20 de jun de 20213 min

Restinga: a vegetação do litoral

Atualizado: 6 de mai de 2022

Autores: Luane Rodrigues, Mariana P. Haueisen, Thais R. Semprebom e Douglas F. Peiró

Restinga no Morro de Itapirubá - SC, com a presença da vegetação herbácea e arbustiva. Fonte: Luane Rodrigues, 2019 ©.

Você já ouviu falar sobre restinga ou jundu? Esses nomes podem soar familiares para algumas pessoas, principalmente em áreas litorâneas, mas nem todo mundo conhece as particularidades dessa vegetação.

A restinga é uma vegetação composta por plantas herbáceas, arbustivas e arbóreas, típica de regiões litorâneas arenosas, salinas e que sofrem interferências marinhas. O substrato é formado pela planície costeira, cuja composição pode diferenciar com variações na elevação do mar, por mudanças no período Quaternário, e também pelas ações de correntes marítimas próximas à costa.

Perfil da vegetação da restinga. Fonte: Luane Rodrigues, 2019 ©

VEGETAÇÃO DA RESTINGA

Na restinga, pode-se encontrar diferentes conjuntos de comunidades vegetais distribuídas de forma não-homogênea, já que a ocorrência varia conforme as diferentes características do solo. É uma área com grande abundância vegetal, com comunidades edáficas, ou seja, que dependem mais das propriedades do substrato do que do clima.

Os estágios sucessionais ocorrem lentamente, dado que o substrato não é favorável no estabelecimento inicial das plantas pela carência de nutrientes. Com isso, a substituição da vegetação é tardia, isso significa que as espécies variam de formações herbáceas, arbustivas e arbóreas, fechadas ou abertas, podendo haver florestas com a altura do dossel (porção aérea da planta) variada, porém não superam os 20 metros.

Formações herbáceas:

As espécies herbáceas ocorrem na faixa de praia e em frente às dunas. São eventualmente atingidas por marés mais altas, borrifos de água salgada ou depressões alagáveis.

Vegetação herbácea. Fonte: barnyz/Flickr (CC BY-NC-ND 2.0).

Formações arbustivas:

Arbustos tortuosos constituem essas formações, com proximidade das copas formando um visual denso. São as que mais chamam a atenção pela aparência peculiar: com arbustos ligados a trepadeiras, cactos e moitas de tamanho e altura variável, além de espaços de areia desnuda.

Vegetação arbustiva com a presença de cactos no morro de Itapirubá Sul - SC. Fonte: Luane Rodrigues, 2018 © .

Formações arbóreas:

A floresta baixa é a primeira formação após a restinga arbustiva. Dependendo da extensão da planície litorânea, pode ocorrer a floresta de restinga alta sobre os cordões arenosos e solos mais secos, com a presença de espécies como palmito-juçara (Euterpe edulis) e pinta-moça (Ternstroemia brasiliensis). Pode também haver a formação de florestas paludosas em terrenos propensos a alagamentos.

Formação florestal em Bertioga-SP. Fonte: Miguelrangeljr/Wikimedia Commons (CC BY 3.0)

FAUNA

A fauna da restinga é diversificada, com a presença de aves migratórias, como a coruja-buraqueira (Athene cunicularia), papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis) e formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis), essa última é uma ave endêmica da área da restinga. Os mamíferos que podem ser encontrados são o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) e a lontra (Lontra longicaudis). Além disso, essa região pode ser utilizada como habitat de caranguejos.

(A) Falcão-de-coleira Falco femoralis (Temminck, 1822), (B) Caranguejo Maria Farinha Ocypode sp. (Webber, 1795), (C) Mico-leão-da-cara-preta Leontopithecus caissara (Lorini & Persson, 1990) e (D) Formigueiro-do-litoral Formicivora littoralis (Gonzaga & Pacheco, 1990). Fonte: (A) Flickr/Moisés Silva Lima (CC BY 2.0), (B) Ricardo Andrade Veras/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0), (C) Daisyree Bakker/Wikimedia Commons (CC BY 2.0), (D) Brendan Ryan/Flickr (CC BY-NC-SA 2.0).

IMPORTÂNCIA E CONSERVAÇÃO DA RESTINGA

Por sua localização geográfica, as restingas têm suas ações de conservação divididas pelo conflito direto com os seres humanos, devido ao uso e ocupação do solo. Como as principais ameaças à restinga, temos o aumento da população urbana, caça ilegal de animais silvestres, destruição da flora, rodovias com tráfego, queimadas e presença de espécies exóticas. Esses problemas afetam o desenvolvimento da vegetação e a dinâmica do ambiente, além de impedir o corredor ecológico, causando um possível isolamento genético. É protegida por lei, por sua fragilidade e pelas diferentes pressões que sofre, principalmente de origem antrópica.

É importante que esses ambientes sejam conservados para evitar a perda da biodiversidade e a invasão do oceano no ambiente costeiro. Uma vez que a vegetação da restinga possui um papel físico-ambiental significativo, por formar uma barreira para conter a ressaca do mar, as erosões das praias e das dunas. Além disso, é um ecossistema de enorme importância por abrigar espécies ameaçadas de extinção e ter ocorrência de plantas medicinais ou para consumo.

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Bibliografia

CONAMA. Nº 303. [S. l.], 20 mar. 2002. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=299. Acesso em: 27 mai. 2020.

HENRIQUES, R. P. B.; ARAÚJO, D. S. D. & HAY, J. D. Descrição e classificação dos tipos de vegetação da restinga de Carapebus, Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Botânica, v. 9, p. 173-189, 1986.

MANTOVANI, W. A degradação dos biomas brasileiros. In: Ribeiro, W. C. (Org.). Patrimônio Ambiental Brasileiro. Uspiana: Brasil 500 anos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,2013.

SUGUIO, K. & TESSLER, M. G. Planícies de cordões litorâneos do Brasil: origem e nomenclatura. In: Lacerda, L. D. de et al. (orgs.). Restingas: origem, estruturas e processos. Niterói, CEUFF. p. 195-216, 1984.

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