15 de fev de 20195 min
Atualizado: 3 de set de 2021
Autores: Yonara Garcia Borges Felipe, Mariana P. Haueisen, Raphaela A. Duarte Silveira, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró
Você já reparou que algumas praias no litoral brasileiro possuem bandeiras vermelhas ou verdes indicando sua balneabilidade? Leia o artigo e informe-se como o despejo do esgoto no mar pode trazer importantes problemas para a saúde pública e para o ambiente marinho.
A imagem mostra o oceano através de uma tubulação de esgoto. Fonte: Free-Photos/Pixabay (Domínio Público).
O despejo de esgotos sanitários no mar é um dos tipos de poluição aquática mais comuns em ambientes costeiros. Provenientes da água utilizada em residências, unidades comerciais e industriais, o esgoto sanitário é composto por aproximadamente 90% de água, acrescido de nutrientes (carbono orgânico total; séries nitrogenadas, principalmente na forma de amônia; fósforo, principalmente provenientes do uso de detergentes; entre outros), sólidos totais e diversos contaminantes como metais, hidrocarbonetos, pesticidas e outras substâncias potencialmente tóxicas. Além disso, o esgoto normalmente contém uma grande quantidade de microrganismos patógenos e não patógenos, como bactérias, vírus e fungos.
IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS
Os compostos presentes no esgoto podem afetar de forma direta ou indireta o meio ambiente, gerando problemas ecológicos e sanitários para regiões costeiras. Dentre os possíveis impactos que estes componentes podem causar no ambiente marinho, vale ressaltar o enriquecimento das águas por nutrientes, principalmente o nitrogênio e fósforo, o que pode resultar num processo chamado de eutrofização. Este processo é caracterizado pelo crescimento excessivo de microalgas devido à maior disponibilidade de um ou mais fatores limitantes do crescimento fundamentais para a fotossíntese, como luz e nutrientes.
Dentre os problemas que a eutrofização pode causar podemos citar um fenômeno denominado "maré vermelha". Esse termo popular surgiu devido à coloração avermelhada que a floração de certas microalgas produz na água. Esse fenômeno pode trazer sérias consequências, como em 2016 no Chile, onde este fenômeno provocou a morte de milhares de animais de diferentes espécies marinhas, tendo reflexo em diversos setores, principalmente nos setores pesqueiros e aquícolas. Outro exemplo ocorreu em 2007 na baía de Todos os Santos (BA), onde a floração da microalga Gymnodinium sanguineum resultou na morte de 50 toneladas de peixes e mariscos, fazendo com que a pesca fosse proibida até que o meio voltasse para condições adequadas, ou seja, que não oferecesse mais risco para a população.
A imagem à esquerda retrata o fenômeno maré vermelha que ocorreu em La Jolla, Califórnia (EUA), em 2005. A imagem à direita mostra a mortalidade de peixes devido a um episódio de maré vermelha no Golfo do México. Fonte: adaptado de Alejandro Díaz/ Wikimedia Commons (CC). Judy Baxter/Flickr (CC BY-NC-SA 2.0), respectivamente.
Outro impacto gerado pelo lançamento de efluentes é a contaminação microbiológica, principalmente de origem fecal, que traz consequentes riscos para a saúde pública. Estes microrganismos podem acarretar uma série de doenças no ser humano como hepatite, disenterias, cólera e dermatoses.
COMO MINIMIZAR O IMPACTO?
Existem diversos outros impactos que o despejo do esgoto no mar pode gerar e todos eles levam à inviabilização de alguns usos dessas águas como a utilização por banhistas, atividades pesqueiras, entre outros, afetando também a preservação do equilíbrio ecológico nas regiões costeiras. A melhor solução para todos esses problemas é o investimento em saneamento básico, ou seja, tratamento adequado dos esgotos gerados pelos municípios costeiros.
Uma alternativa que tem sido adotada para disposição dos esgotos sanitários é a utilização de emissários submarinos, que são, basicamente, tubulações assentadas no fundo marinho, que transportam esses efluentes e lançam todo o esgoto em alto mar. O objetivo é descarregar os esgotos a uma distância considerável das praias, de forma que a movimentação da água auxilie na dispersão e não altere as condições das águas costeiras. O esgoto transportado por esses emissários, preferencialmente, deve passar por tratamento antes de ser lançado no mar. Entretanto, esta não é uma prática realizada por todos emissários municipais, o que pode gerar grandes prejuízos ao ambiente marinho, apesar de trazer benefícios para a qualidade das praias.
Emissário submarino. Na imagem é possível observar as tubulações assentadas no fundo marinho, que transportam os efluentes e lançam todo o esgoto em alto mar. Fonte: David/Flickr (CC BY-NC-SA 2.0).
Outra alternativa utilizada pelos órgãos públicos para proteger a saúde da população é a avaliação periódica da qualidade de certas praias (principalmente as mais frequentadas) para verificar sua balneabilidade, ou seja, se está própria ou não para o uso dos banhistas. Estas avaliações são realizadas de acordo com a resolução CONAMA nº 274/2000, onde é regulamentada a concentração aceitável de microrganismos indicadores de contaminação fecal, a fim de não oferecer risco para as pessoas.
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) possui um programa de monitoramento das praias do litoral paulista, que se iniciou na década de 1970 e, atualmente, avalia a balneabilidade em 174 pontos. Sete deles se localizam no Parque Estadual da Ilha Anchieta e os demais se distribuem em 150 praias das cerca de 300 existentes ao longo da costa paulista. O resultado das análises é publicado semanalmente em um boletim, o qual é divulgado para a imprensa e para diversos órgãos e entidades. Além disso, as bandeiras vermelhas e verdes, que indicam se a praia é imprópria ou própria, respectivamente, são atualizadas semanalmente, a partir da emissão do boletim. Verifique a balneabilidade da praia que você deseja clicando aqui.
Bandeira de balneabilidade. A imagem mostra a bandeira verde na praia do Itaguá, Ubatuba, São Paulo, indicando que a praia estava própria para banhista na semana do registro. Foto: Yonara Garcia ©.
Em janeiro de 2019, a partir das análises da CETESB, 30 das 97 praias do litoral norte de São Paulo estavam impróprias para os banhistas. Isso ocorre, principalmente, pelo número elevado de turistas que visitam o litoral nesta época do ano, refletindo no aumento do despejo do esgoto lançado ao mar.
Para que haja uma mudança nesse quadro, é necessário dar uma maior importância ao despejo do esgoto no mar. Essa prática pode trazer sérias consequências a longo prazo, principalmente o efluente que é lançado sem nenhum tratamento prévio. É de extrema importância que haja sistemas de tratamento de todo o esgoto antes de seu lançamento em alto mar. Além disso, estas regiões devem estar sob monitoramento e estudo contínuos, a fim de assegurar a manutenção da qualidade da água, bem como minimizar os efeitos da poluição e, assim, garantir a conservação do ambiente marinho.
E você, que medidas individuais você acha que podem ser feitas para diminuir a poluição das águas costeiras? Deixe seu comentário!
Bibliografia
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