1 de nov de 20233 min

Biopigmentos marinhos: a diversidade de cores do oceano

Autores: Juliana De Lucca, Filipe G. R. C. Neves, Raphaela A. Duarte Silveira e Douglas F. Peiró

A diversidade de cores nos recifes de corais apresentam-se como uma obra de arte. Fonte: Jan-Mallander/Pixabay.

Biopigmentos, também chamados de pigmentos biológicos ou biocromos, são substâncias orgânicas produzidas de forma natural pelos organismos vivos e que apresentam algum tipo de coloração. Alguns dos exemplos mais comuns são a clorofila, que determina tons esverdeados, e os carotenóides, de tons alaranjados.

De um modo geral, organismos vivos se beneficiam destas substâncias para realizar a fotossíntese, para se camuflar, para defesa ou ainda para atrair um parceiro durante o período reprodutivo. Já quanto a utilização destas substâncias para uso humano, muitas delas são aplicadas nas indústrias de alimentos e bebidas, de cosméticos e de produtos farmacêuticos.

No mar, os biopigmentos se apresentam das mais variadas cores e são encontrados em muitas espécies, desde as pequenas cianobactérias até os grandes peixes. Aqui vamos apresentar alguns casos e suas particularidades.

ALGAS COLORIDAS

A presença de pigmentos nas algas é algo tão importante que é utilizado como critério de classificação das mesmas. Clorofíceas (algas verdes), feofíceas (algas pardas) e rodofíceas (algas vermelhas) são alguns dos grandes grupos. Esses pigmentos são em sua maioria fotossintetizantes, tendo a função nas algas de produção de energia química e de liberação de parte do oxigênio que vai para a atmosfera.

Percebam o colorido da foto que abre este artigo! Grande parte dele são as zooxantelas, algas unicelulares fotossintetizantes que habitam os corais, fornecendo cor e nutrientes a eles.

Infelizmente, situações de estresse ambiental, como aumento de temperatura do oceano e a acidificação das águas, destroem os pigmentos das zooxantelas ou elas são expulsas dos corais. É daí que se origina o branqueamento de corais, fenômeno que tem preocupado os cientistas do mundo todo, uma vez que causa o enfraquecimento e morte dos mesmos, principalmente pela falta de nutrientes.

Branqueamento de corais (primeiro plano) em comparação a coloração padrão da espécie (ao fundo). Fonte: Acropora/Wikimedia Commons (CC BY 3.0).

OS PIGMENTOS DOS MOLUSCOS

Um dos primeiros pigmentos utilizados pelo homem para tingir tecidos é proveniente de um molusco. O pigmento de cor violeta, chamado púrpura de tíria, é produzido por caramujos marinhos do gênero Murex, oriundos do Mar Mediterrâneo. O pigmento é extremamente raro e valioso.

Tecidos tingidos a partir de diferentes espécies de caracol marinho, exibidos no Museu de História Natural de Viena, Áustria. Fonte: U.Name.Me/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0).

O polvo e a lula, moluscos cefalópodes, são famosos por sua tinta escura, chamada de sépia, utilizada pelos animais como mecanismo de defesa. Quando se sentem ameaçados, eles liberam a tinta negra na água. A água fica turva, confundindo os predadores e auxiliando na fuga da presa. Essa tinta, cujo pigmento principal é a melanina (mesmo pigmento que dá cor à nossa pele), é rica em nutrientes e utilizada principalmente na indústria alimentícia e em cosméticos.

O polvo também apresenta a incrível habilidade de se camuflar. Isso só é possível devido a presença dos biopigmentos. Este complexo mecanismo é auxiliado pelos cromatóforos, que são células capazes de sintetizar e armazenar pigmentos de diferentes cores.

Camuflagem realizada pelo polvo com o auxílio de seus pigmentos. Fonte: MartinStr/Pixabay.

A COLORAÇÃO DOS CRUSTÁCEOS

A maioria dos crustáceos apresenta pigmentos chamados carotenoides, que lhes confere as cores amarela, laranja e vermelha.

Estes pigmentos podem ser transportados através da cadeia alimentar. Por exemplo, os caranguejos chama-maré, Uca sp., são alimento e também os responsáveis pela cor vermelha dos guarás Eudocimus ruber, espécie de ave típica dos manguezais. A ave se alimenta do caranguejo e os carotenos absorvidos vão se acumulando, resultando na cor vermelha característica das penas da ave.

Para os seres humanos, os carotenos são muito benéficos para a saúde e bastante utilizados na indústria, especialmente alimentícia. Os camarões e caranguejos, por exemplo, são uma ótima fonte de carotenóides.

Caranguejo com sua tonalidade laranja marcante devido à presença de carotenos. Fonte: WikiImages/Pixabay.

A diversidade de cores no ambiente marinho se dá devido aos biopigmentos, das mais variadas cores e tons, presentes em grande parte das espécies marinhas.

Estas substâncias cumprem uma função vital para aqueles que as produzem e ainda podem beneficiar outras espécies, incluindo os seres humanos, sempre lembrando da importância do uso sustentável dos recursos, de forma que as espécies e o equilíbrio das comunidades marinhas sejam sempre conservados.

Bibliografia

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