam ideias e práticas para uma convivência harmônica e sustentável com o meio ambiente. Como, por exemplo, não retirar as conchas da praia ou destinar para a reciclagem os resíduos oriundos do cultivo de ostras, que serão utilizados na fabricação de ração animal, correção de acidez do solo e na indústria farmacêutica.
Pequenas ações geram grandes resultados. Apenas admirar o ambiente como ele é também é uma forma de preservá-lo! Afinal, as fotografias e vídeos têm o poder de eternizar momentos e também são lindas formas de lembranças.
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